Daqui & dali
 

EM  LORENA

Há pouco mais de quatro meses, uma auxiliar  aqui de casa me anunciou, espantada, que um estranho homem  queria falar comigo ao telefone. Não entendi a razão desse espanto.

- Ele disse quem é?

- Não deu o nome, mas eu achei ele muito estranho, porque disse que foi seu professor!(Coloco-me no lugar dessa senhora que, sabendo minha idade, tinha tudo para estranhar que algum professor meu ainda estivesse vivo!)

Era Nelson Pesciotta, meu mestre de Sociologia na Escola Normal, em 1949, há sessenta anos. Ele estava, então,  na flor dos vinte e cinco anos.

Conversa cheia de boas reminiscências. E assim,  foi reatado nosso convívio e efetivado seu convite: que eu fosse a Lorena falar na sessão inaugural da Academia de Letras, cujo patrono seria o nosso Euclides. Ele, Pesciotta, seu primeiro presidente.

Pensei que na data marcada, 16 de agosto, eu batesse para lá sozinho, ainda mais que apenas um dia após a Semana Euclidiana. Engano ledo e cego: minha vida sofreu enorme transformação, a Semana foi adiada para outubro e por minha causa estiveram em Lorena mais outras pessoas. E que pessoas: o prefeito municipal, seu vice, a diretora da Casa de Cultura, uma euclidiana doutora em Letras, uma assessora especial e um professor do ensino médio e da Unip.

Tudo foi agradável, apesar da distância de oitocentos quilômetros entre ir e voltar. Viagem de um conforto inesperado, recepção cordialíssima, sessão de uma solenidade e variedade de comover.

Não será hoje que me deterei  no que foi conversado no percurso, em que o prefeito João Luís Cunha, o vice José Carlos Zanetti, Maria Olívia Garcia Ribeiro de Arruda e eu mal sentimos o tempo passar a bordo de um possante e belo automóvel...

Quero fazer especial referência à festividade em si,  realizada no amplo auditório do Centro Universitário Salesiano (Unisal). Para a posse de vinte e cinco acadêmicos e o mais que veio a seguir, calculo que lá estiveram presentes, prestando a máxima atenção a tudo, cerca de quatrocentas pessoas.

Convidada especial para a instalação da nova Academia, a premiada escritora de livros para a faixa etária infanto-juvenil Ruth Guimarães, titular da Academia Paulista de Letras e muito ligada a Lorena, ao Vale do Paraíba.

Uma surpresa: entre os novos imortais, a veneranda figura de um senhor de noventa e cinco anos de idade, em muito boa forma física   e melhor desenvoltura intelectual. A ele coube a honra de proclamar o compromisso da posse acadêmica e, emocionadamente, ler  poema de sua autoria em que arrola as múltiplas maravilhas da natureza e conclui com um hino de louvor à mulher... Aplaudidíssimo.

Nelson Pesciotta conduziu a sessão com muita naturalidade e me criou situação propícia de não me ater ao esquema preparado para o desenvolvimento  do tema  “Aspectos morais nas obras de Euclides da Cunha”. Pude, por exemplo, ressaltar a presença do nosso prefeito e seu vice, numa prova incomum de apoio a manifestações culturais. O auditório reagiu efusivamente a esta colocação, como que reconhecendo o ineditismo de tanta disponibilidade . Não estava também no roteiro original dar maior ênfase  à ligação entre a moralidade da obra de Euclides,  sempre um defensor dos mais fracos, e a crise de moralidade pública hoje vivida pelo País, mas fui tentado a me demorar neste aspecto, que pareceu ter sido de grande agrado para o auditório. O Brasil todo vive, mesmo, um insuperável cansaço de ver como os homens públicos vêm tratando como coisa particular os bens coletivos.

Fiquei comovido com os aplausos recebidos, com os cumprimentos ao final da bela festa, com os convites para  falar em Taubaté, Cachoeira Paulista, Caçapava...

 


Nelson Pesciotta, João Luís, eu

 


Lúcia Vitto, Jorge Boldrin, Maria Luiza Longo, José Carlos Zanetti, e
Maria Olívia Garcia Ribeiro de Arruda

 

O SERENO ENTREVISTADOR

Meu artigo da semana passada chegou muito rápido ao conhecimento de Thomaz Souto Corrêa, o sereno entrevistador em pessoa. Coisas da internet.

Já na segunda-feira, 17 de agosto, recebo um e-mail dele, em que destaco alguns trechos:

Eis-me aqui, na Cidade do Cabo, África do Sul, voltando ao hotel depois de um dia de trabalho falando mal das revistas que eles fazem e encontrando essa deliciosa crônica sobre a visita que o Pedrão e eu fizemos a Rio Pardo.

Você nem imagina – ou melhor, imagina sim – como gostamos e nos divertimos. Colhemos muito material e agora estamos diante da tarefa de escolher o que melhor vai retratar (em fotos e em texto, claro) tudo o que vimos e sentimos.

Falamos muito sobre você, e sobre aquele seu pequeno escritório enormemente ampliado pela presença de tantos clássicos. E sobre sua (.....) e tranquilidade, características que são, minha opinião, velhas companheiras de estradas bem caminhadas.

Com o centenário de Euclides (desculpe a intimidade), a imprensa paulista publicou tanta coisa, tantas matérias e suplementos e seções especiais, que me ocorreu recorrer a você  para saber – daquilo tudo – o que é que valia a pena ler, uma vez que o tempo era pouco e uma opinião como a sua teria ajudado muito.

Mas era véspera dessa viagem, a vida ficou muito corrida, e o Euclides ficou para trás, mas o resultado importante é que, por causa da nossa conversa, fiquei curioso sobre a  vida dele – e vou ter que voltar ao assunto (...)

O sereno entrevistador adorou a visita ao sereno entrevistado. Lembranças familiares, lembranças jornalísticas – até a víbora do Telmo (Martino)  entrou na conversa. (Não resisto à maldade: mas ele não morreu?)

Enfim, meu caro Márcio: vou repassar a crônica ao Pedrão (Martinelli), até para ele não esquecer que devemos uma foto ao entrevistado. A menos que não tenha ficado boa. O que acho difícil,  mas com   Pedrão nunca se sabe.

Um abraço longínquo, esperando que a gente tenha um novo contato.

Thomaz.

 

SÓ NÃO VÊ QUEM NÃO QUER

Dando-se como justificadíssimo motivo de caso fortuito e  força maior o adiamento da Semana Euclidiana  de 2009 e tendo-se como certa a sua efetivação excepcional em outra  data, mesmo assim esta nossa cidade tão devotada a Euclides da Cunha  não ficou fora do amplo foco de luz que vem clareando o centenário de sua morte.

A cobertura que a cidade mereceu este ano superou tudo o que ocorrera em épocas passadas. E não falo apenas daquela programação especial da EPTV gerada  aqui por muitas horas e acrescida de entrevistas que estudiosos rio-pardenses deram à emissora. Penso, em especial, no espaço que as estreitas relações entre Euclides e São José do Rio Pardo ganharam em entrevistas de alcance nacional, como “Observatório da Imprensa”, de Alberto Dines, lançado pela TV Brasil e reproduzido por tantas tevês públicas; como a edição especial de “Entrelinhas”, da TV Cultura, também com exibição garantida em todo o Brasil ; como o notável documentário que a Globonews dividiu entre o domingo passado e amanhã, às vinte e três horas.

Nada disso foi feito de afogadilho ou superficialmente. Pelo contrário, na esteira do centenário, nossa cidade ganhou inédita visibilidade que persistirá por todo o ano, em especial nos eventos do Seminário de Cantagalo (setembro) e na programação da Academia Brasileira de Letras (outubro).

Só não vê quem não quer o  alcance da força televisiva e suas decorrências na fixação de nossa cidade como centro privilegiado de formação e divulgação da cultura euclidiana.

 

22/08/2009

(emelauria@uol.com.br)

 

Voltar