De perto, de longe

  
Jacarandá-mimoso debruçado sobre o rio.

 

UM CIDADÃO EXEMPLAR

Na tarde chuvosa de terça-feira, enterramos o corpo de Osmany Junqueira Dias, que sucumbiu à passagem do tempo: morreu na penosa quadra dos que superam os noventa anos.

À semelhança do que já ocorreu com outros velórios de pessoas avançadas em idade, percebo que não muita gente comparece a eles, por causa, principalmente, de um dado cada vez mais frequente: os muito velhos acabam perdendo quase tudo, principalmente os amigos e conhecidos. Os de sua época de plena atividade já morreram e os remanescentes se tornaram mais isolados, menos comunicativos. Os muito velhos já não dispõem de testemunhos sobre suas vidas e suas obras. Sobram, felizmente, os parentes que muitas vezes preservam e reverenciam a memória dos que se foram.

Quem, com menos de cinquenta ou sessenta anos, conheceu o trabalho de muitas décadas desenvolvido no âmbito da agricultura por Osmany? Poucos, certamente. No entanto, sua atividade profissional, seu desempenho público sempre foram em favor do correto aproveitamento do solo, do conservacionismo, da constante melhoria nas relações entre o homem e seu meio ambiente. Foi um ecologista, bem antes de o termo entrar em uso.

Agrônomo originário da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (USP – Piracicaba), Osmany não se ateve a cuidar do que era seu, de seus familiares, basicamente a Fazenda Graminha. Teve a melhor fase de sua criatividade dedicada ao serviço público estadual, além do exercício de outras delegações que exigiam dedicação e competência. Paralelamente a isso, foi constante articulista tanto na imprensa local (Gazeta do Rio Pardo) quanto no órgão de maior prestígio entre os ruralistas do Brasil, o jornal O Estado de S. Paulo. Era nome de expressão nacional em seu meio.

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Meu contato com Osmany se deveu muito à política, quer partidária, quer legislativa. A convite do amigo e colega Itagiba d’Ávila Ribeiro, participei, com vinte e poucos anos, de algumas reuniões em que pontificava a figura de seu pai, Francisco Spínola Dias, o Francisquinho Dias, que dá nome a uma de nossas principais ruas.

Osmany e eu fomos colegas de bancada na Câmara Municipal durante uma  legislatura. Muitas vezes conversei com ele, antes ou depois das sessões e em diversas oportunidades suas explicações técnicas tornaram mais fundamentadas e mais conscientes minhas manifestações em assuntos para mim desconhecidos.

Desse nosso convívio não propriamente íntimo, mas cordial, guardei duas observações que bem marcaram para mim a probidade e a independência de Osmany Junqueira Dias.

1.  Uma vez, em que vereadores tratavam da necessidade da constante presença de máquinas motoniveladoras da Prefeitura na conservação das estradas municipais (São José do Rio Pardo tem mais de quinhentos quilômetros delas), Osmany me passou uma sábia lição: o grande diferencial entre o bom e o mau preservador do solo está no que ele quer que a motoniveladora trabalhe no caminho da água da chuva que cai nas vias rurais. Se ele pedir ao manejador da máquina que a faça correr para dentro de sua propriedade, ele será um conservacionista que pensa na correta umidificação do solo e na importância das curvas de nível. Se, porém, o dono de terra pedir que a água seja desviada de suas terras, ele será um causador de erosão, um potencial fazedor de deserto.

2.   Ao fim do mandato daquela legislatura e aproximando-se a data das convenções partidárias que escolheriam os candidatos à vereança (como acabou sendo meu caso), perguntei-lhe se ele se apresentaria de novo. Sua resposta foi incisiva: “Para mim chega. Não encontrei na Câmara ambiente adequado ao trabalho que eu pretendia desenvolver.  Não sirvo para ser político, é muito desperdício de tempo e de energia”. E não se recandidatou.

3. Osmany Junqueira Dias, sem dúvida um homem de caráter, um cidadão prestante.

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ESPIONAGEM DESLAVADA

Não há como não se colocar contra o mandonismo e desfaçatez próprios do governo norte-americano neste recente caso comprovado da espionagem não apenas contra o Brasil, mas contra seus dirigentes, contra seus recursos naturais, notadamente os do pré-sal.

Por isso, fez muito bem a presidente da República suspendendo a visita de Estado que faria à América do Norte no mês de outubro, uma vez que os pretensos fiscais do mundo não se dignaram de imaginar qual seria uma boa desculpa que ofereceriam ao governo brasileiro.

Não houve, porém, como não rir das imaginosas situações que o humor internacional e o brasileiro criaram sobre o tema.

Humor internacional: Um menininho chega bem perto do Obama e lhe dá a maior bronca: “Meu pai disse que o senhor não tem direito de se intrometer na vida das pessoas! Isso é muito feio e muito errado!” O presidente americano, impassível, lhe cochicha ao ouvido: “Aquele sujeito que mora na sua casa não é seu pai!”

Humor nacional: Dilma e Obama se encontram informalmente na recente conferência de São Petersburgo. Dilma, querendo desclassificar a precisão da espionagem americana, lança seu desafio: “Se vocês são bons nesse assunto, então me diga qual é a marca de minha roupa íntima!” Obama nem titubeou: “Zorba.”

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FIM DE UMA COISA OU COMEÇO DE OUTRA?

A imprensa internacional, notadamente a espanhola e a italiana, vem tratando com frequência de dois temas que bem serviriam como prova provada da intenção do Papa Francisco de promover profundas modificações na Igreja Católica: o fim do celibato clerical obrigatório e o início da ordenação sacerdotal de mulheres.

Calcula-se que haja no mundo todo mais de cinquenta mil padres que se casaram após licença concedida e que mostram desejo de retornar ao sacerdócio, se isso vier a ser admitido.

O número de mulheres, consagradas ou leigas, que se disporiam ao exercício sacerdotal é de magnitude impressionante, envolvendo milhões delas.

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PELÉ E A SELEÇÃO COLOMBIANA

Corre na internet o que garantem ser originário da televisão colombiana.

O locutor, em off, relembra que em 1993 a seleção de futebol do país fizera uma brilhante campanha na luta pela classificação ao Mundial que se daria nos Estados Unidos, no ano seguinte. Edson Arantes do Nascimento, o nosso Pelé, interrogado sobre que países teriam condições de levantar o título mundial, não teve dúvidas – incluiu a Colômbia entre os favoritos. Veio o campeonato, o Brasil venceu e a Colômbia fez um papelão daqueles.

Agora, vinte anos depois, de novo a seleção colombiana vai bem, muito bem. E por isso mesmo vem o estranho pedido do locutor, representando a vontade de todos os seus compatriotas: está implorando a Pelé que em nenhuma hipótese diga uma só vez que a Colômbia tem uma seleção capaz de lutar pelo título de 2014, no Brasil. Não usa contra Pelé o pejorativo termo pé-frio, que talvez nem exista em espanhol. Chama-o apenas de falso Nostradamus, o que não é pouco.

 

BRASILEIRO, PROFISSÃO: ESPERANÇA

E os tais embargos infringentes, hem? O quilométrico voto de Celso de Melo não causou surpresa a quem conhecia o teor de suas decisões anteriores e a quem sabia a importância no Direito internacional do chamado duplo grau de jurisdição. O resto é silêncio.

 

21/09/2013
emelauria@uol.com.br

 

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