SEMANA CHEIA
Coração materno Tocante o belo texto de Maria Olívia Garcia Ribeiro de Arruda rememorando publicamente facetas de seu amor à filha que adentra a plenitude da vida, a casa dos trinta. Além de toda a capacidade redacional exigida pela delicadeza do tema, foi preciso coragem para expor sentimentos tão profundos, daqueles que pessoas podem ter para com os outros, mas os guardam a sete chaves, especialmente porque ignoram como pô-los para fora sem dar a idéia de estarem reescrevendo dramalhões em cinco atos. Quem sabe sabe.
Horas da saudade Quem não foi à festa comemorativa dos setenta anos de inauguração do prédio do “Euclides da Cunha” perdeu a cada vez mais rara oportunidade de participar da emoção criada, vivida e compartilhada por pessoas que têm autênticas saudades de um estilo de vida incompreensível para os mais novos -- e não precisa ser tão novo assim. No tempo de Maria José Campos Frigo a escola não era risonha e franca, mas, com seus obstáculos, exigências e gentilezas, deixou marcas que persistirão até o término dos dias de cada um e causarão crescente perplexidade entre os que sabem das coisas apenas por ouvir dizer.
O tesouro da mestra Adelaide Breda Destro nem precisou pesquisar o que dizer em sua aula magna. Inigualável, felizmente, a bela sensação que podem ter os professores de saber que em seus corações e mentes armazenam dissertações prontinhas, cheias de sabedoria e graça, à espera apenas das oportunidades, esporádicas, e de assistentes, ocasionais, dispostos a ouvi-las e a tirar delas as lições sedimentadas pela coerência de atitudes e pela firmeza dos ideais. Os conteúdos programáticos nada mais são do que ensejos destinados à proclamação das verdades definitivas. Quem tiver ouvidos de ouvir que ouça, sempre.
Vozes concertadas Foram duas vezes, dois locais, dois coros e dois encantamentos. É sempre consolador saber-se que há pessoas jovens na idade ou no coração, capazes e empenhadíssimas em criar bons momentos para públicos acolhedores. Caem as barreiras do antigo e do moderno, do erudito e do popular. A beleza das vozes, o apuro técnico das execuções, a felicidade da escolha dos repertórios levam os ouvintes a situações de puro enlevo e a querer sempre mais, mais. Não há nenhuma outra forma de paga que supere a de perceber aquele toque direto da música no coração de homens e mulheres, crianças, moços, velhos. Giovana Frozoni, Maria Teresa Ratti de Oliveira e companhia belíssima!
A poesia é necessária Muito feliz Cidinha Granado, uma das professoras de Português do atual “Euclides”, lendo para aquele público especial seu poema nascido ali, no calor da hora. Eis um trecho: É tristeza o que temos/ No presente vazio?/ Não é tristeza é saudade/ Coisas da idade/ Sensação noturna/ Falta da lua/ Queremos voltar. De se gostar muito, porque, desde logo, sentiu-se a autenticidade emocional de cada palavra.
A voz embargada Nem rio-pardense é, mas o será em breve. Apenas a conjugação de tantas qualidades, como a generosidade, a disponibilidade, a persistência, a tolerância explica o total êxito de Flávio Eduardo Leme de Godoy na sua visionária decisão de reunir pessoas num retorno à velha escola. Retorno, reconheça-se, cada vez mais difícil, porque cinco ou dez anos de intervalo é tempo em demasia para a Grande Ceifa. Quem veio à festa dos sessenta e faltou à dos setenta? Além das desistências justificadas pelas distâncias, pelas limitações físicas, em grande número aquelas dos que, como resumiu com sabedoria Manuel Bandeira, estão dormindo, dormindo profundamente. Lembraram-se duas perdas recentes: Vinício Rocha dos Santos e Roberto Del Guerra, mas houve outras, muitas outras. Curtíssima a memória dos homens.
O ágape Ah, sim, a sessão dos quem é você?, dos lembra-se de mim? começou cedo, nas preliminares da festa, e só terminou ao longo daquele almoço tão sem pressa, que avançou pela tarde. Não havia mesmo como reatar tantas pontas desatadas pelas ausências e pelas contingências todas. Sentiu-se muita saudade de velhos mestres, de bons colegas, de ausentes e presentes. Mas a maior das saudades era aquela que as pessoas sentem de si mesmas, naquela etapa crucial da vida que se poderia chamar a era da inocência.
A alegria das palhaças Na manhã de 15 de outubro, na praça ensolarada, a súbita homenagem das palhaças – senhoras, mocinhas com suas roupas folgadas, seus rostos vermelhos e suas bolotas na ponta dos narizes. Eram alunas do curso de Letras da UNIP, empenhadas na Escola da Família, que fizeram com suas criancinhas o afetuoso e improvisado cerco ao professor que por ali passava desapercebido, já pouco afeito a manifestações tão espontâneas. Inesquecível.
Mensagens amigas Obrigado a todas, de tantas partes, de alunos de tantas épocas. É sempre bom saber que há com quem compartilhar sentimentos que não mudam. Às vezes vale muito o implícito nos não-ditos. O inefável é exatamente isso.
Guerra & paz na internet E-mail n.º 1: O leitor chama o escriba de ignorante em História e difamador do bom nome do Brigadeiro Eduardo Gomes, criador do Correio Aéreo Nacional. E-mail n.° 2: O escriba rebate e diz que votou no Brigadeiro em 1950 – seu primeiro dos muitos votos nos bons, perdidos ao longo de mais de meio século de exercícios eleitorais. Diz que o leitor não entende o que lê. E-mail n.° 3: O leitor reconhece seu exagero e pede desculpas ao companheiro de decepções. E-mail n.° 4: O escriba não só aceita as desculpas, mas também escreve coisas consoladoras ao leitor um pouco mais velho do que ele... Novos e-mails virão, com protestos de mútua estima e elevada consideração. Tudo pela internet, no prazo de duas horas. Os velhinhos (74 um e 75 o outro) deitam e rolam nas ondas das inovações tecnológicas que encurtam distâncias e valorizam cada minuto.
21/10/2006 |