Enquanto o Chile não vem

 
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Estranha palavra  esta —  copa. Seu uso é raro no português literário, sempre substituída por taça.  Só conheço um emprego dela, no quase ininteligível soneto "Vaso grego" do complicadíssimo parnasiano Alberto de Oliveira. Quem quiser, que confira  a dureza de seu entendimento. Começa assim: Esta de áureos relevos trabalhada / de divas mãos, brilhante copa, um dia, / já de aos deuses servir como cansada, etc., etc.

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O Brasil ganhou em definitivo a taça Jules Rimet e deixou-a ser furtada, derretida, sem mais nem menos. Deve ter sido a existência de coupe, cup, copa, de outras línguas fortes no mundo futebolístico, que  levou  a poderosa FIFA a registrar como sua  a expressão copa do mundo. Quer dizer: não se disputa nenhum campeonato mundial de futebol, mas a Copa do Mundo FIFA.

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Mordida no ombro agora vale?  Estranho o local escolhido pelo complicado Luis Suárez, aquele uruguaio raçudo com incisivos afiados como um bom coelho ou um esperto rato. Suárez é reincidente em mordidas, tanto que em Bergen, Noruega, houve uma aposta: "Será que Luís Suárez vai morder outro jogador, agora na Copa do Brasil?" Um tal Thomas Syversen achou que sim e arriscou trinta e duas coroas (uma merrequinha de onze reais) e acabou ganhando o equivalente a uns dois mil reais - dinheiro suficiente para uma boa cervejada com amigos.

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Muito elegantes os técnicos europeus, quase todos de roupa azul-marinho, gravata, sapatos pretos. Tão elegantes e sabidos, que percebem logo a hora do adeus. Foi o que aconteceu com o galã italiano Cesare Prandelli, que entregou o cargo logo depois de ter perdido por um a zero para a temida garra uruguaia. De fato, soa insuportável para a poderosa squadra azzurra, tetracampeã do mundo, ser eliminada pela segunda vez seguida já na fase inicial da disputa. Prandelli logo ganhou outro companheiro de renúncia, Giancarlo Abete, presidente da Federazione Italiana del Gioco Calcio, ou seja, de Futebol. Na verdade gioco calcio significa jogo do coice, do pontapé. Futebol é mais refinado e mais técnico do que isso. E a Espanha, hem? E Del Bosque?

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Para nossos futuros êxitos, parece indispensável que o teimoso Felipão trate de obstruir uma avenida sempre aberta do lado direito da defesa brasileira. Não sei se foi o novo corte de cabelo, mas é evidente que o nosso lateral direito não anda suportando a difícil missão de ir e vir, defender e atacar. Não estaria na boa hora de sacar Daniel Alves e colocar ali um sujeito de mais fôlego como o Máicon, que já deu certo em tantas outras vezes?

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Pergunta que não quer calar: aquele sujeito apático, indeciso do meio de campo brasileiro seria mesmo o notável Paulinho, que tantas glórias já deu ao nosso Corinthians? Ele está sem ritmo, sem garra e também sem sorte. Melhor poupá-lo nesta sua fase em baixa e aproveitar o alto astral de um serelepe Fernandinho, que defende bem, ataca bem e não tem vergonha de marcar gol de bico.

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Dizem que basta haver muita pressão em favor do ingresso de algum jogador em nosso time para o Felipão ignorá-lo solenemente. Azar do Felipão (e nosso, por tabela). Se nem o bigode ajudar o Fred a se movimentar e marcar, seja ele sacado. Não que o Jô seja uma maravilha, mas é preciso haver centroavante que pressione, que perturbe, que preocupe a defesa adversária. Um Willian, em fase esplendorosa, não pode ficar fora deste time, em qualquer lugar.

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Neymar está superando a encomenda. Disparadamente o condutor do Brasil, com muita chance de se consagrar nesta Copa como dos melhores (se não o melhor) do mundo.

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Cristiano Ronaldo deve ter ficado desanimado com a ruindade dos seus compatriotas lusitanos. Uma andorinha não faz, mesmo, verão. Deu pena ver o vaidoso, pretensioso, convencido (mas valoroso, autêntico) craque do Real Madrid ser colocado junto com um bando de cabeças de bagre  de pouco ou nenhum convívio com a bola. Esta Copa foi uma decepção para ele, que quando pôde, fez belas jogadas. Lembro a excelente bola centrada que redundou em gol no segundo jogo de Portugal.

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Messi. Messi é um perigo. Arquimedes pedia uma alavanca para movimentar o mundo, Messi pede bem menos: um descuidinho de seus três marcadores e um espaço de dois metros livres para ele resolver uma partida e sair de campo cuspinhando e sem ter nem suado. Messi - classe especial.

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Ah, esses surpreendentes latino-americanos! Quem daria mais do que dez réis de mel coado para costa-riquenhos, equatorianos e colombianos? Juntaram-se a chilenos, mexicanos, argentinos e uruguaios. Com brasileiros, têm tudo (ou quase tudo) para transformarem esta Copa do Mundo numa Copa América.

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Qual seria o mais temido adversário do Brasil  numa hipotética  final que nos envolvesse? Depois do susto que nos passaram os mexicanos, qualquer um é de fazer perder o otimismo e o sono.

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Lembremo-nos, ainda, da França, da Alemanha, da Holanda!

 

28/06/2014
emelauria@uol.com.br

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