Resgatemo-nos

Poucas vezes na vida eu me tenho sentido tão desinformado quanto na reta final desta campanha política. Se converso com pessoas do lado A, percebo nítida a certeza delas de que estão com a verdade, a justiça, a vitória inevitável. No lado B, encontro nada menos do que verdade, justiça e vitória inevitável.

Fato estranho é que essa certeza arraigada não seja produto da análise e adoção de nenhuma original plataforma governamental exposta com precisão e clareza, mas apenas a repercussão do que os profissionais da mensagem escrita e oral, os  pejorativamente chamados marqueteiros,  puseram nas mentes e corações dos candidatos e seus assessores, fazendo-os apegar-se ao secundário, ao acessório, ao desimportante.

Esta campanha eleitoral me deixa uma triste impressão de retrocesso em métodos, em aspirações, em vislumbres de futuro.

Daí minha alternativa  muito mais prazerosa na escolha de assunto de hoje: colocar em português um texto anônimo, certamente de autoria feminina, que correu o Chile pela internet e que me foi enviado pela prima Paula Rondinelli Rodrigues, há muito radicada em Santiago, onde constituiu bela família.

Seu título em espanhol é o que tomo emprestado para meu artigo: RESCATÉMONOS.  Dele só não respeitei a pontuação original, muito abundante. Aí vai:

“Sem dúvida que o Chile viveu umas das experiências mais duras, porém mais gratificantes de sua história mineira.

Cumpriu-se a tarefa de resgate dos trinta e três mineiros da mina de San José.

Resgate... Uma palavra que esteve presente incansavelmente em nosso vocabulário durante setenta dias.

E o que diz o dicionário sobre seu significado?

- Recuperação de uma pessoa ou coisa.

- Salvação de um pessoa ou coisa de um  perigo  ou de uma situação de abandono.

Sinto que independentemente  do que significou como tarefa, é um chamado, é mensagem a resgatar em cada um.

O mundo inteiro foi testemunha, o mundo inteiro se congregou para orar e finalmente festejar o milagre...

Mas também a humanidade toda deve ler nas entrelinhas. E trabalhar, a partir de hoje.

Resgatemos a capacidade de escutar-nos e comunicar-nos verbal ou espiritualmente.

Todos necessitamos disso.

Resgatemos e asseguremos a vida no mundo inteiro.

Resgatemos as virtudes, talvez não sepultadas nas entranhas da terra, mas na alma e no coração de cada um de nós.

Resgatemos todas as virtudes.

Resgatemos a fé e a esperança, virtudes pelas quais cremos, desejamos e esperamos de Deus, com firme confiança, a vida eterna e as graças para merecê-la, porque Deus nos prometeu isso.

Resgatemos a caridade, virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas e a nosso próximo como a nós mesmos.

Resgatemos a prudência, virtude que dispõe de razão prática para discernirmos, em qualquer circunstância, nosso verdadeiro bem e elegermos os meios justos para realizá-lo.

Resgatemos a justiça, virtude que consiste na constante e firme vontade de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido.

Resgatemos a fortaleza, virtude que assegura a firme e constante prática do bem, mesmo nas dificuldades.

Resgatemos a temperança, virtude que atenua a atração pelos prazeres sensíveis e procura a moderação no uso dos bens criados.

Resgatemos a amizade, o respeito, a lealdade, a compreensão, a generosidade, a humildade, a prudência, a ordem, a perseverança, a simplicidade, a sociabilidade.

Resgatemos, sobretudo, o amor que nos faz ser um só, não importando raça, classe social, credo. Esse amor puro que existe em cada ser humano e que talvez requeira, somente, ser resgatado. Esse amor que nos enche a alma.

Obrigado a todos quantos fizeram possível  o êxito desta missão, porque sem dúvida  eles também, com tudo isso, resgatam suas vidas, de um ou outro modo.

Viva Deus! Viva o Chile! Resgatemo-nos hoje. O amanhã não nos pertence.

Um abraço, desses que chegam à alma. E que, estou segura, sentiram e deram os mineiros ao sair das entranhas da mãe terra.”

 

30/10/2010
emelauria@uol.com.br)

 

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