Banco dos velhos, black Friday & Tite

 
 Nosso jardinzinho. Foto de Fernando Lauria Darcie.

O artigo da semana passada rendeu altos dividendos. Recebi de tudo – cumprimentos, correções, aditamentos, até algumas palavras com certa ponta de mágoa por falta de citações específicas. Não, não revelarei nomes. Quem sabe sabe; quem não sabe, paciência.

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É, coisa difícil  agradar a todos e fazer coincidir pontos de vista  sobre um assunto por si só  fluido, como é  falar sobre velhos e seus comportamentos.

Fico satisfeito ao notar que uma palavra está presente em boa parte dos e-mails que recebi. Ela é delicioso, referindo-se ao longo texto, de mais de mil palavras. Até um companheiro de banco, que jamais havia lido um artigo meu por considerá-los muito compridos, conseguiu chegar à última linha, em feito glorioso que por certo não se repetirá tão cedo.

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Um dos meus correspondentes, a quem não falta motivo para ser parcial  e exagerado no elogio ao que escrevo, dá um palpite que mereceria  estudo mais aprofundado. Diz ele que a possibilidade cada vez mais rara de se impedir a entrada de mulheres em determinados recintos deveria até merecer a proteção cuidadosa do IBAMA. Sim, do Ibama – Instituto Brasileiro de Defesa do Meio Ambiente. Para meu correspondente, os velhinhos do tal banco de reuniões diárias deveriam ter a certeza de que aquele especial recinto ficaria para sempre  fora do alcance feminino. E olhe que o tal correspondente é mulherista juramentado, mas advoga a causa de que os homens têm, ainda, direito  a certa privacidade. Sei não, mas acho que num futuro não tão remoto, os velhos vão ter mesmo a grata companhia de  mulheres nascidas ao mesmo tempo que eles, mas por artimanhas cronológicas, dizendo-se dez ou doze anos mais novas. Segredos indevassáveis na contagem dos janeiros.

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Abalizada opinião de uma colega, mãe de boa penca de filhos, em sua maioria homens:

“Adorei! Penso que velhice é assim: direitos inalienáveis, complacência, humor, delicadeza, capacidade de pairar inefável sobre o passar dos dias. Se eu, assumidamente mulher nesses tempos confusos, passar em frente ao banco de sua propriedade, já sei como me comportar...”

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Digna de transcrição a breve mensagem de atenta senhora:

“Gostaria de ser um mosquito para poder rodear esse banco sem ser notada!”

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E esta outra: “Feliz de quem consegue rir de si mesmo!”

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De meu velho professor de Sociologia, no vigor dos 92 anos bem vividos, recebo e-mail curto, mas revelador de que ele aprecia no meu texto o que  chama de “qualidade literária”, coisa de pouca ou nenhuma valorização nos dias que correm, com afoitos leitores se lixando para qualquer tipo de correção ou para a mínima preocupação com clareza  e certa qualidade da linguagem.

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Com quase todo o mundo vivendo a  plena  falta de dinheiro, houve grande busca nas eventuais vantagens proporcionadas  pela sexta-feira negra, a tal Black Friday, de longa tradição americana e agora  tida como tábua de salvação do combalido comércio brasileiro nestes duros tempos do lulodilmismo. O assunto é levado tanto a sério quanto na brincadeira. A seriedade está na triste hora de fazer os cálculos e perceber que se  a pessoa se deixou levar por tentações de comprar “imperdíveis ofertas” no cartão ou no cheque especial, cometeu uma burrada das grandes, porque os juros cobrados nas duas modalidades de dívida são apenas astronômicos.

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As brincadeiras são várias, como:

- depois da Black Friday, vem inevitável o Red Saturday – em que o descuidado comprador de ontem sabe que hoje seu crédito está no vermelho;

- um pessoal desconfia que qualquer vantagem conseguida nos descontos da sexta é anulada  pela carestia nos preços da entrega domiciliar da segunda ou terça-feira;

- alguém descobriu que a chave de todo o falso sucesso da Black Friday  está nesta continha perigosa: há comerciantes  que simplesmente  cobram a metade do dobro do valor do produto, ou seja, dão zero de desconto.

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Não faltou quem desejasse pedir à Dilma que ensinasse como viver com metade da receita prevista. Será que ela ensinaria isso?  Pelo jeito, ela não anda tendo nenhum êxito em matéria financeira.

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O que é que você me diz do Sr. Adenor Leonardo Bachi? Nada? Nadica? E do Tite, o discursivo técnico do glorioso Sport Club Corinthians Paulista? Ah, deste sim? Pois saiba que são a mesma pessoa. A revista Veja  abriu ao Tite o disputado espaço das páginas amarelas e ele deitou falação. Para ele, a base do sucesso futebolístico é aliar o treinamento com saber qual forma de jogar que será adotada. O resto virá por acréscimo.

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Em sua abalizada opinião, na atualidade nenhuma equipe brasileira tem a mínima condição de enfrentar o Barcelona. O River Plate da Argentina, campeão da Libertadores,  não será páreo para o Barça no Mundial deste ano.

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Eis a seleção brasileira  ideal, no seu justo entendimento:  Marcos; Carlos Alberto, Mauro, Bellini e Júnior; Clodoaldo, Zico, Falcão e Pelé; Ronaldo e Tostão.

Timaço, hem?

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Uma importante revelação sobre o estado de espírito dos jogadores do Corinthians no começo do torneio, no Japão, em 2012, em que o time se tornou campeão mundial:  depois da fácil vitória na estreia  do Chelsea  contra o Monterrey do México, todo o estafe corinthiano sentiu medo daqueles ingleses. Aí o Tite entrou com sua motivação:  “Lutei a minha vida toda para estar aqui! Apostei tudo! Não vou admitir que alguém venha me dizer que não dá para entrar nesses caras e ganhar o jogo. Ninguém veio aqui para se acovardar.”   Foi instantânea a mudança de semblante.

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Sobre a crise moral que se abate sobre o futebol brasileiro, Tite pontifica: “O futebol também precisa ser depurado, filtrado. Precisa encontrar o caminho correto, justo. O Brasil hoje busca essas respostas”. Que diria disso tudo José Maria Marin?

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Opinião pessoal:

A melhor sensação que o Corinthians me deu neste findante e vitorioso 2015, além do próprio título de hexacampeão brasileiro, foi a acachapante vitória de seu timinho misto, com apenas três titulares, sobre poderoso rival. Um 6 a 1 inesquecível. O jogo seguinte, contra o Sport, em Recife, apenas mostrou que futebol e ressaca não combinam.

 

05/12/2015
emelauria@uol.com.br

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