Maus tratos Sobre maus tratos, há muitos registros nas atas do primeiro livro da Società, como os abaixo citados. 20 de julho de 1888. Foi lido um convite da Comissão Permanente da Colônia Italiana, de São Paulo, aos sócios de S. José, para uma reunião de protesto contra os abusos praticados, que prejudicam os imigrantes. 23 de janeiro de 1889. Vinte colonos da fazenda do Sr. Vicente Augusto Sylos Lima reclamaram dos maus tratos aos empregados e às suas famílias. Deliberou-se "fazer chamar o patrão e seu administrador para discutir a reclamação". Os três nomes escolhidos para essa conversação foram: Leonardo Deffine, Giuseppe Scarano e Luigi Prezzia. 30 de julho de 1890. Apresentaram-se 20 colonos da fazenda do Sr. Antônio Marçal, entregando um ofício ao presidente, declarando que o citado patrão não estava cumprindo o trato firmado entre as partes: não ouvia os colonos e não lhes dava satisfações. "Sendo o Sr. Antônio Marçal vice-presidente honorário desta sociedade, e os colonos todos cidadãos italianos, a Assembéia decide oficiar ao Sr. Marçal e conhecer os motivos da reclamação". Em 27 de maio de 1900, o jornal O Rio Pardo, na sua manchete publicava: "Um fazendeiro manda atacar por capangas a facão colonos seus na roça onde estavam trabalhando". Os desentendimentos entre o fiscal Manoel Gouvêa e os colonos italianos da fazenda Água Fria começaram em abril e continuaram até 23 de maio de 1900, terminando em luta sangrenta, que chegou às páginas dos jornais. Sintetizo os fatos relatados em vários artigos: o representante consular recebia centenas de reclamações dos colonos italianos, não só da Água Fria, mas, também, de outras fazendas, pelas injustas multas de 5$000, .impostas pelos patrões, por desobediência, ou por pequenos atrasos no horário estabelecido. Diziam que, depois da semana trabalhada, muitos ficavam devendo ao patrão. Na manhã fria de 23 de maio, às 8 horas, os colonos abandonaram os cafezais e se dirigiram ao escritório para se queixar das multas, injustamente impostas pelo fiscal Manoel Rodrigues de Gouvêa, na véspera, logo depois do descanso de uma hora. Cruzaram com o patrão que, a cavalo, ia à estação, sendo informado da razão daquele manifesto. Nas proximidades da casa de negócio de Silva & Cia. encontraram-se com o irredutível fiscal. Os insurretos seguraram a rédea do animal, dizendo a Manoel que ele iria morrer. O fiscal, apeando-se, tirou o facão da bainha do arreio, ordenando aos colonos que se retirassem e voltassem ao trabalho, dando com a prancha do facão em quem dele se aproximasse, ferindo alguns com o corte do instrumento. Os revoltados colonos tiraram-lhe o facão, Manoel conseguiu pegar a espingarda do arreio e atirar, atingindo o pé de Pascoale Paoluto. Tentava a fuga, quando Paoluto, com um golpe violento de facão, tentou cortar-lhe o pescoço, tendo Manoel Gouvêa a mão esquerda decepada ao tentar se proteger. Ensangüentado, ele se refugiou no armazém de Silva...
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