Fasci Italiani del’ Estero, na Itália,
no Brasil e em São José do Rio Pardo

Os italianos não fascistas e outras histórias do fascio

Na pequena São José, os italianos de esquerda, socialistas e anarquistas, que fundaram em 1900 o Club Socialista, desaparecido em 1909, não participaram das festas, nem freqüentavam o "Fascio", defensores que eram da democracia e da República. Pregavam abertamente contra o ditador Benito Mussolini e o Rei da Itália, Vittorio Emanuele III. Era uma minoria isolada, mas que, de quando em quando, fazia barulho e se desentendia, por razões ideológicas, com seus conterrâneos, em bate-bocas no idioma italiano, nas ruas, nos bares e nos restaurantes, chamando a atenção e quase terminando em luta. Nunca nada de grave se registrou nos anais da polícia. Esses italianos de esquerda, também, não se ligavam aos grupos de brasileiros, rio-pardenses e antifascistas, que hostilizavam os italianos do "Fascio", considerados por eles (os socialistas) burgueses e exploradores de colonos.

Até dezembro de 1941, quando o Japão bombardeou Pearl Harbor, no Havaí, provocando a entrada dos EUA na Guerra, os muitos fascistas rio-pardenses usavam camisas pretas, na sede, em desfiles, em jantares, festas e banquetes, dando vivas sonoros e sinceros ao seu "Duce". Idolatravam o Comandante Benito Mussolini. Acompanhavam com avidez seus passos e seus feitos.

Grupos reuniam-se em torno de um raro aparelho de rádio, em casa de um conterrâneo, ou na Confeitaria Raddi, para ouvir as últimas notícias da Guerra da Abissínia, em 1935 e 1936 e, mais tarde, se extasiarem com as performances do Eixo nas conquistas européias e africanas... E se manifestavam como fanáticos torcedores...

 


Padaria e Confeitaria Raddi.
 Na calçada, a festa de entrega de um prêmio
 encontrado num maço de cigarro.

 

Quase sempre com camisas pretas, eles se reuniam no afastado armazém do Giuseppe Cappello, em Paula Lima, para regulares jantares, exigindo sempre o mesmo cardápio: cabrito com macarronada, ou polenta, e muito vinho, servidos pelas cinco filhas do negociante, órfãs de mãe havia tempo. Cantavam músicas regionais e as glórias fascistas e monárquicas...

 

 

1914. Família Cappello, na Fazenda Santa Helena, onde Giuseppe (José) era administrador. Da esquerda para a direita: Romana Brocadello Cappello (esposa de José), Amália (irmã de José), José Cappello, Philomena e Amadeu Cappello (pais de José) e as crianças: Antonieta e José.

 

Com camisas pretas, eles participavam de festas comemorativas italianas, na sede, em passeatas e em frente à Matriz...

Os filhos de fascistas, crianças e adolescentes, eram obrigados a assistir às indesejáveis aulas de italiano, na sede do "Fascio" (em casa, raríssimos foram os pais que se interessaram em ensinar seu idioma aos filhos. Na intimidade, falavam português). Em outros dias, as crianças voltavam ao "Fascio" para aprender a cantar, com D. Adelina Perrella, a "Giovinezza" e cantos de louvação aos chefes e feitos fascistas... Nas festas, as crianças, conhecidas por "Balillas", destacavam-se pela alegria e entusiasmo. As meninas vestiam saia preta, blusa, boina e meias brancas. Os meninos, camisa, meia e gorro pretos, calça e gravata brancas. (Balilla): homenagem ao jovem herói genovês, Giovanne Battista Perasso, apelidado Balilla, que deu início à luta contra os derrotados invasores austríacos, em Gênova, atirando neles uma pedra, em 1746.)

 

 

 

Em Rivello, na Itália, em 1939. a balilla Caterina de Rosa.

 

 

 


Em São José, os filhos e filhas de fascistas ("balilas") nas festas italianas.

 

A compassada e revolucionária "Giovinezza", com três estrofes, repetindo no final de cada uma o conhecido refrão, era cantada com entusiasmo por crianças e adultos. Eis a letra:

 

Giovinezza

1 – Salve, o Popolo d’ Eroi

Salve o Patria immortale!

Son rinate i figli tuoi

Com la fè nell’ ideali.

Il valor del tuoi guerrieri

La virtù dei pionieri,

La vision del Alighieri

Oggi brilla in tutti i cuor.

Giovinezza, Giovinessa

Primavera di bellezza

Della vita nell’ asprezza

Il tuo canto squilla e va!

 

2 - Dell’Italia nei confine

Son rifatti gli italiani

Li ha rifatti Mussolini

Per la guerra di domani

Per la gioia del lavoro

Per la pace e per l’alloro,

Per la gogna di coloro

Che la Patria rinnegar.

Giovinezza! Giovinezza

Primavera di bellezza

Della vita nell’ asprezza

Il tuo canto squilla e va!

 

3 – I poeti e gli artigiani,

I signori e i contadini,

Con orgoglio d’Italiani

Giuran fede a Mussolini

Non v’‘e povero quartiere

Che non mandi le sue schiere

Che non spieghi le bandiere

Del Fascismo redentor.

Giovinezza, Giovinezza

Primavera di bellezza,

Della vita nell’asprezza

Il tuo canto squilla e va!"

 

As crianças também cantavam, de cor, a primeira estrofe da longa "La leggenda del Piave":

"Le Piave mormorava calmo e placido al passaggio

Dei primi fanti il ventiquattro maggio;

L’ esercito marciava per raggiunger la frontiera

Per far contro il nemico una barriera!

Muti passaron quella notte i fanti

Tacere bisognava e andare avanti.

S’udiva intanto dalle amate sponde

Sommesso e lieve il tripudiar de l’ onde.

Era un presagio dolce e lusinghiero.

Il Piave mormorò: Non passa lo straniero! (...)".

 

 

 

Família Trovatto. Da esquerda para a direita. Sentados: Maria De Conti Scarano Trovatto e José Trovatto. Em pé: Euclides, Íris e Leonardo Trovatto.

 

 

 

 

Voltar à página inicial São José On-Line!