Sabendo ver as coisas A professora e euclidiana Célia Mariana Franchi Fernandes da Silva lançou um olhar mais profundo sobre uma fotografia do professor Márcio José Lauria e teorizou a respeito. Perceba a diferença possível de interpretação da mesma foto antes e depois de ler o texto a seguir.
Linda foto! É da sua casa, com certeza. Vamos "filosofar" lato sensu: Ernesto Grassi (Arte e Mito. Lisboa: Livros do Brasil - Lisboa, s/d, p.10,12 e 35, entre outras), tendo experimentado o terror da natureza virgem, diz que esta é o puro inóspito e que, se não houver um projeto humano medianeiro entre nós e ela, estamos no reino da absoluta incomunicabilidade. A arte é uma tentativa de aprisionar e delimitar a natureza por meio de projetos humanos que detenham seu constante fluxo e evanescência. A arte instaura um mundo e uma ordem "nos quais uma multiplicidade se transforma numa totalidade". A arte alcança "a totalidade de um cosmos, de um mundo ordenado". Voltando à sua foto, dentro desse referencial: aquilo que na sua casa (suponho que seja a sua casa) é uma multiplicidade converteu-se numa totalidade, através do corte estético que você (suponho que foi você) engendrou. Nasceu um quadro cuja beleza reside em quatro aspectos: 1) no contraste entre a natureza viva e vicejante da folhagem e o cimento armado da escada - contraste que subentende um confronto, porque tanto na folhagem quanto na escada há um projeto humano - provavelmente um vaso na primeira e formas geométricas na segunda. 2) no enquadramento diagonal absolutamente simétrico do corrimão e da linha inferior da escada. 3) no jogo das cores. 4) no mistério incapturável que perpassa a cena, meio surreal, escada de Jacó que vai e vem. Enfim, você está de parabéns. Célia Mariana Franchi Fernandes da Silva
19/12/2009
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