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Coluna
Semanal Depois do meu livro, histórias de italianos – II A família Trivelattos Numa conversa com Alzira Corrêa Astolfo, ao adquirir livros meus, conheci histórias da família Trivelatto, que chegou ao Brasil nos anos 80 do século passado. Sua mãe, Dozolina Trivelatto Corrêa, sempre visitava minha mãe: diziam-se primas, mas nunca me preocupei com a genealogia da família. Na rápida prosa, Alzira desvendava-me o intrincado quebra-cabeça genealógico do nosso parentesco. Sua mãe, Duzolina, era filha de Luigi Trivelatto e Regina Bordin, sendo esta filha de Joana Brocadello, parente próxima de minha avó materna, Marieta Brocadello Tessari. Em 1880, aproximadamente, depois de alguma espera, o casal Ângela e Antonio Trivelatto foi selecionado pelo governo italiano para emigrar para o Brasil. O casal e cinco filhos: Cesare, Giovanni, Carlo, Luigi e Angelo preparavam-se para a aventura. Ângela estava grávida. No exame médico, na Agência de Emigração italiana, o marido e pai, Antonio, foi barrado: estava muito doente - disseram os médicos. Ele exigiu que a família partisse sem ele, prometendo encontrá-la no Brasil, meses depois, quando estivesse curado. Angela era uma brava mulher. Enfrentou o desconhecido, fixando-se na fazenda Vila Costina, em São José do Rio Pardo, onde nasceu o sexto filho: Antônio (Tonico). Dias depois, a triste notícia a abalou: Antonio, seu marido, morrera na Itália... A vida continuava. Ela e os filhos trabalhavam na roça. Em casa, na pequena máquina de costura manual, que trouxera na bagagem, Angela fazia maravilhas. Preparava-se uma grande festa na Vila Costina. O Imperador, D. Pedro II, estaria pela segunda vez em Casa Branca, com a Imperatriz Teresa Cristina e comitiva. A ferrovia, que se expandia, o trouxe novamente. Ficaria alguns dias, a partir de 26 de outubro de 1886, e visitaria a grande fazenda de café. Já estava pronta e engomada a bela camisa branca, com peito de miúdas pregas e discretas rendas, que Angela fizera para ofertar ao príncipe. A majestade visitaria as casas dos colonos. Diante do príncipe, com delicada reverência, ela entregou o presente a D. Pedro, que se encantou com a camisa e com a família, ordenando ao fazendeiro que nada faltasse àqueles colonos, até se ambientarem à nova Terra. O dinheiro ganho pelos filhos, cuidando dos cafezais, era entregue à mãe, que juntou uma soma considerável. Aos doze anos, o inteligente italianinho Angelo, alfabetizado em duas línguas, foi trabalhar na estação da Vila Costina, tornando-se Chefe, ainda muito jovem. Angela e os outros quatro filhos mudaram-se para a cidade, para São José. Ela montou um belo restaurante no início da Benjamin Constant. Todos da família nele trabalhavam e tornou-se um sucesso. Giovanni apaixonou-se por uma bela e jovem italiana, que o desprezou, casando-se com um sírio... Limpando uma espingarda, ele morreu com uma bala na cabeça. As opiniões dividiram-se entre acidente e suicídio... Desgostosa, Angela desfez-se do restaurante. Deu a cada filho a alta soma de duzentos mil-réis para que reiniciassem o seu caminho. Ela foi morar com Tonico, que mais tarde mudou-se para São Paulo, levando-a. Carlo montou uma fábrica de cerveja, transferindo-se, anos depois, para São Paulo. Luigi casou-se com Regina Bordin e montou um açougue. Mais tarde, foi proprietário da grande e importante "Casa Irmãos Trivelatto", de secos, molhados e ferragens, na esquina da Campos Salles com a Saldanha Marinho (hoje, Posto Centro Rio). Luigi e Regina tiveram 14 filhos. As crises dos anos 10 levaram a conceituada firma à falência, em 1915. A família mudou-se para Ribeirão Preto, dedicando-se à tanoaria, fabricando corotes. Só Dozolina permaneceu em São José, cuidando da avó, Angela, que, mais tarde, mudou-se para São Paulo, morando com Tonico. Duzolina casou-se com o viúvo português Antônio Rodrigues Corrêa, pai de sete filhos pequenos, tendo mais 16 filhos. Cuidou, carinhosamente, de 23 crianças! Cesare casou-se com Ernestina, filha de Luigi Braghetta. O casal foi residir em São Paulo. Mecânico, ficou milionário com sua indústria de carrocerias. 5/ 10/ 1999. |