Penúria Fevereiro de 1903 ia pela metade. A cidade parecia vazia: mais da metade de seus habitantes, com posses, fugiram O estado de penúria da população, da sempre próspera São José, era assustador. Agora eram dois os inimigos: a febre e a fome. As famílias que ficaram lutavam contra ambas. Ninguém mais teve crédito para comprar a prazo. E o desespero levou muitos ao saque. As casas ricas abandonadas e fechadas eram arrombadas e saqueadas. E muitos, sempre honestos moradores, foram presos. Quando o italiano Michele, um honesto e conhecido funcionário da fábrica de licores Rondina Caproni & Cia., com mulher e cinco filhos, foi preso, surpreendido por seis praças roubando víveres do armazém do português Joaquim, os munícipes e autoridades se condoeram. O delegado Urias, o farmacêutico Tarqüínio, o secretário José Honório, o tabelião Manoel Pacheco ficaram nos seus postos e formaram uma "Comissão de Socorro". Era preciso salvar vidas. Era preciso lutar para preservar o respeito e a dignidade do homem... Mas já era tarde para o tresloucado Leonardo, um escultor italiano, que perdera mulher e dois filhos, levados pela febre amarela, ficando com o caçula Giotto, de um ano. No dia em que se formou a Comissão de Socorro, incendiou a casa, agarrou-se ao pequeno Giotto, que chorava de fome, e ficou no meio das labaredas, gritando ao filho que ele teria novamente o peito da mãe e não mais passaria fome, e que todos se reuniriam novamente...
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