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Coluna
Semanal Depois do meu livro, histórias de italianos – III Tessaris e
Brocadellos: Da minha avó paterna, Massimina Giannelli, casada com Rodolfo Del Guerra, que não conheci, eu sabia muito. Ela sempre morou conosco, e me contava histórias sem fim, vivificando glórias e sofrimentos. Pouquíssimo eu sabia dos meus avós maternos. Não conheci meu avô, batizado Giacomo Tessari e que sempre foi conhecido por Giuseppe, ou José, prenome que assinava em documentos. De minha avó, Maria Brocadello Tessari (Marieta), lembro-me do seu falar num italiano muito diferente daquele que eu ouvia em minha casa. Marieta e Giacomo eram vênetos, da Província de Pádua; Massimina e Rodolfo eram da Toscana, Província de Pisa. Por não conhecer quase nada dos meus avós Marieta e Giacomo, nem deles ter uma fotografia de família, eu os ignorei no meu livro: do que eu me penitencio. Lembro-me que ela sempre me dava uma desejada moeda ao confessar e comungar. Ensinava-me a ser econômico e guardava o pouco que eu tinha do ordenado da Ideal: era meu banco. Há dois meses, quando meu livro já estava no prelo, não podendo mais alterá-lo, minha prima Virma Flamínio me mostrou caixas de fotografias antigas. Uma, muito velha, quase apagada, com duas jovens irreconhecíveis, ela me disse ser nossa avó Marieta e sua irmã Vincenza (a tia Cencia, que pronunciávamos Tchientia). Levei-a ao jovem Luís Eduardo e, no computador, ele refez a foto. Marieta Innarelli Santurbano, outra prima, me contou o que sabia da nossa avó. Lembra-se de, quando menina, ter visitado a bisavó, Maria Liviero, cujo marido, Andrea, morrera em 1903, na epidmia de febre amarela. Sempre deitada, paralítica, com pernas deformadas em arco, morreu em fevereiro de 1925, precisando ser colocada de lado no caixão e assim ser enterrada, em fevereiro de 1925. Contou-me, também, que nossa avó Marieta, com 13 anos, ao chegar ao Brasil com a família, morou na Fazenda Floresta, não se adaptando à nova terra, preocupando os pais com seus incessantes prantos. Com 19 anos, sentada à soleira da porta, na colônia, numa tarde ensolarada, viu passar a cavalo o belo jovem Giacomo, que construía um açude na fazenda. Olharam-se, apaixonaram-se, casaram-se dois ano depois, em 16 de setembro de 1893. Marieta disse-me saber que Giacomo era muito bonito e mulherengo, conquistando outros corações fora do casamento... Minha avó conhecia suas românticas aventuras, mas nunca o condenou... Ele morreu repentinamente, de "congestão cerebral"em 4 de junho de 1909, com 45 anos e com dois mil-réis no bolso, no seu pequeno armazém, na Rua Siqueira Campos. Deveria estar morando na cidade havia pouco tempo, pois todos os filhos nasceram na Fazenda Floresta, sendo a última de dezembro de 1906. Foi uma vida difícil para a viúva com seis filhos menores. Impossibilitada de pagar aluguel, foi morar com sua irmã Vincenza Cogato, na Treze de Maio, na casa que o marido Izidoro Cogato lhe deixara. Estava também viúva, desde a epidemia de febre amarela, em 1903. Tia Cencia costurava roupas para colonos para a Casa Braghetta durante o dia e minha avó trabalhava, à noite, na mesma máquina de costura manual. Aprendeu a fazer calças, paletós e camisas rústicas, desmanchando peças novas, fazendo moldes, cortando tecidos e, depois, costurando as duas peças. O filho Angelim, adolescente, foi trabalhar em Santos, mandando para a mãe quase todo seu dinheiro. As meninas cresciam e costuravam... E assim, Marieta e seus filhos alugaram uma casa, no centro, na Rua Rui Barbosa, comprando-a nos anos 20... Luís Antônio Tessari, meu primo em segundo grau, que conseguiu a cidadania italiana, através de documentos do bisavô Giacomo, deu-me a genealogia da família. Giacomo Tessari, pedreiro-construtor, era de Massanzago, filho de Ângelo Tessari e Anna Bugim. Veio sozinho ao Brasil, com 27 anos. Com 29, em 16 de setembro de 1893, casou-se com Maria Brocadello (Marieta), nove anos mais jovem do que ele, filha de Andrea Brocadello e Maria Liviero. Tiveram seis filhos: os Tessari: Ângelo, nascido em 1894, casado com Etelvina Vieira; Ida, que nasceu em 1895 e casou-se com Pedro Innarelli; Esther, nascida em 1898, casou-se com Villani; Irma (minha mãe) nasceu em 1903 e foi casada com Raul Del Guerra; Deomira, de 1905, casou-se com Galileu Rondinelli; e Cilla (Cileta), nascida em 1906, foi casada com Alberto Flamínio. Eram irmãos de Maria (Marieta), os Brocadello: Vincenza, casada com Izidoro Cogato; Marcos, casado com Judite Gonçalves; Dante, casado com Marieta Marcolongo; Eugênio, casado com Maria Mikelcic. . 12/ 10/ 1999. |