"La Befana": uma festa italiana Lembro-me das histórias de minha mãe, sentada à máquina de costura, contando-nos as recordações da sua infância. "La Befana" fazia parte do seu repertório retrospectivo. Crianças, nós arregalávamos olhos de espanto e admiração, achando graça da boa bruxinha, a Befana, e da estranha tradição, trazida pelos imigrantes. Os presentes que ela deixava não eram brinquedos, mas guloseimas. Não eram entregues no Natal, mas no Dia de Reis... E minha mãe contava: "Na noite do dia 5 para o dia 6 de janeiro, nós pendurávamos, no varal, meias grossas da nossa mãe, para que a Befana a enchesse com coisas gostosas: balas, doces secos, nozes, castanhas e até manga: a fruta da estação... A gente dormia, com receio de que a "Befana" entrasse no nosso quarto..." E ela continuava contando da sua alegria em tirar as pesadas meias do varal, na manhã de Reis... "Todos ganhavam alguma coisa, por mais simples que fosse... As crianças ricas encontravam dentro das meias até anéis e correntes de ouro, mas nós ficávamos muito satisfeitas com o que ganhávamos, sem reclamações, sem inveja..." "Depois, aos poucos, o Papai Noel foi substituindo a "Befana", aparecendo no dia de Natal, trazendo brinquedos, criando muitos problemas para as famílias pobres..." Minha mãe, sábia, nos preparou para o futuro difícil, enfatizando sempre: "sem reclamações, sem inveja"... Brinquedos era o que queríamos e pedíamos por cartas... Mas era muito difícil aceitar um papai noel discriminador, que nos esquecia... Nós, a outra geração de descendentes de italianos, já não usufruímos da tradição da "Befana" e, etnocêntricos, achávamos graça de uma fada, ou bruxinha, presentear com mangas e balas... Infelizmente, em São José, com 80% da população descendente de italianos, a Befana, que ainda não conhecia o Papai Noel ("Babbo Natale"), foi esquecida... Minha avó nos contava a história da boa bruxinha que, com um feixe de lenha para guardar, não pôde acompanhar os Reis Magos, que lhe perguntaram onde ficava Belém. Ela, também, queria presentear o "Bambino Gesu" e foi atrás deles sem os encontrar. Resolveu, então, presentear as crianças pobres e ricas, mas para as muito levadas, deixava cinza e carvão... Que bom neste Natal eu ter encontrado uma história para recordar e contar. Se não fosse o jornal "Voce Toscana" (Voz Toscana), de outubro e novembro de 1998, com um artigo sobre essa lenda, da Profa. Annalisa Vannucci Magalhães, eu não teria me recordado da boa fada, ou da velha bruxinha Befana. Annalisa nos conta que "Além da Itália, o culto da Befana é encontrado em várias partes do mundo: da Pérsia à Normandia, da Rússia à África do Norte, justificando a crença de ser um antigo culto pagão, encontrado na cultura etrusca, com a sua vassoura, símbolo de limpeza, protetora do lar. (...) Na Toscana (...), no dia da Befana acontecem grandes festas populares, para alegria das crianças." Que bom eu ter me reencontrado com "la Befana", que voou, montada na sua vassoura, da minha infância para as páginas de "Gazeta".
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