Fechando a Copa
Torcida brasileira Não é que os brasileiros estivessem torcendo pelos alemães. Apenas secavam a Argentina. No fundo, no fundo, nós queríamos que os dois perdessem. Já que isso era impossível, o jeito foi fazer de contas que os 7x1 da terça-feira eram ferida de um passado remoto. O jornal esportivo argentino Olé não entendeu assim. Chamou todos os brasileiros de indignos porque preferiram os alemães.
É outra coisa Ver uma final de Copa do Mundo sem precisar roer unhas, proferir os mais cabeludos palavrões ou arrancar restantes cabelos é uma delícia. Dá para apreciar a beleza do estádio, o colorido das pessoas, a insuperável paisagem carioca num ameno fim de tarde, com o Cristo assistindo a tudo, braços abertos, impassível. E, principalmente, um futebol jogado com técnica e raça.
A maior injustiça Foi dar ao Messi a título de melhor jogador da Copa. De pleno direito, a honraria coube ao holandês Robben, exemplo de lutador que uniu classe, disposição e fôlego, muito fôlego aos trinta anos.
Beijo vampiresco Não deixa de ter uma boa dose de ironia não o beijo que o Messi mandou para todos os brasileiros, mas o local onde ele queria aplicá-lo: em nosso ombro, como o uruguaio Suárez fez com o incauto jogador italiano. Sujeito de sorte esse Suárez: talvez mais por causa da dentada do que pelo seu bom futebol, acabou contratado pelo Barcelona. Experimente você sair por aí mordendo ombros.
Unanimidade contra Foi o que o Felipão e sua famiglia mereceram do povo brasileiro, tanto pelos 7x1 contra a Alemanha, quanto pelo 3x0 contra a Holanda. Muito tempo será necessário antes que todas as sequelas dessas derrotas desonrosas deixem de influir negativamente no espírito nacional.
Seleção ideal A da Copa 2014 tem seis alemães, três argentinos e dois holandeses. O critério da FIFA apresenta algo de muito injusto: no caso de dois jogadores terem obtido o mesmo número de votos do júri especializado, foi declarado vencedor o atleta da seleção que alcançou a melhor classificação final. Apenas isso explicou a inclusão de Messi em desfavor do grande Robben.
Copa das piadas prontas Um dos jogadores holandeses que marcaram contra o Brasil no jogo do sábado chama-se Blind, que significa cego, tanto no inglês quanto no holandês. Quer dizer, naquela defesa brasileira até cego marca. Ainda bem que nenhum jogador se chama Noleggs, sem pernas. Frase holandesa que encontro no Google: Liefde maakt blind, que significa “o amor é cego”. Futebol também é cultura.
Técnico estrangeiro José Maria Marin, aquele ex-cabelo pintado que ainda preside a CBF, cogita contratar um técnico europeu de renome para mudar a cara do futebol nacional. Pensa-se em Guardiola, Ancelotti, Mourinho. Será que algum deles, todos muito ricos, aceitaria o desafio? Sei não, especialmente porque conhecem as qualidades e os defeitos dos bons jogadores brasileiros que atuam fora do Brasil. Têm muitos e rendosos compromissos como garotos-propaganda que os tornam milionários em pouco tempo. Jogar futebol passou a ser um detalhe na vida deles.
Entrevistando o Fred No domingo à noite, um programa esportivo-humorístico do canal Sportv resolveu conversar com o nosso, digamos, centroavante Fred, que praticamente não pegou na bola na Copa inteira. Sabe quem entrou para ser entrevistado? Um cone, isso mesmo, um cone desses de borracha que servem para indicar local impedido. Fred recebeu pouquíssimas bolas durante todos os jogos e fez um papel semelhante ao dos cones que ficam paradinhos onde os colocam.
Alguma coisa boa fica Não há como negar. Fica-se pensando no que se pode fazer na Arena Amazônia, de Manaus. Como ocupar os seus quarenta mil lugares, sabendo-se que em média mil pessoas assistem a jogos do campeonato amazonense. Verdade que na decisão do ano passado foram três mil. Alemães deixaram não só boa impressão, mas um bom dinheiro para a cidadezinha baiana onde se hospedaram. Doaram um veículo novinho. Legaram saudades também, sabe-se lá de que tipo. Ah, foram educadíssimos dentro do campo, a ponto de quase pedirem desculpas pelos muitos gols marcados em cima do Júlio César. Até disseram que eles mesmos já haviam sido eliminados numa semifinal disputada na própria Alemanha. Nada novo sob o sol.
A verdadeira goleada: 80 a 0 Oitenta alemães já ganharam o Prêmio Nobel, até agora, nas diversas áreas do saber.
Agora é tarde: Inês é morta Pessoas muito vividas no futebol não têm dúvidas: aquele apagão de seis minutos que se abateu sobre os brasileiros no jogo contra a Alemanha, não teria acontecido se no time houvesse alguns jogadores mais calejados, tipo Ronaldinho Gaúcho, Robinho, Kaká. Fica para a próxima, se o Brasil for classificado para a Rússia-2018. Outra Copa no Brasil? Quem sabe lá por 2078, ou seja, sessenta e quatro anos depois, a mesma diferença de tempo entre 1950 e 2014. Aí serão vingados o maracanazo e o mineirazo. Quem viver verá.
19/07/2014 |