Pardo Vivo


Nosso Pardo vivo.

 

Recebi, um dias destes, a visita de Jair Rotta, que me vem trazer exemplares da  revista  Pardo Vivo, abril de 2012, comemorativa dos 156 anos da fundação de Mococa.

 

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Antes de falar da revista, quero lembrar que Jair Rotta, seu diretor-editor-redator-revisor-secretário-distribuidor, integrou uma turma especial de estudantes de Direito da UNIP, câmpus de São José do  Rio Pardo, formada por muita gente desejosa não só de obter um título de bacharel,  mas também dotada de alto senso de responsabilidade. A boa e verdadeira demanda reprimida.

Ele, o médico João Cid, o engenheiro Antônio Carlos João, meia dúzia de cartorários, professores, contadores, bancários, funcionários públicos garantiam a necessidade de alto nível nas aulas, porque a cobrança deles sempre seria grande e justificada.

Tive o prazer de acompanhá-los por dois anos, primeiro como professor de Linguagem Jurídica e depois de Direito Constitucional. Belos tempos, belos dias – isso no comecinho deste século.

 

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Pardo Vivo, agora em seu número 30, publicação até luxuosa, em papel couché brilhante, trata de assuntos dos mais variados, onde sempre fica evidente a marca de Jair, um perfeccionista.

A matéria de capa é sobre o projeto Tamar, aquele que tornou possível a conservação das tartarugas marinhas nas costas brasileiras.

 

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O editorial, naturalmente de Jair Rotta, é a um tempo jocoso e preocupado com a realidade política e educacional brasileira,  abrigando até  um puxão de orelhas aos leitores que se queixaram do tamanho das letras:

Infelizmente temos recebido algumas críticas de que  as letras são pequenas, mas na verdade,  pequena é a cabeça de quem lê e não entende!

Forte e persuasivo, não?  (Mas a letra é de fato pequena para leitores de certa idade...)

 

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A entrevista principal é com o prefeito Antônio Naufel,  cuja fotografia me fez lembrar duas belas pessoas de sua família –  o avô materno Antun Miguel, lojista de nossa Rua Treze de Maio, e a mãe Chafica (seria esta a grafia?), rainha dos estudantes do “Euclides da Cunha”, isso já faz um bom tempinho, coisa dos anos quarenta.

O prefeito é lembrado pelo entrevistador Jair Rotta  de que é rio-pardense de nascimento, mas fincou raízes em Mococa. Aí Toni Naufel arrola as muitas coisas que o ligam definitivamente à sua cidade adotiva e tece um hino de louvores a ela. O slogan, de forte apelo eleitoral que ele cunhou, é Mococa somos todos nós, uma boa atualização da frase célebre de Rui Barbosa: O Brasil, senhores, sois vós.

 

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Achei interessantíssimo o artigo jurídico de Jair sobre alienação parental. Quer dizer: a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie o outro genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.

Essa atitude mental desagregadora não é nada rara e tem mil formas de concretização: realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor; dificultar o exercício da autoridade parental; dificultar contato da criança ou adolescente com o genitor; dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar. Em suma, o outro genitor passa a ser considerado um intruso, um inimigo a ser evitado.

Embora genericamente o melindroso assunto tenha abrigo na Constituição e no Estatuto da Criança e do Adolescente, a lei 12.318/2010 é específica e  pune o ex-cônjuge que manipula criança ou adolescente contra o outro genitor, submetendo este a verdadeiro processo de demonização.

 

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A matéria de saudade trata de antigomobilismo, dando especial atenção a um admirador incondicional dos belos carros Studebaker, de fabricação norte-americana.

Vendo uma das fotos do artigo, logo me lembrei do modelo  Champion – 1951, “um avião para andar no chão”, aquele que tinha a frente muito parecida com a ogiva de lançamento de foguetes espaciais. O Prof. Hersílio Ângelo foi o feliz proprietário de um deles, com isso causando admiração e por certo também santa inveja a quem não podia adquiri-lo. Uma beleza inovadora de carro.

 

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Dei boas risadas com as páginas de humor e de frases de efeito.

Humor 1: Sabe por que o Palmeiras é o porco mais limpo do mundo? Porque toma três lavadas por semana.

Humor 2: Malandro é o Corinthians. Em ano de Libertadores, arrumou patrocínio da Jontex pra evitar qualquer tipo de gozação!

Frase 1: Não demoro, vou num pé e volto no outro. (Saci que nunca mais voltou.)

Frase 2: O amor às vezes é como a gasolina: custa caro, acaba rápido e pode ser substituído por álcool. (Boêmio abandonado.)

 

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Outras boas seções: Radiantes, Off Road,Ecologia, Mococa – da fundação à República.

Matéria carinhosamente produzida: “Filarmônica Mocoquense – 120 anos de paixão e persistência”.

 

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Posta à venda por quatro reais, penso que Pardo Vivo se mantenha mais pela inserção da publicidade de muitas empresas mocoquenses, algumas delas de alta especialização. Cito aquela que fabrica estruturas metálicas de galpões industriais, suportes para equipamentos e barramentos de subestações de alta tensão, linhas de transmissão e torres de telefonia.  Ou aquela outra que produz tijoleiras, desintegradores e misturadores. Ainda há propaganda de montadora de balcões, de  laboratório com equipamento de imagens radiográficas digitais, de fabricante de lençóis hospitalares,  de fornecedora de gases medicinais. Enfim, exemplos de um parque produtivo moderno e diversificado e de prestadores de serviços bem qualificados.

 

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Não é de hoje que se percebe a complementaridade dos recursos humanos e materiais de nossas duas cidades. Germinal Artese, o nosso grande artista plástico, nasceu em Mococa; um dos professores mais queridos por minha geração, aqui em São José do Rio Pardo, o Dr. Lilo,  era mocoquense; em nossa Faculdade de Filosofia, tivemos centenas de alunos e um bom número de docentes de lá; rio-pardenses lecionaram por longo tempo em Mococa. Cito apenas dois, na área  de Língua Portuguesa: Lando Lofrano e  Valdir Ferreira. Meu pai nasceu lá e até hoje mantenho relações cordiais com os parentes Biasin,  Marchese, Mollo, entre outros. Meu filho-xará, hoje promotor de Justiça, cursou com prazer e proveito o excelente curso da Eletrotécnica de lá... O cônego Darcie dirigiu por vários anos uma paróquia mocoquense, deixando grande legião de amigos e admiradores.

 

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Enfim, como há um século proclamou o presidente  argentino Sáenz Peña, tudo nos une e nada nos separa, referindo-se às relações por vezes confituosas entre Brasil e Argentina.

Com Mococa e São José também  acontece isso, ainda mais que o tempo enterrou as rivalidades esportivas,  com Rio Pardo e Associação de um lado e  Radium de outro.

 Já vai longe a época em que as duas cidades eram agitados centros de futebol da melhor qualidade técnica.

 

28/04/2012
emelauria@uol.com.br)

 

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