Uma cidade cordial

 
"Fernando, Maria Thereza, Ana Lúcia, José Geraldo, João Carlos e eu".

 

Minha única irmã, meu filho caçula e eu estivemos em dia da semana passada em Lençóis Paulista, cidade tão distante de nós quanto São Paulo, mas para os lados de Jaú, de Bauru.

Fizemos o que se chama viagem de bate-volta, aquela que tem finalidade específica e por isso de pouca demora.

É que naquele dia minha filha mais velha (ou menos nova, como se prefere dizer) ia receber título dos mais honrosos – o de cidadã lençoense, concedido pela Câmara Municipal.

Agradável a viagem, por ótimas estradas, com pedágios à vontade, às vezes a menos de cinquenta quilômetros um do outro.

A cidade, hoje com mais de sessenta mil habitantes, apresenta evidentes sinais de progresso e da atuação administrativa cuidadosa, como ruas limpas e sem mato, jardins bem tratados, coisas do gênero que deveriam passar despercebidas em qualquer delas. Mas não é assim, a gente sabe.

Luxuoso até, o prédio da Câmara Municipal, com um plenário muito bem mobiliado, ótimo sistema de som, poltronas confortáveis.

Sete os homenageados com a concessão de títulos, quatro mulheres e três homens. Recinto completamente lotado, com muitas pessoas em pé, firmes ali, nas quase três horas de duração dos trabalhos.

Foram lidas esclarecedoras biografias dos homenageados, de idades diferentes, origens diferentes, atividades diferentes, porém tendo em comum a característica de prestarem serviços comunitários relevantes.

Estabelecida como critério de entrega dos diplomas a ordem alfabética dos nomes dos agraciados, minha filha Ana Lúcia foi a primeira a ser diplomada. Para completa surpresa minha, o presidente da sessão me chamou para fazer a entrega, quando o esperável era que convidasse o marido José Geraldo, os filhos Fernando e Paulo, a neta Bia. Quero crer que abriram mão do privilégio a meu favor, tendo em vista principalmente a minha provecta idade.

Fiquei pensando com meus zíperes sobre qual dos homenageados falaria em nome de todos.

Puro engano, pois todos, com toda a justiça, quiseram e puderam falar. Afinal, tratava-se de privilegiada concessão individual. Foi nessas falas, a maioria delas textos lidos, mas entrecortados de observações espontâneas, que percebi a marcante cordialidade daquelas pessoas de si tão diferentes. Um lembrou a primeira e ruim impressão que teve da cidade, que só o tempo e o convívio modificaram; outros falaram das profissões que lá exerceram; este homenageou antiga professora, presente na plateia; aquele brincou com um amigo e até lhe revelou antigo apelido. Bons vizinhos foram recordados, favores rememorados, amores concretizados, ausências sentidas, mortes pranteadas.

Enfim, o que via de regra não passaria de protocolar cerimônia, transformou-se em noite de saudade, em autêntico momento de amizade e solidariedade.

Por isso mesmo, fiquei feliz ao dizer com sinceridade à operosa prefeita que aquela cidade bem merecia o adjetivo cordial.

 

Eta mundo louco!

Pois não é que a justiça suíça vetou o pedido de casamento de uma senhora de 71 anos com um tunisino de apenas 21? Pois é. O alegado é que se trataria de um golpe baixo, em que uma pessoa só pensava naquilo: ser o beneficiário legal de polpuda aposentadoria  de uma anciã. Muito variada a reação do pessoal que dá palpite sobre tudo através da internet. A maioria  acha que se trata de intromissão indébita na vida alheia. Outro tanto de gente concorda com a proibição, ainda mais que se ficou sabendo que a irrequieta senhora, 13 anos antes, já se casara com um marroquino bem mais moço. Tudo acabou em divórcio em pouco tempo.

O noivo tunisino apresenta forte argumento: ele ama a tal senhora e não vê razão para não poder casar com ela. Ele apenas a ama, não quer ter filhos com ela...

Boa sugestão deu, mesmo, um sujeito que lembrou ao casal nubente que eles poderiam casar e morar na Tunísia, sem que a velhota recebesse  a tentadora aposentadoria suíça. Parece que o noivo não apreciou muito esse palpite tão radical.

 

Clima instável no Brasil

Como estou escrevendo no começo da semana e o jornal só sai no sábado, acho melhor não tratar de nenhum assunto político, para não correr o risco de perder o rumo das coisas.

Contudo, não resisto à tentação de transcrever uma frase de Hegel: A história confirma que povos e governos jamais aprenderam que a história nada lhes ensina...

 

Os Tudors

Regalo-me na Netflix com a temporada inicial  da série inglesa que trata com profundidade e consistência histórica da conturbada vida de Henrique VIII, o rei que precisava ter um filho varão que lhe sucedesse no trono. Para tanto fez o possível e o impossível, mas no fundo da consciência trazia insuportável peso: conforme predição bíblica, seria grave o castigo a quem se atrevesse a casar com a mulher de seu falecido irmão.

Por enquanto, Henrique não matou nenhuma de suas esposas, mas já está prestes a se casar com Ana Bolena.

 

 

28/05/2016
emelauria@uol.com.br

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