Figlio Miol ... Figlio Miol

E outra tarde caía.

Atílio acercou-se da mãe sentada, com os olhos no infinito. Estava indisposto. Colocou a cabeça no seu regaço. Os três menores brincavam. Massimina afagou-lhe a cabeça loura. Sentiu um calor estranho nas mãos. Assustou-se.

— Mamma, a cabeça me dói!...

— Vergine Maria!... Madonna mia!... Non abbandona la gente!... Ele è molto pequeno!... Eu preciso dele, Dio mio!... Madonna mia di Monte Nero! Proteggilo!... Seria muita dor per noi! – balbuciava a mãe apavorada, embalando o filho.

O menino tinha febre alta. A dor da véspera estava muito presente e os sintomas do pai se repetiam em Atílio.

— Assuntina! Corre! Va chiamare il dottore Aquino!

Minutos depois, o médico já medicava o menino, no colo da mãe. Ela não queria colocá-lo na cama. Dava-lhe o seu calor e o seu carinho.

Madrugada. O médico ainda estava ao lado da criança acalentada, já inconsciente, quando a primeira golfada preta foi amparada pela toalha, que lhe limpava o suor e lhe esfriava a fronte.

Os três menores dormiam. A lamparina a querosene os iluminava tenuemente. Trovejava. A luz opaca da manhã já entrava na casa. Atílio morria.

Massimina ouviu a carroça do serviço sanitário parar à porta. Entraram os mesmos médicos, ajudantes e o carroceiro italiano. Queriam levar a criança moribunda, novamente alertando a mãe do grande perigo... Ela agarrou-se ao filho, embalando-o.

— Nò!... Ele é um bambino!... Um bambino!... Lascialo morire no calor do corpo mio que l’ha fatto... É um bambino, Dio mio!... Mio bambino...

Quando se aproximaram para arrebatá-lo, ela o apertou mais, gritando desesperadamente. As outras três crianças chegaram sonolentas e na mãe se agarraram, chorando também.

As convulsões se intensificaram. Ela o embalava mais e mais, levando-o ao sono eterno. E tudo cessou com a inércia trazida pela morte... Massimina não teve mais forças para chorar, gritar, maldizer o destino cruel. Apenas implorou que o enterrasse no segundo caixão que Rodolfo fizera... No lençol, não...

O carroceiro e as três crianças foram buscar a urna.

Chovia, ela saiu atrás do caixão acompanhando o filho morto, cobrindo-o com seu avental.

— Piove, figlio mio!... A carroça não tem coberta!... Piove, caro!...

Os ajudantes interromperam seu difícil caminhar, na primeira esquina.

Estática, sem lágrimas, ela balbuciava:

— Figlio mio! Figlio mio!... Va con tuo papa!... Anch’io vorrei andare... Anch’io!.. Anch’io vorrei andare!...

O carroceiro chorava.

A chuva caía copiosamente. Massimina, sem lágrimas, sem forças, acenava, até que a carroça desapareceu na curva da rua barrenta.

À tarde, a chuva parou.

Voltaram o médico e os funcionários.

Massimina, sentada num degrau da cozinha, com as mãos enroladas no avental, acariciada pelos três pequenos, assistia, passivamente, indiferente, o queimar de todos os objetos da casa. E a fogueira teve labaredas altas, que ultrapassaram o muro, alimentada pela palha dos colchões, pelos móveis, pelas roupas, pelos papéis...

Nada restou à desditosa Massimina e aos três filhos.

Três dias de desgraças sucessivas mudaram o ritmo de uma vida familiar difícil, mas feliz.

 

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