Retratinho no alto da página

 

     

 

Isso de colocar o retratinho da gente lá no alto da página tem ajudado muito.

Não que a cidade tenha crescido, a ponto de ninguém conhecer ninguém.  É que com a passagem do tempo nós, meio fora de circulação física,  não temos facilidade de criar novos relacionamentos. Ao contrário, tendemos apenas a perder conhecidos, amigos chegados, colegas, parentes.

Quem, depois de dobrar o cabo da Boa Esperança, não sente inevitável surpresa  ao perceber que a cada dia que passa, ficou um pouco mais velho e um pouco mais só?

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Estava eu às voltas com a compra de frutas, verduras, pó de café e sei lá que mais num supermercado, quando um senhor , empunhando um exemplar do Democrata , me interrogou meio na dúvida:

- O senhor é esse aqui do retrato?

E era.

Então ele me disse que tinha gostado do meu artigo da semana anterior.

- Mostrei sua história pro meu filho e ele riu gostoso...

Fiquei com vontade de lhe dizer que de vez em quando a gente acerta com o gosto de alguém, mas que de modo geral as pessoas estão perdendo a paciência de ler coisas mais ou menos compridas. E meus tijolaços  chegam a ter oitocentas palavras... Estou cada vez mais inédito!

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Também mais recentemente, na Praça XV  fui parado por uma senhora que fez referência a um artigo em que trato de como o êxito de bons alunos está muito na dependência da qualificação dos seus professores.

- Eu penso exatamente como o senhor, disse ela – que me reconheceu pela foto do jornal. Na escola e também em casa nada vai bem sem a real presença de uma palavrinha mágica e cada vez de uso mais raro por pais e professores: disciplina.

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PLACAS BILÍNGUES

Para esclarecer os turistas estrangeiros, placas indicativas de localidades cariocas passariam a ter versão em inglês. A coisa ficaria assim:

 

Morro do Alemão > German Mountain

Botafogo > Set  Fire

Encantado > Nice to Meet You

Santíssimo  > Very Very Holy

Irajá > Will Go Now

Andaraí  > To walk there

Benfica  > Nice Stay

Olaria > Hello Smile

Ilha do Fundão > Very Deep Island

Pechincha > It’s Very Cheap!

Jacarepaguá > Alligator to the Water

Abolição > Set Black People Free

 

Imaginação criadora e mente brincalhona, já se vê.

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Em São Paulo, missão tradutória semelhante  seria impossível. Como inventar correspondentes pretensamente ingleses para Sapopemba, Tucuruvi, Pacaembu, Ibirapuera, Mooca, Tietê, Anhembi, todos termos de origem tupi?  Para Tatuapé até que não  é difícil.

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Cá estou eu, na tarde chuvosa de quarta-feira, batucando em meu cansado computador e escolhendo qual assunto vai encerrar este tão pouco inspirado artigo da semana. Opções é o que não falta, desde futebol internacional (de invejável nível, bem diferente do atualmente empobrecido campeonato paulista ou brasileiro), passando por jogos olímpicos, por filmes vencedores de Oscar, e também sobre os bate-bocas que vêm marcando os relacionamentos  de ministros do Supremo Tribunal Federal. Sei não, mas se a coisa não conseguir baixar de tom, logo-logo haverá entre alguns deles trocas não só de palavrões, mas de socos e pontapés. Um espanto.

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E o Neymar, hem? Será que estará recuperado pra valer na abertura da Copa? Pelo jeito, sim. Outro dia vi uma foto dele, operado do mindinho do pé, aboletado num carrinho de hospital e trazendo ao colo, todo lampeiro, a tal Marquezine, por sinal uma guapa rapariga.

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Vai-se saber por que não me sai da memória, há vários dias, esta música e letra dos anos quarenta:

“Ela me beijou demoradamente e de mim se afastou alegre e contente.   Recomendações ela me fez, como se ela não fosse regressar no fim do mês. Vá em paz, meu grande amor. Vai em paz e volta breve: se sentir saudades, pega no lápis e escreve... Eu fiquei na estação até que o trem sumiu.”  Nem tão bonita é, mas não me abandona de jeito  nenhum.

Quem cantava isso era Nélson Gonçalves com seu vozeirão de fazer inveja.

 

24/03/2018
(emelauria@uol.com.br)

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