Notícias poucas e lacônicas
As notícias da chegada e dos feitos de imigrantes italianos em São José, no final do século XIX e início do XX, são poucas e lacônicas. O jornalzinho O Mosquito, número 2, de 28 de novembro de 1887, assim comenta o fato: "Imigrantes. / Chegaram dia 23 do corrente, com destino à fazenda do nosso amigo Tenente Coronel Antônio Marçal Nogueira de Barros, 28 imigrantes italianos". O Almanaque de São José do Rio Pardo, de 1887, registra: "Sociedade Italiana / Os imigrantes italianos continuam a chegar; a maior parte das famílias destina-se à lavoura, mas muitos italianos estabeleceram-se na Vila com artesanato, oficinas e pequenos negócios e já se integram à comunidade rio-pardense. / A Sociedade de Mútuo Socorro XX de Setembro, fundada por 50 sócios, tem por finalidade proteger os interesses dos colonos residentes e incentivar, na Itália, a vinda de mais imigrantes; mantém uma programação social e cultural, aceitando, também, associados brasileiros. / A sua diretoria está assim constituída: presidente: Francisco Antônio Paolielo; 1º secretário: João Del Guerra; 2º secretário: Rodolfo Del Guerra; secretário para a língua portuguesa: Adolfo Paolielo.".
Sócios da Società di Mutuo Soccorso 20 Settembre, diante da primeira sede, ainda sem reboco. Estão identificados: com a faixa, no centro, o presidente Michele Santoro, estando à sua esquerda Vittorio Marim. Na primeira fila, em pé, com faixa, à direita, é Bruno Catalano, sendo Paschoal Ceravolo o terceiro sentado à sua direita. Rodolfo Del Guerra é o primeiro à esquerda da última fileira. Muitos nomes estão no verso da foto, escritos a lápis, quase se apagando, mas não identificados: "Breviglieri, Destro, Fogliero, Pardini, Aggio, Vergilio, Molfi, Giuliani, Primieri, Alegretti, Ranieri, Gigli, Macca, Dal Moro, Delia, Sandri, Fraternalli, Spinelli, Lacorazza, Dal Bello, Perrella, Scarano, Mauro, Sisto.
Sobre a finalidade de "incentivar, na Itália, a vinda de mais imigrantes", temos a história do italiano Augusto Tiezzi que, depois de vender seu "armazém da Fazenda da Serra", comprou um pedaço de terra no caminho da Tubaca: o Sítio da Laje, adquirindo, mais tarde, terras de café, além do pontilhão da Mojiana. Entusiasmado com o Brasil, Augusto voltou à Itália, trazendo consigo cinco famílias de amigos, que com ele trabalharam na roça. Entre as cinco, vieram as famílias Mazzer, a do primo Salvadori e a Batistella. Tiezzi montou o "Alambique da Laje", que forneceu muito aguardente para toda a região, muitas vezes entregue em carro de boi. Nos anos 20, o "Sítio da Laje" foi vendido ao primo Salvadori. Os Tiezzis foram morar no Bairro Euclides da Cunha (hoje, Santo Antônio), aplicando parte do seu capital em imóveis. (Leia "O italiano aliciador", no capítulo "Crônicas do autor)
1915. Família Tiezzi. Da esquerda para a direita. Amélia, Virgílio, Júlio (atrás, marido de Elvira), Elvira Buozi (nora) segurando Clóvis, Américo, Lucrécia (mãe, sogra e avó), Joanim (atrás), Augusto Tiezzi (o patriarca) segurando Amaro, Felício (atrás, marido de Adorna), Adorna (nora) com Alcindo ao colo, e Ângelo.
Colonos italianos no pátio da estação da Fazenda Vila Costina, no início do século 20.
Sobre "Imigração para o Brasil", o jornal O Estado de S. Paulo, de 20 de agosto de 1891, comentou: "O Times, de Londres, publicou no seu número de ante-hontem, um violento editorial contra a immigração para o Brasil. Diz que, segundo informações dadas pelos consules, é mau o tratamento que, os immigrantes aqui recebem e aconselha os inglezes que não immigrem para o nosso paiz".
O livro italiano Merica! Merica!, de Emílio Franzina, edição de 1979, reproduz uma carta (11/ 3/ 1889) do colono italiano Giuseppe Manzoni, natural de Feletto, Província de Treviso, que residiu numa fazenda em São José do Rio Pardo. Manzoni relata sua chegada a São Paulo, os acalorados movimentos republicanos, a rebelião na Hospedaria dos Imigrantes pelo inumano tratamento, as belezas rio-pardenses da paisagem do campo e das manifestações culturais, o arrependimento de ter emigrado... (Leia a carta, in "Crônicas do autor").
Um trabalho do Dr. Honório de Sylos, Cidade Livre do Rio Pardo, publicado na "Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo", nº XLVI, de 1946, relata o assentamento da pedra fundamental da sede da Sociedade 20 de Setembro, em 24 de junho de 1889 (cinco meses antes da Proclamação da República), que terminou com uma grande passeata republicana à noite. Tendo como fonte os jornais O Tiradentes, de São José do Rio Pardo (7 / 7 / 1889) e o Oeste de São Paulo, de Casa Branca (30 / 6 / 1889), ele descreve a gritaria, a correria e a troca de insultos entre republicanos e monarquistas. (Leia "Italianos no conflito entre monarquistas e republicanos", no capítulo "Crônicas do autor"). Atílio Piovesan, em entrevista ao repórter de "Gazeta do Rio Pardo, publicada em 15 de agosto de 1939, cujo número, infelizmente, desapareceu da coleção, falou dos operários da ponte, na maioria italianos, "fortes e rijos, vendendo saúde". Citou alguns: ele, que foi encarregado do vapor que movia a bomba centrífuga; Agostinho Rossi, o encarregado do serviço dos pedreiros; Torquato Colli, Guido Marchi, Mateus Volota, D’Andrea e Garibaldi Trecoli. Os dois últimos morreram afogados durante os trabalhos.
1898. Italianos trabalhando na desmontagem da ponte metálica que emborcou.
Os irmãos Piovesan. Da esquerda para a direita: José, Attilio, Raimundo e João.
Foto de julho de 1904. Nina Gaiato e Luigi Piovesan, pais de Attilio, José, Raimundo, João, Noêmia e Rosa.
No dia de São Pedro passado, 29 de junho de 1999, com máquina fotográfica, fui conhecer três santos de cedro dos anos 20, esculpidas a enxó e formão por um colono italiano da Fazenda Angolinha, Sr. João De Sordi, que manifestava seus dons artísticos nos intervalos do seu trabalho na lavoura. Ele passou pela nossa região, talvez como tantos outros, ignorado. Doou as três imagens ao administrador da Fazenda Boa Vista, Sr. Natalino Biaco Merli, que comprara um sítio na região do Sítio Novo, cujo padroeiro foi São Pedro. Ao vender o sítio, os santos de 40 a 60 centímetros de altura lá ficaram. Estão numa minúscula capela, sem nenhuma proteção. Sobre o tema, escrevi uma crônica: Um italiano da roça esculpiu santos de cedro, publicada em Gazeta do Rio Pardo, em 10 de julho de 1999.
|