A merecida alameda, rescaldo do apagão, etc.

 

1.  Na bela manhã de sábado, 14, a via de acesso à Cooxupé, que sai de uma grande rotatória, apresentava aspecto festivo, com banda de música até,  e uma porção de gente amiga. É que a Prefeitura Municipal, naquele momento, estava oficialmente dando àquele trecho rodoviário o justo título de Alameda Prefeito Dionysio Guedes Barretto, para isso tendo o prefeito  João Luís Cunha descerrado uma expressiva placa.  Contra meus hábitos e vítima de confusão de horários, cheguei atrasado à cerimônia e não ouvi a fala em prosa e verso, que me disseram  comovida, de meu compadre José Affonso Corrêa Netto, porta-voz da família do homenageado. Foram lembradas as múltiplas facetas da atuação de Dionysio  – de cidadão, de político, de dirigente de banco, de administrador, de empresário.

Já que a ocasião era propícia, não perdi a oportunidade de contar aos presentes um fato que me foi relatado pessoalmente por Dionysio, há uns vinte anos:

Assim que se empossou como prefeito de São José do Rio Pardo, no começo dos anos cinquenta do século passado, ele fez uma inspeção à represa, em Divinolândia, de onde provinha  água para o consumo dos rio-pardenses. O que viu não lhe agradou – uma família de leprosos  banhava-se no açude. Sua providência foi imediata: bateu para São Paulo, expôs o caso ao então governador Adhemar de Barros, e em pouco tempo saía o empréstimo estadual para a construção de um novo sistema de captação. Assim era Dionysio – um homem prático, decidido, que não dormia sobre os problemas. Bela época em que não era necessário falar com o sub do sub do sub.

Não quero causar inveja a ninguém, por isso não entrarei em detalhes da agradável reunião que se deu em seguida, num sítio de Carmen Sylvia, presente Maria Leonor, ambas filhas de Dionysio; nem falarei da originalidade e delicadeza do cardápio do almoço que reuniu umas tantas pessoas encantadas com aqueles imaginosos modos de servir tilápia acompanhada de vinho branco.

 

2.  Tenho recebido de diversas fontes imagens do apagão que atingiu, sabe-se lá por causa de quê, uma boa parte do Brasil e todo o estado de São Paulo. As imagens são espirituosas, por retratarem apenas a escuridão de breu... Fico apreensivo com aquele todo referindo-se a São Paulo. É que o celebrado blecaute não atingiu São José do Rio Pardo. Então, de duas uma: ou a notícia é exagerada ou nossa terrinha se desgarrou de São Paulo, tal como um dia José Saramago imaginou a Península Ibérica desligada da Europa e vagando pela imensidão do Atlântico,  qual nau sem rumo. E olhe que somos servidos pela CPFL, ou seja, Companhia Paulista de Força e Luz, que à primeira trovoada  lá pelos lados de Mococa ou Casa Branca, já nos deixa às escuras e, no entanto, não aderiu ao evento de expressão internacional que lançou sérias dúvidas quanto às desencontradas justificativas do apagão expressas pelo presidente Lula, por Dilma  (a mãe do PAC) e por Edson Lobão, o senador maranhense que tem a cara exata e o perfil técnico evidente de um verdadeiro ministro de Minas e Energia. Ora, pois.

3.   Ao contrário da maioria dos corinthianos e com certeza por causa de minhas origens familiares, não vejo no Palmeiras o nosso adversário preferencial. Não me esqueço é da longuíssima era Pelé no Santos Futebol Clube. Daí ainda eu considerar o hoje decadente alvinegro  da Vila (na poética e original narrativa dos locutores esportivos) o nosso verdadeiro inimigo. Assim sendo, tenho sido solidário com as angústias existenciais dos palestrinos que, do paraíso do campeonato  quase ganho folgadamente por ampla antecipação, caem agora no inferno da dúvida: disputarão a Libertadores do ano próximo? Desse perigo estamos salvos, porque num momento de rara conjunção de fatores, o glorioso Sport Club Corinthians Paulista, levantando a Copa do Brasil, garantiu-se no torneio continental  no ano em que completará cem anos de luminosa existência. É de se esperar a formação de um supertime, com a permanência do Ronalducho, a contratação de Riquelme e o reforço do lateral-esquerdo Roberto Carlos, aquele que estava ajeitando a meia  na hora do fatal ataque francês na Copa do Mundo.

Minha capacidade de proselitismo chega perto do zero em tantos assuntos, aí incluído o futebol. Basta dizer que os meus três filhos homens jamais pensaram em me acompanhar nas preferências clubísticas: os três são alviverdes desde pequeninos, catequizados nem sei por quem. Das minhas filhas recebi mais solidariedade, pois a mais velha é corinthiana  confessa, enquanto a mais nova, quando ainda criança, um dia me perguntou:

- Pai, por que time nós torcemos mesmo?

Nunca vi tanta falta de entusiasmo na adesão.

Oxalá o Palmeiras saia logo das enrascadas em que se meteu, porque não quero, de modo algum, que os palmeirenses mereçam ser chamados sofredores. De longa data, o uso desse adjetivo  no campo futebolístico é privilégio nosso...

4.  Surpreendente a reação dos leitores à publicação de cinco velhas fotos da cidade, que me foram enviadas  por  Antônio Celso Morato Chiaradia.

Com esta rapidez possível nos dias de hoje, recebi até agora umas vinte mensagens de gente nossa espalhada pelo mundo todo: um neto no Canadá, uma prima no Chile, um amigo na Inglaterra e outro em Portugal. Isso sem se contar o pessoal de São Paulo, do Rio de Janeiro e daqui mesmo. Uma paulistana que amou morar por aqui uns bons tempos resume que lá se foram as árvores, os rios não dão mais peixe, veio o asfalto, os quintais cimentados. Pelo menos por aí vocês têm paisagens à distância de uma caminhada... Impublicável neste nosso semanário geralmente familiar a frase com que o arquiteto Willian Fagiolo classificou o que andaram fazendo com velhas e belas edificações da cidade.

 De tudo fica uma perturbadora certeza: as construções novas que surgiram em locais antes ocupados por vetustos sobradões perdem longe em beleza e harmonia. Aliás, esse tipo de observação quanto ao empobrecimento arquitetônico  da cidade já havia sido comprovado fotograficamente, em décadas passadas,  pela historiadora Amélia Trevisan, inconformada com a falta de cerimônia de se botar no chão, por aqui, preciosos testemunhos de outras épocas. Outro de meus leitores inconformados denuncia que surgiram na cidade muitos e meros caixotes de cimento...

5.  Agradável e reveladora a exposição de quadros de Walter Cenci, aberta  sábado passado no Centro da Memória Rio-Pardense, com a curadoria de Bene Trevisan. (Benê e a Petrobrás fizeram reforma ortográfica própria, tirando os respectivos acentos.)

Walter é bom pintor figurativo e reuniu, através de muitos anos, um vasto acervo que fala bem de suas andanças por tantas cidades. A filha Maria Carmen Cenci pode ficar orgulhosa do êxito alcançado pela homenagem que quis prestar a seu pai.

Eu já conhecia  quase todos os quadros, antes guardados sem maior visibilidade na originalíssima casa rural em que residem pai e filha.

Prestei muita atenção às fotos e cartazes referentes à produtiva fase em que Walter Cenci participou do florescente cinema brasileiro da época de ouro da Vera Cruz. Ninguém de maior beleza pessoal do que Tônia Carrero. Ah, os tempos heróicos da TV Tupi e todo o seu pioneirismo que influiu poderosamente nos destinos da própria televisão brasileira...

 

21/11/2009
emelauria@uol.com.br)

 

Voltar