O aniversário do “Euclides” & outros papos

 

Uma das mais antigas recordações que guardei de meus tenros anos tem tudo a ver com a festa de inauguração do imponente prédio do Gymnasio do Estado “Euclydes da Cunha”, em 1936, estando eu  com quatro anos.

Estava prevista para agosto, provavelmente no dia 15, pois  já  se comemorava o aniversário de morte do grande escritor.  Tudo se concentrava naquela data, porque nem havia ainda Semana Euclidiana, instituída logo depois por Oswaldo Galotti. Havia o “Dia de Euclides”, conforme lei municipal assinada em 1925 pelo prefeito José Pereira Martins de Andrade, o Zeca Pereira.

Poucas cidades dispunham de escolas secundárias oficiais. A nossa conseguiu a criação do ginásio em 1934 porque se  comprometeu a construir um prédio adequado e a doá-lo ao governo estadual. Foi um notável movimento cívico a arrecadação, em todas as camadas populacionais, da enorme quantia necessária. Ao lado de generosas ofertas, também houve doações de até mil-réis, o correspondente hoje a um real.

A figura mais esperada para a solenidade,  de expressão até nacional,  era a do governador Armando de Sales Oliveira. Sabe-se lá por quê, ele não pôde vir naquela data, ficando tudo adiado para um pouco mais adiante. E realmente a inauguração solene se deu a 18 de outubro, com a presença de figuras das mais importantes da  vida política e social de São Paulo. Quero crer que jamais nossa cidade tenha tido outra ocorrência de tamanha significação.

Mas a minha reminiscência de menino se prende exatamente ao adiamento decepcionante da festa de agosto. É de se imaginar quanto a cidade toda, que arcara com o ônus da construção do prédio, se havia magoado com a protelação de um ato da mais profunda significação na vida local e regional. Um trabalho custoso  fora  feito nas ruas centrais: os postes da iluminação pública, todos eles de ferro,  foram pintados. Embaixo, de preto; em cima, de branco.

A dúvida que me ocorreu foi motivo de muita risada na família: com o adiamento da festa, os postes seriam despintados? – perguntei preocupadíssimo às pessoas de minha casa. Acho que o que me encabulava, pela primeira vez na vida,  era o desperdício de mão de obra e de material.

  Fui agora mesmo ao dicionário e conferi: existe o verbo despintar, mas certamente de uso muito restrito. Na  verdade, aquela pintura de 1936 perdurou por muito tempo, até que, bem depois,  os postes de ferro fossem substituídos por outros de concreto. Deve haver um ou dois remanescentes.

A festança de 18 de outubro de 1936 é dos episódios cívicos da cidade o mais documentado, especialmente pelo jornal O Estado de S. Paulo, que apoiava a candidatura de Armando Sales à presidência da República. Júlio de Mesquita Filho, diretor do jornal, era cunhado e correligionário do governador. Durante banquete  que se deu no Pavilhão XV de Novembro, Armando Sales foi lançado oficialmente como candidato. O Estadão de 20 de novembro dedicou páginas e páginas ao evento.

O golpe de Estado de 10 de novembro de 1937, dado por Getúlio Vargas,  suprimiu a esperada  eleição e estabeleceu um regime discricionário que perdurou até 1945. Armando Sales e Julinho Mesquita ficaram na Europa por uns bons anos, exilados.

E agora a oração principal deste assunto: a 18 de outubro de 2011, pode-se comemorar com justiça o setuagésimo quinto aniversário da  escola hoje tratada apenas por Euclides, mas em outros tempos Colégio Estadual e Escola Normal  e melhor ainda Instituto de Educação Euclides da Cunha, de saudosa memória. Três quartos de século.

Não tenho dúvida quanto ao que direção, professores e alunos atuais da escola possam estar imaginando para bem marcar a data de tanto significado. Penso, porém, que os menos novos, os velhos e os velhíssimos que estudaram e/ou lecionaram no respeitável estabelecimento também deveriam movimentar-se e reunir-se festivamente a propósito de uma data de tamanha significação. Ou alguém de nossa faixa de idade pode almejar presença na festa do centenário, em 2036?

Ainda há pouco tempo, tive o prazer de participar de reunião festiva de uma turma que jamais se dispersou e que mantém, malgrado tantos problemas, um alto espírito de amizade e camaradagem. São líderes desse grupo sempre alegre e afável Maria Aparecida Piccolo e a prestativa Kátia Andrade Fagioli.

A ARA – Associação Rio-Pardense de Amigos, em constante atividade em São Paulo, abriga em seu corpo associativo dezenas e dezenas de ex-alunos do nosso velho Ginásio. Confio muito no trabalho da presidente Carmen Sylvia Barretto Ferreira da Silva e em seus muitos colaboradores.

Fica aí lançada a ideia de uma grande festa de confraternização entre todos os euclidianos de qualquer idade, a propósito dos  setenta e cinco anos de um notável marco em nossa vida educacional e  cultural.

 

PUBLICAÇÕES LOCAIS

É sempre animador saber que em certos setores nossa cidade tem bem mais do que aparenta: se perguntarmos quantos jornais circulam por aqui, a tendência será dizer que dois: a centenária Gazeta do Rio Pardo e o nosso DEMOCRATA. Tem mais, muito mais. Correndo o risco de cometer a injustiça de omissões, digo que há pelo menos mais três jornais e duas revistas.

Nesta semana, leio com prazer o número 3 do Cidade Livre do Rio Pardo, que Luís Trinca faz com tanta capacidade e tanto empenho. Nele, história e atualidade se equilibram, evitando que pessoas e fatos de importância acabem caindo no ostracismo e na indiferença. Preço quase simbólico do exemplar: um real. Pelo mesmo jornal tomo conhecimento do Portal Rio Pardo.com, que tem por finalidade mostrar ao mundo nossa terrinha.

Fico muito bem impressionado  com o número 144 da Evidência Revista. Bela apresentação gráfica, ótimo papel,  boas fotos, tiragem de cinco mil exemplares, distribuídos gratuitamente. E o mais importante no aspecto de sobrevivência da revista: propaganda firme e de grande visibilidade, bolada por profissionais do ramo.

 

BANHEIROS PÚBLICOS – UMA LÁSTIMA

Chegou ao máximo da degradação o estado de abandono do banheiro público  da Praça Capitão Vicente Dias (defronte ao Museu Rio-Pardense). Pobre de quem, num momento de verdadeiro transe, precise valer-se das instalações destinadas a homens. Mau cheiro insuportável, lâmpadas queimadas, portas detonadas, mictório entupido, vasos sanitários emporcalhados. Além da manutenção zero, fiscalização também zero.

Com o início da construção da sede da Guarda Municipal  na Área de Lazer, foi demolido o prédio que abrigava um barzinho e os banheiros públicos, por vezes tidos como o ponto ideal para umas boas cafungadas de rapazes e moças entregues à maconha e ao crack.

Bem verdade que mais próximo ao Recanto Euclidiano está lá escrito: “Homens” e “Mulheres” num local que se imagina banheiro público. Puro engano:  está sendo atualmente utilizado como depósito de material da canoagem. Ainda bem que numa ilhota próxima a vegetação cresceu tanto, que ninguém passa aperto, se tiver um pouco de coragem de se embrenhar pelo matagal.

É preciso ver como as cidades com pretensões turísticas tratam com seriedade e presteza o delicado problema.

 

SOBRE O “ANO LXXX”

1.       Há que sempre celebrar a mente profícua, jovem, efervescente de ideias que permeiam suas memórias.

 (Heloisa e Cid – Rio de Janeiro)

 

2.       A grande vantagem da velhice é ficar indiferente a críticas e oposições. Porque no velho tudo se justifica, até mesmo os achaques da idade. Conforme-se, pois.

 (Nelson Pesciotta, oitenta e muitos anos,  Lorena – SP.  Meu professor de Sociologia na Escola Normal)

 

3.       Já foi para o Twitter! Grande safra, a sua! Comemore!

(William Fagiolo, Ribeirão Preto – SP)

 

26/02/2011
emelauria@uol.com.br)

 

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