Febre amarela * Em 1903, terminada a desastrosa epidemia de febre amarela, a sociedade italiana construiu um monumento de pedra, no cemitério municipal, em homenagem às vítimas do flagelo. O jornal O Rio Pardo comentou a romaria: "No Dia de Finados (2-11-1903), realizou-se a romaria organizada pelas Sociedades Italianas Reunidas em homenagem às vítimas da febre amarela. Às 10 horas, reuniram-se no largo da matriz grande massa popular e corporações com seus estandartes: Sociedades Italianas Reunidas, Filhos do Trabalho, Primeiro de Maio e Austro-Húngara, de São José, e Nuova Italia e Circolo Socialista, de Mococa. Eram mais de quinhentas pessoas, que formaram o préstito em direção ao Cemitério, acompanhado pelas bandas Giuseppe Garibaldi, Giuseppe Verdi, Riopardense e Filarmônica Mocoquense. Nos fundos do Cemitério, onde se acha erguido simbólico monumento comemorativo às vítimas da febre amarela, fizeram-se ouvir discursos e as bandas".
A epidemia de febre amarela em São José foi catastrófica. Li tudo o que se publicou sobre ela e escrevi muitos artigos e um trabalho publicado na Revista Logos 1996, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São José do Rio Pardo. Os seis primeiros meses de 1903 foram trágicos, principalmente fevereiro e março. Em agosto, o jornal O Rio Pardo publicava dados oficiais sobre a epidemia: 118 mortos, 517 doentes tratados no Hospital de Isolamento (Lazareto) e 48 tratados em casa. Mas é quase certeza que outra centena se tratou, ocultamente, em casa, temerosa de ser levada ao Lazareto... Muitos mortos foram levados, apressadamente, ao fundo do cemitério, com ou sem caixão, muitos ainda com vida, como diziam os antigos, sem receber os últimos sacramentos, nem passar pela igreja, e jogados na vala comum, fugindo às estatísticas... No Cartório de Registro Civil, acordei adormecidos e pesados livros de óbitos de 1902 e 1903. Encontrei o primeiro óbito da febre, ocorrido dia 1º de janeiro de 1903: José Rodrigues de Araújo, comerciante. O segundo foi de Girolama Lamana Trovatto, dia 5. O terceiro, Francisco Riga, dia 6. O alferes José Faria Pinto morreu dia 7. E dia 7, morreu, também, Rodolfo Del Guerra... E, assim, anotei os registros de 115 óbitos de febre amarela: nome, idade, dia e local da morte e o nome do médico que assinou o atestado. Muitos, mais da metade, eram italianos: Nazelli, Juliani, Cechini, Rossi, Venturini, Lastini, Lamberte, Cechini, Grecco, Rossini, Hipolito, Vannucci, Parisia, Destro, Brocadello, Protalli, Volota, Ferranti, Consentino, Sesolli, Del Ciampo, Galliatti, Girardi, Lauradia, Cherigni, Maida, Visconda, Jarleta, Butti, Ticola, Barra, Stevano, Galleazo, Bertocco, Garigliano, Riberti, Mathias, Fiorese, Gracie, Favoretto, Zanetti, etc. (Leia sobre o assunto as crônicas: "Dia Triste", "Figlio mio!...", "Penúria", "Vidas Truncadas").
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