EUCLIDES DA
CUNHA
E
SÃO
JOSÉ DO
RIO
PARDO
(Destinado
essencialmente
aos visitantes da
Casa
de
Cultura
Euclides da
Cunha
e do
Recanto
Euclidiano)
EUCLIDES DA
CUNHA
* Cantagalo – RJ, 20 de
janeiro
de 1866
+
Rio
de
Janeiro,
15 de
agosto
de 1909
Depois
de uma
infância
atribulada e
sem
lar,
Euclides freqüenta a
Escola
Militar
da
Praia
Vermelha,
Rio
de
Janeiro,
de
onde
é
desligado
por
indisciplina,
ao
arrojar
seu
sabre
aos
pés
do
ministro
da
Guerra.
Com
o
advento
da
República,
volta
por
pouco
tempo
ao
Exército,
mas
se define
profissionalmente
como
engenheiro
civil.
Mandado,
em
1897,
como
repórter
do
jornal
O
Estado
de S. Paulo a
Canudos,
interior
da Bahia, acompanha de
perto
os
últimos
dias
da
resistência
dos
seguidores
de Antônio
Conselheiro
às
forças
federais.
Da
observação
e
profundo
estudo
dos
homens
e das
paisagens
da
agreste
região,
nasceram Os
Sertões,
livro
a
que
dá
forma
definitiva
em
São
José do
Rio
Pardo,
enquanto
dirige
como
engenheiro
os
trabalhos
de
reconstrução
da
ponte
metálica,
adernada
pela
força
das
águas
caudalosas do
rio
Pardo.
Com
a publicação de Os
Sertões
(1902), deita-se
obscuro
e levanta-se
famoso,
tendo sido
logo
eleito
para
a
Academia
Brasileira
de
Letras
e
para
o
Instituto
Histórico
e
Geográfico
Brasileiro.
Colaborador do
Barão
do
Rio
Branco,
então
ministro
das
Relações
Exteriores,
é Euclides da
Cunha
incumbido de
comissões
científicas e publica
Peru
versus
Bolívia (1907).
Escreveu
ainda
vários
ensaios
e
estudos,
posteriormente
reunidos
em
Contrastes
e
Confrontos
(1907) e
em
À
margem
da
História
(1909,
obra
póstuma).
Canudos
(Diário
de Uma
Expedição)
só
vem a
lume
em
1939.
Nomeado
professor
de
Lógica
do
Colégio
Pedro II, do
Rio
de
Janeiro,
dias
após
cai assassinado, ao
procurar
desagravar
sua
honra
doméstica.
EUCLIDES
EM
SÃO
JOSÉ DO
RIO
PARDO
(1898 – 1901)
Chegando a
São
José do
Rio
Pardo,
mal
iniciara Euclides da
Cunha
o
seu
livro.
É de crer-se
que
trouxesse prontas,
mas
sujeitas às
suas
revisões
sempre
substanciais,
apenas
as
páginas
sobre
“A
Terra”
e algumas de “O
Homem”,
uma
sexta
parte
do
livro,
se
tanto.
Foi esta
cidade
o
lugar
onde
conseguiu
lançar
âncora
em
porto
calmo
e
estudar,
meditar,
escrever,
com
os
vagares
que
até
então
desconhecia.
A
reconstrução
da
ponte
metálica
do
rio
Pardo,
que
as
águas
tinham abalado
alguns
dias
após
a
inauguração,
foi-lhe o
ensejo
de
aqui
residir.
Na
cidade
e
vizinhanças
não
lhe
faltaram
amigos,
dispostos
a ouvi-lo, aplaudi-lo e animá-lo.
Dentre
todos,
avulta Francisco Escobar, a
quem
coube a
missão
de
incentivar
o
irrequieto
Euclides a
prosseguir
na
elaboração
de Os
Sertões.
Da
simpatia
de Euclides
por
esta
cidade
e
por
seus
amigos,
jamais
esquecidos, dá
conta
um
trecho
de
carta
enviada
a Escobar
em
1908,
sete
anos,
portanto,
depois
de
seu
desligamento
de
São
José do
Rio
Pardo:
”Que
saudades
de
meu
escritório
de
zinco
e
sarrafos,
da
margem
do
rio
Pardo!
Creio
que
se
persistir
nesta
agitação
estéril
não
produzirei
mais
nada
de
duradouro.”
A
ponte
reconstruída
por
Euclides foi inaugurada a 18 de
maio
de 1901.
O
VALOR
DE OS
SERTÕES
A unanimidade da
crítica
e dos
estudiosos
aponta
este
livro
como
um
marco
l na
cultura
e na
literatura
brasileira,
obra
indispensável
para
a
compreensão
do
nosso
próprio
caráter
nacional.
O
maior
livro
do Brasil,
segundo
Samuel Putnam,
seu
tradutor
para
o
inglês.
É na
verdade
uma
obra
singular,
ao
mesmo
tempo
o
livro
de
um
homem
de
ciência,
um
geógrafo,
um
geólogo,
um
etnógrafo; de
um
homem
de
pensamento,
um
filósofo,
um
sociólogo,
um
historiador; e de
um
homem
de
sentimento,
um
poeta,
um
romancista,
um
artista,
que
sabe
ver
e
descrever,
que
vibra e sente
tanto
aos
aspectos
da
natureza
quanto
ao contacto do
homem,
e estremece
todo,
tocado
até
ao
fundo
da
alma,
comovido ate às
lágrimas,
em
face
da
dor
humana,
venha
ela
das
condições
fatais
do
mundo
físico,
as
secas
que
assolam os
sertões
do
norte
brasileiro,
venha da
estupidez
ou
maldade
dos
homens,
como
a
campanha
de
Canudos.
O
tema
de Os
Sertões
(a
campanha
de
Canudos,
obscuro
episódio
no
início
da
República)
poderia
ter
dado
origem
a uma
simples
obra
histórica,
mas
tornou-se
monumento
da
nossa
língua
e da
nossa
literatura,
graças
à
força
da
transfiguração
poética
da
realidade
e
pela
originalidade
do
estilo,
elevado
à
alta
categoria
de
instrumento
de
expressão
.
Com
seu
livro,
Euclides da
Cunha
funda
a
nossa
própria
consciência
crítica,
interpretando cientificamente
um
fato
contemporâneo.
Procura
demonstrar
que
os
jagunços
rebeldes
não
eram culpados de
crime
algum;
antes,
eram
vítimas
de
um
complexo
de
fatores
raciais,
geográficos
e
históricos.
Daí
assumir
a
obra
a
postura
de
livro
vingador,
protestando
contra
a
brutalidade
cega
das
forças
do
Governo,
que
não
soube
compreender
a
real
situação
das
massas
revoltadas.
A SEMAMA
EUCLIDIANA (DE 9 A 15 DE
AGOSTO)
Iniciada
em
1912,
como
romaria
de
saudade
de uns
poucos
amigos
à
cabana
onde
Euclides escrevera Os
Sertões,
a
Semana
Euclidiana tornou-se
raro
exemplo
de
atividade
cultural
ininterruptamente
realizada. Incentivada
pelo
Grêmio
Euclides da
Cunha
(fundado
em
1925), planificada
nos
anos
40
por
Oswaldo Galotti e Hersílio Ângelo e
tornada
oficial
a
partir
de 1946,
com
a
criação
da
Casa
Euclidiana,
hoje
Casa
de
Cultura
Euclides da
Cunha,
a
Semana
Euclidiana se firmou
como
a
mais
expressiva
manifestação
pública
a
um
homem
de
letras.
Na
Semana,
a
cidade
faz
jus
ao
título
de “Meca do Euclidianismo” e
conta
com
a participação
ativa
e
respeitosa
da
mais
alta
intelectualidade.
Conferências,
ciclos
de
estudos,
maratonas
estudantis,
recitais,
desfiles,
exposições,
promoções
esportivas
e
sociais
-
tudo
culmina
com
uma
romaria
cívica
ao chamado
Recanto
Euclidiano.
A
Casa
de
Cultura
Euclides da
Cunha
(Rua
Marechal
Floriano,
esquina
de Treze de
Maio),
instalada
em
imóvel
em
que
o
escritor
residiu
com
sua
família,
mantém
aberta
à visitação
pública
grande
quantidade
de
material
referente
a Euclides, a
Canudos,
ao
grande
livro.
Abriga
ainda
acervos
euclidianos doados pelas
famílias
de Oswaldo Galotti e Hersílio Ângelo,
entre
outros.
O
RECANTO
EUCLIDIANO
À
margem
esquerda
do
rio
Pardo,
a
menos
de
cem
metros
acima
do
local
onde
adernara a
ponte
primitiva,
ergueu Euclides uma
barraca
sombreada
por
uma
paineira
de
forma
estranha,
como
que
a
proteger
com
espalhada e retorcida ramaria a
rude
construção.
Um
verso
de Shakespeare
escrito
a
zarcão
à
entrada
da
cabana
expressava
por
certo
a perplexidade do
engenheiro
ante
o
desabamento
da
ponte,
a
maior
obra
urbana
até
então
executada
pelo
Departamento
de
Obras
Públicas de
São
Paulo: What shall do a man but to merry... (Que
poderá
fazer
um
homem
senão
rir...)
A
cabana
ainda
está
firme,
transformada
em
monumento
nacional,
envolta
desde
1928 numa
redoma
de
vidro.
A
paineira
retorcida
não.
Caiu há
muitos
anos,
sucumbindo à
noite
em
meio
a
um
temporal.
Dela foram recolhidas
sementes
que
germinaram e deram
outra
paineira,
hoje
adulta
e periodicamente florida, sombreando o
escritório
de
sarrafos
e
zinco.
A
poucos
metros
da
cabana,
numa peanha de
granito
rosa,
está o
medalhão
em
bronze
de Euclides,
com
o
verso
autobiográfico
insculpido:
Misto
de
celta,
de
tapuia
e
grego...
Inaugurou-se o
monumento,
doação
do
jornal
O
Estado
de S. Paulo,
em
1918,
com
a
presença
do
grande
poeta
parnasiano
Vicente de
Carvalho,
de
quem
Euclides prefaciara os
Poemas
e
Canções.
Nos
anos
60, o
piso
do
espaço
aberto
entre
a
cabana
e a peanha
com
medalhão
ganhou o
simbolismo
de
um
nordestino
sol
de
pedras,
em
cujo
interior
as
palavras
Terra,
Homem
e
Luta
se entrecruzam
em
variadas
sugestões
gráficas.
O
autor
desse
desenho,
escolhido
em
concurso
público,
é o
artista
rio-pardense Ênio Lamoglia Possebon.
Os
despojos
de Euclides da
Cunha
e de
seu
filho
de
igual
nome
foram trasladados do
cemitério
de
São
João
Batista
(Rio
de
Janeiro)
para
um
Mausoléu
construído
pela
Administração
Municipal, sendo
prefeito
o Dr. Richard
Celso
Amato. O
projeto
arquitetônico e
paisagístico
do
local
( a
poucos
metros
da
cabana
histórica)
é de autoria do rio-pardense Luís Antônio
Parreiras
Menechino.
O
ato
solene
de
depósito
das
urnas
contendo os
restos
mortais
do
escritor
e de
seu
filho
deu-se a 15 de
agosto
de 1982.
19/03/2005
(emelauria@uol.com.br)
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