Euclidianas e acadêmicas

fotos de: D. Paulo Celso Demartini

De longa data

Alberto Venâncio Filho, o acadêmico organizador da mesa-redonda sobre a atualidade de Euclides, esteve com seu pai, Francisco Venâncio Filho, aqui em São José quando tinha oito anos, isso lá por 1943... Pessoa de que ele não se esqueceu: Oswaldo Galotti, para ele a melhor figura do euclidianismo  rio-pardense. Nesse sentido, a concordância é unânime, até hoje.

 

Panorama visto do hotel

Do nono andar do Hotel Novo Mundo, a paisagem está pronta, definitiva. Num primeiro plano, campos esportivos de areia no aterro do Flamengo. Depois, a praia pouco movimentada, o mar sereno e o Pão de  Açúcar. Postal de correr mundo.

 

O chá da Academia

15 de outubro, quinta, 15 horas. Lá estamos nós, todos envoltos numa naturalidade nascida não se sabe onde, tomando nosso chazinho, beliscando uma fatia de bolo ou mastigando uma porção de pizza. O prefeito, o abade, a diretora da Casa Euclidiana, alguns companheiros de viagem, dois de meus filhos, Cícero Sandroni, Sérgio Rouanet, Moacir Scliar, Arnaldo Niskier, Evanildo Bechara... Cena irrepetível nesta vida. Veja a foto.

 

O verso relegado

O grande amor da vida de Machado foi sua Carolina – a portuguesa culta com quem se casou, convivendo por trinta e cinco anos,  e de quem aprendeu muito, inclusive certa maneira pouco brasileira de colocar pronomes.  Antes de Carolina, houve outra musa, ou  “emblema da escrita”, Corina,  a quem foram dedicados sentidos alexandrinos. Mas na hora de selecionar o que considerava definitivo, muitos versos a Corina foram mandados para o esquecimento pelo próprio Machado. Entre eles, o que está lá em destaque na bela estátua do escritor, num pátio interno da Academia:

 

                              Esta a glória que fica, eleva, honra e consola.

 

Para sua obra poética reavaliada, o verso de doze sílabas não serviu. Para expressar o valor de ser acadêmico, sim. A frase virou divisa da própria Academia.

 

Mesas-redondas

Parece que o destino  dessa forma de expor idéias sobre certos assuntos de largo espectro é desrespeitar o tempo preestabelecido. Nas comemorações do centenário da morte de Euclides foi assim, tanto em Cantagalo quanto no Rio de Janeiro. Tive, nos dois casos, a sorte de ser o primeiro a falar e conseguir expor meus pontos de vista  dentro do prazo marcado, menos de meia hora. Depois, vieram longas exposições, durando cada uma ao menos uma hora. Nenhum dos mediadores interrompeu expositores, mas o público sentiu  a quebra de acordo. O resultado é que em ambos os casos faltou tempo para o que é fundamental em mesas-redondas: a discussão. O acadêmico Ivan Junqueira, por exemplo, não teve paciência de ouvir uma expositora  e saiu à francesa do auditório da ABL.

Durante nossa Semana Euclidiana conseguimos levar a bom termo a obediência a horários, quando diversas pessoas puderam relatar a um auditório interessadíssimo como cada  uma delas havia chegado ao euclidianismo.

 

A casa de Austregésilo de Athayde

No dia 15, assim que chegamos ao Rio, fomos tomar o café da manhã num casarão no bairro do Cosme Velho, durante anos residência da família de Austregésilo de Athayde, sogro de Cícero Sandroni e presidente da Academia por dezessete  anos. Hoje é um centro cultural, com múltiplas atividades, mas conserva  os traços originais da construção e um quintal à moda antiga, cheio de árvores, flores e sombras. Não resisti à tentação e andei por lá tudo, recordando com uma ponta de saudade o próprio quintal ajardinado de minha casa... Veja a foto.

 

Não só escritores

A idéia corrente é que numa academia de letras só devam ter assento escritores. Não é verdade. Na Academia Brasileira, que tanto se inspirou   na Francesa, houve e há  titulares de pouca produção literária, médicos, cientistas, inventor (Santos Dumont) e o caso de políticos, como Getúlio Vargas.

Monteiro Lobato, que nunca se candidatou a acadêmico e detestava Getúlio, indagado sobre a eleição do ditador, saiu-se com esta:

- Nada mais justo do que ele ser eleito. Não são quarenta membros na  Academia? Ele será o zero do número quarenta...

Na Academia Francesa ocorreu um caso extremo: foi eleito em 1929 o marechal Philippe Pétain, herói da guerra de 1914 a 1918, que em 1940 formou um governo  colaboracionista com os invasores alemães. Terminada a guerra de 1939 a 1945, Pétain foi considerado traidor da pátria, condenado à morte e só não executado  por causa de sua idade avançada.  A Academia Francesa o excluiu de seus quadros em 1946.

 

A cadeira n.º 7

Euclides da Cunha foi ocupante desta cadeira, que tem Castro Alves como patrono. Ao tomar posse dela, em 1907, Euclides teve, constrangido, de fazer o elogio acadêmico a seu antecessor, um poeta de pouco valor – Valentim Magalhães. Seu discurso, nada inspirado, pode ser lido no final do livro Contrastes e confrontos.

O atual ocupante da nº 7 é o cineasta  Nélson Pereira dos Santos, consagrado mundialmente por filmes como Rio, 40 graus, Vidas secas, Como era gostoso meu francês, Missa do galo, Memórias do cárcere...

Paulista de nascimento, mas carioca de formação,  Nélson tomou chá com os rio-pardenses, embora eu não o tenha visto em nenhuma foto.

Mais de uma pessoa de nossa delegação  se deixou fotografar sentada na famosa cadeira de tecido verde, aveludado...

 

A caravana rio-pardense

Digna só de elogios a numerosa turma que se dispôs a ir ao Rio numa viagem conhecida como bate e volta – quase sem descanso. Saímos daqui na primeira hora do dia 15, enfrentamos movimentado programa no Rio de Janeiro e regressamos às oito da manhã de 16. Foram trinta e duas horas de muita atividade. Gente disposta e solidária! Meu agradecimento a todos. O abade D. Paulo Celso Demartini bem que se empenhou na ida de D. Orani Tempesta à Academia, mas não foi possível. O prefeito João Luís Cunha deixou a melhor impressão em todos nós e em nossos amigos da Academia. Empenhadíssimo na projeção de boa imagem da cidade.

 

Paulo Herculano

Notável o desempenho dele  como repórter deste nosso DEMOCRATA. Mandou notícias no calor da hora,  sacou muitas fotos e conseguiu longa entrevista exclusiva com o presidente da ABL, Cícero Sandroni.

Honra ao mérito de Paulinho!

 

A preferência do bibliotecário-chefe

Cercado de rio-pardenses curiosos, o bibliotecário-chefe da ABL discorreu  sobre o acervo das obras abrigadas naquele belo   salão. Não se fez de rogado à pergunta direta que lhe formulei:

- Que livro o Sr. acha mais importante neste vasta produção de acadêmicos?

- Dom Casmurro, de Machado de Assis, sem dúvida...

E deu suas muitas e ponderáveis razões. Confira na foto  seu público atento.

 

Cidade satisfeita

A julgar pelas manifestações que nós, do Conselho Euclidiano,  temos recebido pessoalmente (e por certo também a Prefeitura, o DEC, a Casa Euclidiana), a cidade  gostou muito de como a programação comemorativa do  centenário da morte de Euclides foi planejada e executada, aqui e onde o euclidianismo rio-pardense se fez representar. Claro que a participação direta nos eventos da Academia Brasileira de Letras assumiu dimensões de aprovação e aplausos que nos deixam até surpreendidos. Sirva de exemplo o belo instante vivido domingo no almoço festivo da ARPA, a entidade que congrega os professores aposentados da cidade e região.

 

Canal que precisa ser mantido aberto

Ficou mais que evidente a importância de se manter e ampliar o  relacionamento do euclidianismo rio-pardense com a Academia Brasileira de Letras. Ao aceitar o convite de ser o conferencista oficial de nossa Semana-2007, Cícero Sandroni começou a reatar  uma longa e profícua tradição. Agora cabe à Prefeitura e à Casa de Cultura a manutenção desse estado de espírito com o novo presidente da ABL, que tomará posse no começo do próximo ano. Oxalá seja também um euclidiano.

Veja também a reportagem da jornalista Natália Tiezzi sobre o evento

 

24/10/2009

(emelauria@uol.com.br)

 

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