Premonições, dietas
A cabana, a redoma, a ponte
refletida, a paineira em flor.
1. Estava-se no
auge da
excursão de
alto
luxo:
ônibus
executivo
muito
confortável,
dois
motoristas,
comissária de
bordo,
viagens
apenas
durante o
dia,
coisas
assim.
A
etapa
que se cumpria
era a
parada de
dois
dias numa daquelas
praias de
Santa Catarina
cujo
único
defeito se devia à
temperatura
baixa da
água do
mar,
embora se vivesse o
melhor do
verão.
Daí a
decisão do
ainda
jovem
senhor de
ir
sozinho à cidadezinha
próxima,
enquanto a
mulher e os
três
filhos (dois
meninos e uma garotinha) se
dispunham a
enfrentar a
praia, ao
menos
para
tomar
sol,
conversar.
Foi informado na
portaria do
hotel: a
distância
que deveria
percorrer a
pé seria de uns
cinco
quilômetros, o
que
ele achou
razoável. Pôs-se a
caminho, pensando
apenas se na
volta alugaria,
ou
não,
um
táxi.
Dez
quilômetros
lhe pareceram
muito
para
quem
não cultivava
com
tanta
seriedade
hábitos de
andarilho.
A
paisagem se mostrava monótona. De
um
lado o
mar
calmo; do
outro,
terrenos
arenosos,
planos, recobertos
por
vegetação
sem
graça. De
quando
em
quando, uma
cabana
rústica,
quase
sempre fechada e
sem
ninguém
por
perto. De uma dessas,
porém, surgiu uma
bela
figura de
mulher,
tipo aciganado
tanto no
moreno da
pele
quanto na
vestimenta e
nos
muitos
adornos de
ouro e
prata. Fez-lhe
um
sinal, de
início
não
entendido
por
ele: propunha-se a ler-lhe a
mão, a
falar do
passado, do
presente, do
futuro.
Não fosse o
todo
agradável da
mulher,
por
certo
ele
não teria
dado
maior
importância ao
convite,
mas acabou aproximando-se dela,
que
logo
lhe recitou a
tabela de
preços da consulta,
variáveis de
acordo
com os
itens –
negócios,
amores,
saúde.
Ele informou
que desejava
ter uma
visão de
conjunto de
revelações e de
predições e
que
lhe pagaria
até
mais do
que o
pedido, se achasse
algum
sentido no
que iria
ouvir.
Grande
surpresa
para
ele o
choque da
quiromante,
assim
que
lhe tomou da
mão
direita.
Mal podendo
disfarçar o
estranho da
situação,
ela
lhe disse
que
não estava
disposta a
fazer a
leitura,
porque
um
súbito
mal-estar a atingira.
-
Que
espécie de
mal-estar?
-
Nem posso
explicar;
só
lhe digo
que
não quero
ler
sua
mão.
Aí
quem sentiu o
choque foi
ele. “Por
que
não?”. E
por
mais
que insistisse, a
cigana verdadeira
ou
falsa se mostrava
irredutível. E
ele insistindo, insistindo.
Ao
fim,
ela concordou
em
lhe
passar uma
resposta
breve,
sem
mais
explicações e
sem
nada
querer
cobrar.
- O
que é
que
você leu na
minha
mão?
- Li
que
sua
vida será
muito
curta,
não chegando
sequer a
seu
próximo
aniversário.
-
Você pode
adivinhar a
data de
meu
aniversário?
-
Não posso,
não quero
saber,
mas é
isso
que vi e
não queria
revelar ao Sr., se
não fosse
tanta
sua
insistência.
-
Meu
aniversário
não está
longe...
Não acredito
em
nada
que
você
me disse.
-
Melhor
para o Sr.
-
Além do
mais,
nem o gostinho de
saber o
resultado de
sua
previsão
você terá. Moro
longe e de
qualquer
modo
não voltarei
tão
cedo
por
estes
lados...
- O Sr. é
que sabe.
Tomara
que
eu esteja errada.
Adeus.
Na
verdade faltavam uns
bons meses
para o
dia de
seu
aniversário e
ele resolveu
esquecer o
assunto.
Crendices,
superstições, mistificação,
exploração da credulidade...Ele
encheu-se de
argumentos e fez
tudo
para
arquivar o
assunto.
Voltou à
sua
cidade,
jamais abriu a
boca
para
sua
mulher;
muito
menos
para os
filhos. Contou o
caso,
em
tom de
brincadeira e
incredulidade, a
um
só
amigo.
Nunca
mais se falaram
sobre
aquilo.
Na
véspera do
aniversário,
depois de
noite
pouco
dormida, passou
assim
como
que
por
acaso no
escritório do
confidente
único e pareceu-lhe
ter notado no
olhar e na
fala do
amigo
um
quê de
ansiedade. Amanheceu o
outro
dia,
ele
tenso e inquieto. Recebeu os
telefonemas e as
mensagens
escritas de
quem esperava
mesmo, os de
sempre. Do
amigo,
nada. O
dia se arrastou, anoiteceu, virou
sem
novidade.
Logo
depois de
meia-noite, estando
em
casa, o
telefone tocou e
você
já adivinhou
quem o estava chamando – o
amigo.
Voz
clara,
jovial,
muito
satisfeita. Deu-lhe os
parabéns, justificando a
demora
com uma
viagem
inesperada.
Era
mentira, sabiam os
dois.
Mas ficaram
muito
contentes
com
tudo e marcaram
almoço “regado a
bom
vinho”
para dali a
poucos
dias.
Nenhum
dos
dois tocou no
assunto,
levados
talvez
pelo
mesmo
temor:
com
certas
coisas
não se
brinca...
2. Estava no
segundo
dia de
mais uma
dieta
alimentar prescrita
pela unanimidade de
seus
médicos,
com
mais
energia o
cardiologista e o
geriatra. Na
costumeira voltinha
matinal, teve a
surpresa de
encontrar
outro
médico,
seu
amigo de
longa
data.
- Estive observando
você de
longe e
sua pancinha está
muito
saliente,
precisa
entrar num
braba
restrição de
açúcares e de
carboidratos,
você
já está
careca de
saber, né?
Não gostou
nem
um
pouco do desnecessário
emprego do
careca.
Ficou
com
vontade de
pedir
sugestão de
algum
processo
mais
suave,
menos deprimente,
menos
restritivo do
que
aqueles
postos
em
prática, de
efeito
sanfona,
mas resolveu
calar o
bico.
De
volta a
casa, foi
ler
sua
correspondência
eletrônica e encontrou o
processo
não
só
mais
suave,
menos deprimente e
menos
restritivo. Ficou
tão
feliz
com as
sugestões contidas na
matéria
Dieta
de
pontos???
Que
nada!!!,
que as
torna
agora conhecidas
por
estes privilegiados
leitores:
· Se
você come e
ninguém
vê, a
comida
não tem
calorias.
Sem
provas
não há
crime.
· Se
você
tomar
um
refrigerante
diet
junto
com uma
barra de
chocolate, as
calorias da
barra
são canceladas
pelo
refrigerante.
· Se
você
comer de
olhos vendados, pode
engordar o
quanto quiser
que
nunca vai
ter
um
enfarte: o
que os
olhos
não veem o
coração
não sente.
· Ande
só
com
gente
gorda e procure
engordar
todo
mundo à
sua
volta.
Assim
você parecerá
mais
magro.
· Comida
no
cinema,
como
pipoca,
supra-sumo,
jujuba e M&M,
não é considerada
como
comida e vai
para a
categoria
cultura.
· Biscoito
quebrado tem
menos
calorias, pode
comer à
vontade.
· Comida
gelada,
como
sorvete,
não pode
ser considerada
calórica,
porque
caloria é
medida de
calor e
sorvete
nunca é
quente.
· É
um
mito
que
verdura emagrece.
Elefante é
herbívoro.
·
Lembre-se
que
cacau é
vegetal,
que
não faz
mal.
· Se
você
comer
um
chocolate
preto e a
mesma
quantidade de
branco,
sua
dieta estará
perfeitamente
balanceada.
· Não
fique chateado se
você
passar a
vida
inteira
gordo.
Você terá
toda a
eternidade
para
ser
só
osso!
·
Nem tudo está perdido,
concluiu com otimismo.
23/01/2010
emelauria@uol.com.br)
Voltar |