UM INCIDENTE NO CCBF

 

            CCBF, sabem-no todos, é a sigla do Centro Cultural Batista Folharini, que pode, é verdade, não ter AINDA instalações luxuosas como o CCIB, mas chegará lá – conforme promessa formal do Batistão e do Batistinha, avalizada com um aceno discreto de cabeça de D. Fátima.

 

            Estava o patrono da prestigiosa entidade na sua dura tarefa de contar e recontar as tábuas do forro enquanto os dois filhos trabalham sem descanso, quando lhe aparece espalhafatosamente um cidadão forte, bem disposto e muito falante:

 

            -- Olá seu Batista! Lembra-se de mim?

 

            Por mais que Batista desse tratos à bola, não conseguiu lembrar.

 

            -- Ora, seu Batista, eu sou filho de *****, antigo funcionário da repartição tal. Lembra-se?

 

            Também disso Batista não se lembrava.

 

            -- Pois é, saí daqui há uns trinta anos e agora estou de volta, quem sabe para ficar...

 

            Com a fidalguia que lhe é peculiar, Batista desejou boas-vindas ao ilustre desconhecido que ficou um pouco por ali e depois disse que iria dar umas voltas  pelo centro para rever pessoas, lugares, e logo mais retornaria.

 

            Minutos depois:

 

            -- Ué, já de volta?

 

            -- Pois é, seu Batista... Fui visitar o Chilo e então soube que ele tinha falecido.

 

            -- Faleceu, faz pouco tempo.

 

            Aí o visitante bem que tentou engrenar uma prosa, mas a notícia da morte do amigo de infância o deixara abalado. Resolveu perguntar sobre outros velhos conhecidos ali das redondezas:

 

            -- E o Zé Sebastião da Casa Central?

 

            -- Morreu, faz muito tempo.

 

            -- O Dário da farmácia?

 

            -- Mó-rreu...

 

            -- Vai  dizer que o ...

 

            -- Mó-rreu...

 

            -- Também a ...

 

            -- Mó-rreu...

 

            E foi assim que o filho de *****, de volta à terrinha e desejoso até de lançar de novo sua âncora por aqui, resolveu assim no estalo:

 

            -- Bom, seu Batista. A prosa está boa, mas estou agora lembrado que preciso voltar urgente pra minha cidade. Sabe, negócios pendentes... Até a volta, seu Batista.

 

            -- Boa viagem e breve regresso!

 

            -- Sei não, seu Batista. Sei não...

 

24/04/2004
(emelauria@uol.com.br)

 

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