Nada como o tempo para passar


Ana Luiza com a mãe Nicinha; Zulmar; Márcio; Lourdinha

 

Falando, ninguém acreditaria. Aquelas pessoas, discretamente alegres e  de aspecto testado pela vida, ali estavam reunidas para uma comemoração muito rara:  sessenta e cinco anos de alguma coisa.

Como eu era uma daquelas pessoas, posso afirmar com conhecimento de causa que elas se reuniram muito menos para comer ou beber e muito mais  para lembrar um fato corrido no distante 20 de dezembro de 1949 – a formatura de uma turma de professores primários da Escola Normal Euclides da Cunha, desta nossa São José do Rio Pardo.

Hoje já nem existe professor primário (todos precisam ter formação universitária), bem como nem mais existe o tipo especial de escola que os formava especificamente para dar aulas nas quatro  séries iniciais  do ensino elementar.

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Poderiam  estar presentes bem mais do que os quatro que compareceram, mas um não pôde porque está imobilizado numa cama, outro cuida da esposa  atacada de velhice. Esta mora longe, aquela não tem condições físicas  para viajar. Este  anda meio fraco de memória, aquele paga seu tributo a fatos da longínqua mocidade. Mas a grande causa de tantas ausências  tem um nome terrível e inevitável, a morte. Nossa turma de professorandos, como se dizia, era bem numerosa. Eu li o nome de cada um e agora os escrevo aqui, infelizmente  com uma cruz entre parênteses para boa parte deles. Uns morreram muito cedo, outros morreram moços, a maioria morreu já aposentada.

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Wilson José Rodrigues (+), Waldemar Lourenço (+),  Lourdes Ribeiro de Oliveira, Paulo Ferreira da Silva (+), Inah Rolim César (+), Maria Nazareth de Souza Guimarães (+),  Amélia Soares, Maria Eliza Fontão, Eunice Navarro de Assis,  Yeda Cunha, Zulmar Therezinha Rondinelli,  Maria Therezinha Martini (+),  Therezinha Peres (+),  Maria Celina Rangel (+), Rosina Flora, Maria Ignácia Junqueira (+),  Daura Fourier Xavier,  Júlio Darin (+), Márcio José Lauria,  Iwanyr Rodrigues Costa (+),  Levy Scalli (+) , Guilherme Bianchin,  Álvaro Roque da Silva (+), Germinal Ferrari (+), Benedicto de Araújo Netto, Marina Faria Parisi (+), Amélia Bárbara Bueno (+), Ilza Zanatta,  Ireno Perassi (+), José Geraldo Olivieri, Therezinha de Jesus Feijão (+),  Maria de Lourdes Feijão, Waldemar Jorge (+) e Rubens Nogueira Branco (+).

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Disse ainda em voz alta os nomes  dos nossos professores cujas fotografias constam do álbum de formatura: Nelson Pesciotta, Antônio  Ferraz Monteiro (Dr. Lilo), José Germinal Artese, Alice Cunha, Maria Isabel Ada Parisi, Maria Antonieta de Lima Horta, Pedro Dessimoni,  Maria Leonor Soares. A morte mais trágica foi a de Leonorzinha (Maria Leonor Soares), numa curva qualquer de estrada na Bahia; a mais recente, coisa de meses, a de Alice Cunha. Vivo, vivíssimo, está Nelson Pesciotta, de Sociologia. Mantenho com ele  constante correspondência por e-mail. Nos seus noventa e poucos anos bem vividos, morou quase sempre na terra natal, Lorena, só se mudando recentemente para São Paulo  a fim de ser assistido mais de perto pela única filha.

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Então, em comemoração aos sessenta e cinco anos de formatura,  almoçamos juntos no sábado, 20 de dezembro de 2014: Nicinha (Eunice Navarro de Assis de Souza), que se fez acompanhar da bela e atenciosa  filha Ana Luiza; Nininha (Zulmar Therezinha Rondinelli Rodrigues), Lourdinha  (Maria de Lourdes Feijão Zamarian) e eu. Foi um agradável encontro, cheio de rememorações. Todos nós nos dedicamos a diferentes níveis do magistério, cada qual guardando na memória fatos marcantes, tanto para rir quanto para chorar, ainda mais que temos filhos. Alguns têm netos. Eu tenho até bisneta.

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Outra realidade nivela  os quatro convivas e lhes dá a circunstância indesejada  que traz consigo visão completa da saudade e da solidão : a viuvez.

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Sentimos especialmente a falta de dois colegas aqui residentes, mas impossibilitados de comparecer: Benedicto de Araújo Netto, o Netinho, e Guilherme Bianchin.

 

 

Mensagem de fim de ano dos velhos

Que os nossos restantes dias nos sejam leves.

Que estejamos em paz com Deus, com nossa consciência e com o próximo.

Que não soframos nem da solidão que não desejarmos, nem da sufocante presença de quem quer que seja.

Que sejamos senhores de nossos pensamentos e das nossas ações, com o corpo obedecendo ao cérebro, a mente se

 mantendo lúcida, o coração cheio de compreensão dos fatos de nossas vidas e das vidas de quem amamos.

Amém. Amém.

 

27/12/2014
emelauria@uol.com.br

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