Uma perda e diversos ganhos

 
José Carlos Zanetti, João Batista Santurbano, Márcio José Lauria, Lúcia Vitto,
Ana Paula Lacerda, Rachel Bueno e o conferencista Rildo Marques de Oliveira.

 

A perda, lamentável a tantos títulos, foi a repentina morte de Lando Lofrano, professor  e euclidiano dos mais respeitados.

Deixou-nos ele a 15 de agosto e mereceu justas homenagens tanto de seus irmãos de fé quanto dos colegas do Ciclo de Estudos, então assoberbados no dia final de mais uma Semana Euclidiana.

Aluno de mestres consagrados como Hersílio Ângelo e Láercio Barbosa, ele exerceu seu magistério em Campinas, Mococa e São José do Rio Pardo, quer em classes de ensino médio, quer em cursos superiores de Letras.

Por onde passou, deixou firmado um alto conceito de educador, capaz de não apenas transmitir (e bem)  os conteúdos de nossa língua e de nossa literatura, mas sempre muito preocupado com a formação de cidadãos lúcidos e prestantes.

Mantive com ele  um longo e salutar convívio, mesmo depois de nós dois termos atingido aquele estágio da vida em que pudemos dispensar compromissos e horários. Guardo de tudo vivas recordações, em especial  as nossas prosas nos intervalos de aulas na UNIP e seu amistoso empenho redacional no  belo prefácio a meu livro Vidro de aumento (2006).

 

Uma prova de resistência cardíaca

Na aparência, o que Lúcia Vitto me pedia  era algo de fácil e até prazerosa realização:  na conferência de 14 de agosto, eu deveria  traçar breves perfis de dois dos homenageados na Semana-2016,  Honório de Sylos e Francisco Marins.

De repente, eu me vi colocado como merecedor de homenagem pessoal de alta significação, tudo a propósito do que teria significado minha longa jornada euclidiana de mais de sessenta anos, ressaltada agora a propósito da passagem do sesquicentenário do nascimento de Euclides.

Não bastassem as palavras da própria Lúcia, ainda duas ex-alunas e atuais integrantes do Ciclo de Estudos descobriram em mim qualidades que só a amizade consegue  garimpar. Por isso, guardarei o mais profundo reconhecimento à iniciativa de Lúcia e  aos conceitos em prosa e em versos que sobre mim formularam Maria Aparecida Granado Rodrigues e Maria Olívia Garcia Ribeiro de Arruda.

Com isso tudo, meu coração foi posto à prova e se portou com a necessária galhardia.

 

Atualizando Euclides

Tem uma ponta de vitória pessoal quando se comprova que maratonistas de passados anos aqui retornam, na difícil condição de conferencistas, convidados  por causa de seus êxitos nos mais inesperados ramos da atividade humana.

Na conferência de 14 de agosto, esse honroso papel foi atribuído a Rildo Marques de Oliveira, cujo alentado currículo o torna uma das  personalidades brasileiras mais empenhadas na  boa causa de defesa dos direitos humanos.

Muitos de nós sabemos como soa insuportavelmente apaixonado o recado da grande maioria de pessoas engajadas em causas de grande controvérsia, como é o caso do reconhecimento  dos direitos de minorias,  de vítimas de preconceito de toda ordem.

Para surpresa de muitos de nós euclidianos e do atento público que lotou o auditório do Centro Cultural Ítalo-Brasileiro, Rildo, com  informalidade até no trajar, deu  recado profundo, sincero e isento daquele sectarismo que torna tediosa a manifestação de tantos salvadores da pátria e reformadores do mundo.

Longe disso, ele, com todas as limitações do tempo que lhe foi destinado, não só tornou muito simpáticas as teses e práticas de sua convicção, como ainda, com superior capacidade de exposição, pôde  mostrar que Euclides da Cunha, em toda a sua obra, foi um consciente precursor de teses apenas bem  mais tarde tornadas correntes no Brasil e no mundo todo.

Daí as justas palmas que, por diversas vezes, interromperam sua exposição e ainda coroaram a concordância daquela seleta assistência  aos pontos de vista que  Rildo, advogado com mais de trinta anos de militância, defendeu com razão e coerência.

 

Um marcante Dia dos Pais

Como está difícil, quando não impossível, a reunião da filharada, cônjuges, netos e até uma bisneta! Esta problemática  forma de coesão familiar foi o melhor  do Dia dos Pais. Em torno à mesa da velha casa, quatorze pessoas dedicaram bem  mais de duas horas ao quase esquecido costume de comer sem pressa coisas ótimas como camarão na moranga, preparado ali na hora, a não sei quantas mãos. Enquanto isso, brotaram reminiscências, cobranças; conversas jogadas fora animavam o ambiente e davam a observadores mais atentos  a plena certeza de que aquilo era bom e até necessário. O ideal é que se repita.

Claro, os presentes de gostos e finalidades tão variados ofertados ao lembrado pai. Peças de roupas da melhor qualidade, produtos de bem cuidar do corpo, CDs inesperados, como Messa da Requiem, de Giovanni Bottesini, injustiçado  contemporâneo de Verdi. E um livro recém-lançado pela infelizmente finada editora Cosacnaify – O brilho do bronze, de Bóris Fausto, prestigiado historiador  que reflete sobre o luto após a morte da esposa. Atirado repentinamente à solidão, propõe-se ao desafio de escrever um diário. Coisa fina. E tocante.

 

20/08/2016
emelauria@uol.com.br

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