Italianos no conflito entre A ata de 24 de junho de 1889, da Società di Mutuo Soccorso 20 Settembre, relata a festa do lançamento da pedra fundamental da primeira sede da sociedade, na esquina das ruas Treze de Maio e Imperatriz. Não pôde comparecer o benquisto presidente, Giuseppe Scarano, mas o Conselho visitou sua filha doente. O cortejo percorreu as ruas principais da cidade, indo à igreja para a bênção da bandeira, que teve por padrinhos os senhores: Major Antônio de Lima, Dr. José da Costa Machado, Antônio Pantaleão Soares e Antônio Marçal. Depois da cerimônia, todos voltaram à sede social. A pedra, benzida pelo pároco da cidade, foi levada ao terreno da futura sede, onde uma multidão participava. Falaram: o representante do jornal italiano, o Dr. Campista e Dr. Giuseppe Palmella. Voltando a sala, falou Dr. José da Costa Machado, enaltecendo os objetivos da sociedade. Duas páginas seguintes, ainda em branco, foram reservadas para a transcrição do programa do grande festival que estava acontecendo. Nessa leitura, lembrei-me do trabalho de pesquisa, transformado em história, do Dr. Honório de Sylos, sobre os acontecimentos republicanos de 11 de agosto em São José, ocorridos 17 dias depois do lançamento da pedra fundamental, que foi o estopim dos desentendimentos entre monarquistas e republicanos. Dr. Honório descobriu relatos dessa contenda em dois jornais, que divergiam nos seus comentários. O artigo do Oeste de São Paulo, de Casa Branca, de 30 de junho de 1889, com o título "Distúrbios em São José", relatava que na noite do lançamento da pedra da Sociedade Italiana, os republicanos rio-pardenses participavam de um desfile, cantando a proibida "Marselhesa", o hino de guerra do novo partido. Coincidentemente, os monarquistas saíram de uma reunião do Partido Liberal e, com a banda local, foram saudar os italianos, na sua festa. Encontraram-se e os sons das duas bandas de confundiam: uma, a Riopardense, tocava o Hino Nacional, a outra, a Giuseppe Verdi, a Marselhesa. O artigo dizia que Cândido Prado, jornalista do jornal rio-pardense O Tiradentes, saudou os italianos, concitando-os a trabalhar pelo advento da República, enquanto um monarquista o aparteava, ameaçando-o e forçando-o a dar vivas a Monarquia. O hino francês foi ouvido novamente. O delegado, Cap. José Vasconcelos Bitencourt, exigia que a banda silenciasse. Houve gritaria e trocas de insultos. No dia seguinte, 25, pela manhã, o grupo republicano, com a bandeira de treze listas de Júlio Ribeiro à frente, acompanhou a banda Giuseppe Verdi, de Casa Branca, à estação, vaiando o delegado e o Dr. Fortunato dos Santos Moreira, de Pindamonhangaba, candidato a deputado provincial. A outra versão foi de Cândido Prado, diretor do jornal O Tiradentes, de São José do Rio Pardo, edição de 7 de julho. Escreveu que o delegado, acompanhado do Dr. Fortunato e capangas, atacou os republicanos no festival italiano, tentando obrigá-los a dar vivas à Monarquia. Os republicanos reagiram. Soldados agrediram o chefe, Ananias Barbosa, sendo repelidos pelo povo. Os monarquistas retiraram-se, seguidos pela multidão, ao som da Marselhesa e inflamados discursos. Essa versão foi enviada ao jornal A Província de S. Paulo, hoje, "O Estadão". Nessa mesma edição, O Tiradentes anunciava uma reunião republicana no palacete de Honório Luiz Dias. Esses acontecimentos prenunciaram a proclamação antecipada da República, em São José, em 11 de agosto de 1889, que lhe deram o título (rejeitado) de Cidade Livre do Rio Pardo. Como São Tomé, para certificar-me da veracidade dessa disputa, fui ler a ata da "Società", que se seguiu ao acontecimento de 24 de junho. Não sei qual dos dois relatos é o verdadeiro, mas que o incidente aconteceu, não tenho mais dúvidas. No segundo parágrafo da referida ata, o presidente, Leonardo Define, foi categórico: "(...) A sociedade não foi fundada para fazer parte de qualquer partido político, por isso lembro e peço aos sócios não tomarem parte em nenhum movimento político da cidade, caso contrário serão expulsos da sociedade e abandonados". A proposta foi aprovada por unanimidade.
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