Secos & molhados

 

DOCES PORTUGUESES

Leio por empréstimo irrecusável  o mais recente livro de Jô Soares,  As esganadas. Faço a leitura dinâmica da  obra de duzentas e sessenta páginas que relata os feitos de um perigoso assassino, à solta no Rio de Janeiro dos anos trinta.

Estranhas tanto  a arma quanto as vítimas desses múltiplos crimes: doces portugueses dados a mulheres gordas, com requintes de crueldade gastronômica.

Muito interessantes  as referências de Jô a episódios e ao modo de vida da sempre bela cidade, então capital federal. Ele incorpora ao seu texto muitos dos tipos característicos que  levou também para a televisão. Originais as gravuras de objetos usados como separadores de assuntos: piano de cauda, microfone dos antigos, carros fúnebres,  bola de futebol (daquelas com tentos) e dentaduras duplas mergulhadas em copos com água.

Um anúncio de arrepiar: a Morte atravessando de barco o mitológico rio Estige, aí também nome de funerária, e a frase filosófica de Sêneca: “A morte é o nascimento para a eternidade”.

Ah, fico sabendo também que o Jô se chama José Eugênio, nasceu em 1938 e já publicou pela Companhia das Letras outros três livros policiais: O Xangô de Baker Street, O homem que matou Getúlio Vargas e Assassinatos na Academia Brasileira de Letras.

Devolverei  depressinha o livro ao d’Osmar, mesmo porque conheço e aprovo esta emblemática frase: livro só se empresta a amigo e amigo não pede livro emprestado...

 

REGISTRO ATRASADO

Na derradeira ida ao DEMOCRATA em suas  instalações da Rua Curupaiti, dou de cara com Domingos Perocco Neto, acompanhado da esposa e da irmã.

Ele estava  ali para doar ao jornal um exemplar de seu documentadíssimo livro  O Banco do Brasil e eu – lembranças de uma vida.

Tomei conhecimento da obra logo depois de sua publicação e deveria ter feito a ela alguma referência em minha coluna, ao menos para agradecer a cortesia. O fato é que não fiz, apesar de o haver lido com prazer e proveito. Brinco com o Domingos dizendo-lhe que em seu livro faltou ao menos um documento importante: sua certidão de casamento com Maria Zélia... Mas lá estão a  participação do noivado e o convite de casamento, a 12 de maio de 1962.

Para escrever esta nota, que tem também uma função de desculpa, porque recebi o livro autografado a 5 de julho de 2009,  revejo com atenção as suas ilustrações que vão de capa a contracapa. Na foto da página  30, tirada na frente da velha agência do Banco aqui em São José, a 2 de agosto de 1952, dou com amigos e conhecidos como Everardo Bergonzoni, José Menechino (meu compadre), Antonio Montanheiro, Fernando Ribeiro de Paiva, José Paulo Ribeiro do Val, Sylvio Gigli,  Guilherme Alves,  Francisco Tavella e Fioravante Agliussi.  Na de 5 de maio de 1962, além da maioria dos já citados, encontro Homero Targa de Araújo, José Soares Filho, Cláudio Spessotto, Osmar Nogueira Amaral, Fernando do Carmo Barbosa, Newton Rodrigues Costa, Antonio Santurbano  e Antonio Chagas Filho.

Fico sabendo que  Perocco  até ganhou prêmio escrevendo crônicas. É o caso da “Tira de papel”, publicada no Boletim de Informação ao Pessoal, número de 1982, com tiragem de cento e sessenta mil exemplares. Rendeu-lhe a nada desprezível quantia de Cr$ 56.125,00,  não em moeda  corrente no país, mas em livros de autores brasileiros à sua escolha!

Muito interessante o registro fotográfico das máquinas bancárias utilizadas antes do advento do computador. Assim a Burroughs Director P-600, da página 63, a Original Odhner, da 68, a Remington Portable – model 5 T, da 137, entre tantas.

Como os tempos mudaram e com que rapidez!

Belo serviço pacientemente prestado por Domingos Perocco Netto, que ao unir elementos de reminiscência pessoal e documentos de vida funcional, criou um livro de alto valor, digno de ser consultado em pesquisas sobre larga fase do século XX.

 

DO TÍTULO

Antes da invenção dos supermercados, qualquer cidade tinha um bom número de armazéns de secos e molhados. Eram empórios que vendiam de quase tudo, de arroz a querosene, de feijão a cachaça, de farinha a óleo de caroço de algodão,  de velas a refrigerantes.

 

28/01/2012
emelauria@uol.com.br)

 

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