O italiano aliciador Dr. Roque Maringolo contou-me proezas, ouvidas na sua infância, de velhos imigrantes italianos que chegaram ao Brasil no final do século XIX. Um deles, da família De Simoni, veio residir em São José do Rio Pardo, entusiasmando-se com a facilidade em trabalhar na terra fértil e quase virgem, que devolvia a mancheias tudo o que se plantava. O eufórico italiano veio de um povoado do sul da Itália, onde todos se conheciam e tinham um relacionamento fraterno. Sonhava em poder trazer todos seus conterrâneos para São José para serem felizes como ele. E seu sonho tornou-se idéia fixa. Escrevia cartas quase diariamente aos parentes e ao pároco amigo, contando todas essas maravilhas, não conseguindo convencer ninguém. Suas respostas eram de amor e apego ao lugarejo onde nasceram, não importando as tantas dificuldades... Um dia, resolveu ir buscá-los. O século novo começara e estava nos seus primeiros dias. Trocou uma nota grande, de um conto, em muitas notas de mil-réis e partiu para a Itália. No vilarejo, ele contava as maravilhas, já divulgadas nas cartas, e muitas outras. Falava com euforia da fartura e mostrava a todos o pacote de notas, dizendo valer mil liras cada uma. Seu entusiasmo contagiou os pacatos e boquiabertos camponeses. Quase todos os habitantes do lugarejo estavam de mala e cuia no navio, rumando para o Brasil, acompanhando o experiente e rico emigrante, para tentar, como ele, se enriquecer e ter aquele incrível bolo de valiosas notas... Decepção: o trabalho era difícil, árduo e todos eram tratados como escravos pelo administrador. O ganho era pouco e nunca poderiam ter aquela fortuna mostrada pelo quase irmão De Simoni. Começaram a criticar o exagero do amigo, que lhes pedia paciência, perseverança, tranqüilidade, tentando convencê-los de que o futuro lhes seria promissor... O tempo foi passando e os dias melhores nunca chegavam. Deviam no armazém da fazenda sempre mais do que ganhavam, não podendo nunca abandonar aquele inferno... Sentiam saudades do vilarejo do sul da Itália, agora tido como o paraíso, e se desesperavam. Dez meses passados, os iludidos camponeses resolveram voltar à sua terra, procurando a ajuda do representante consular. Conseguiram seu intento. Na véspera de embarcar no trem da Mojiana para Santos, encurralaram o patrício, aliciador de trabalhadores, dando-lhe uma antológica surra, que muito o marcou. Com dores generalizadas, precisou ficar sentado na salmoura quente e com ela cobrir-se de compressas.
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