Uma foto, muitos anos depois
Ela veio junto com um material euclidiano que Walmyra e Zezinho Menechino me encarregaram de encaminhar como doação à Casa de Cultura Euclides da Cunha. Não há data, mas tudo faz crer que tem quase cinqüenta anos. Talvez de 1960. O local está facilmente definido: o jardim da Praça XV de Novembro defronte ao Raddi e ao Pavilhão. O prédio do antigo cinema sofreu radical transformação, virou Cine São Francisco, até ser vendido e demolido para dar lugar à agência da Caixa Econômica Federal. O Raddi pouco mudou, conservando até hoje seu nome em grandes letras de cimento. Nada está escrito na foto, mas certamente é um grupo de pessoas plantando uma árvore (pelo aspecto um ipê), mantendo tradição do Rotary Club, que repetia constantemente esse tipo de atividade tão educativa e tão digna de imitação. Lá estão, quase todos formalmente vestidos, na maioria com paletó e gravata: Pedro Taddei Netto, comerciante, com quem nunca tive maior familiaridade, mas pessoa de grande conceito e uma boa voz de locutor da ZYD-6, Rádio Difusora São José do Rio Pardo. Wilson Lodi, o amável e gentil companheiro de Câmara Municipal, fiel aos amigos e firme em suas convicções de Rotary, do qual chegou a governador. Eu sempre lembrava a ele que, quando menino, o havia xingado muito, inclusive de frangueiro, mais por diferenças clubísticas do que de verdade. É que eu era torcedor apaixonado do Rio Pardo, e Wilson goleiro da Associação. Além disso, excelente jogador de bola-ao-cesto, como se chamava então o atual basquete. Lembro-me de vê-lo disputando com outro esportista de categoria – o Totó Tessari – qual dos dois encestava mais bolas do meio da quadra. Era numa quadra descoberta da Associação, provavelmente a mais antiga da cidade. De Wilson me ficaram muitas provas de amizade, camaradagem e um alto senso de como se faz política desinteressadamente e com o mais elevado padrão ético. Jorge Luiz Abichabcki, para os mais íntimos o Jorgito. Foi meu professor de Educação Física desde a primeira série ginasial até o último ano do colegial. Líder natural, educador nato. Os alunos tinham profunda admiração e natural respeito por ele. Ensinava jogos, ginástica e principalmente educação cívica. Com ele percebi que professor de nenhuma outra disciplina tem mais poder de persuasão, exerce liderança mais natural, é conselheiro mais confiável do que o de Educação Física, quando desempenha com dedicação e consciência a sua atividade. Foi técnico do Rio Pardo F.C. no auge das conquistas futebolísticas de 1947 e 48. É patrono de uma escola estadual da cidade. Curiosidade: tenho um certificado de instrução pré-militar, de 1945, assinado por ele. Ruy Andreolli, o ponderado Ruy. Comerciante de primeira linha, sócio da Casa Alaska. Era fácil negociar com ele. Prestativo euclidiano, companheiro incondicional de Oswaldo Galotti. Na foto é o mais magro e o único sem paletó ... José Menechino, o primeiro dono desta fotografia. Meu compadre: ele e Walmyra batizaram nossa filha Maria Paula. Funcionário do Banco do Brasil, companheiro de atividades religiosas. Morreu moço, muito moço. Nélson Peretto, funcionário da Coletoria Estadual, então situada onde hoje é uma sorveteria, num canto da Praça XV de Novembro. Mauro Cautella e Nélson Peretto eram inseparáveis à noite, dedicados a uma inocente vida boêmia, enquanto Nélson não se casou com Cleide. Depois disso, saiu de circulação. Morreu cedo. Luiz Bittencourt, funcionário da Caixa Econômica Estadual. Foi gerente da agência local e chegou a diretor, em São Paulo. Fundou a Cooperativa de Consumo União e ajudou na restauração do Grêmio Euclides da Cunha. Meticuloso, detalhista, exigentíssimo com os outros e consigo mesmo. Dedicado a obras de filantropia, trabalhou muito pelo Asilo Lar de Jesus. Pressentindo a morte, deu à esposa Dirce instruções muitos precisas sobre o seu velório que haveria de ser nesse Asilo. Morreu vítima de assaltantes, em Campinas. Hersílio Ângelo, meu mestre de Português no Euclides da Cunha, meu conselheiro e meu compadre. Ele e Odette batizaram nosso filho Marco Antônio. Sofreu quando diretor da Faculdade de Filosofia (eu era o seu vice) e acabou sendo afastado por intervenção municipal. Criador da Maratona Intelectual Euclidiana. Junto com Alfredo Bosi é autor de modelar edição didática de Os Sertões, da Cultrix/MEC. Morreu nonagenário há poucos anos, depois de longa enfermidade. Gabriel Nasser João, o Zezinho Nasser, empresário de valor com longos anos à frente da Viação Nasser. Ao tempo desta foto, devia ser o vice-prefeito. Morreu moço. Norival Augusto Junqueira, um político sério. Chegou a ser presidente da Câmara. Era lembrado pelos funcionários dela como presidente dedicadíssimo. Oswaldo Galotti (atrás do Norival). Médico otorrino, o criador da Semana Euclidiana e seu realizador por muitos anos. Foi diretor da Casa Euclidiana e autor de diversos trabalhos sobre Euclides. Colaborador da edição crítica de Os Sertões, de Walnice Nogueira Galvão. Foi injustamente denunciado como subversivo no período ditatorial, quando apenas lutava pelos mais elementares direitos dos trabalhadores rurais. Também morreu nonagenário, um ano antes de Hersílio. José Braghetta, um dos sócios da tradicional Casa Braghetta, fundada no final do século XIX e situada no prédio onde hoje estão o Magazine Luiza e a Vime, concessionária Fiat. Era, à época da foto, o principal estabelecimento comercial da cidade. Seu fechamento anos mais tarde, como conseqüência de galopante inflação (mais de 80% ao mês), causou geral espanto. João Gabriel Ribeiro, o Dr. Zito. Devia ser o prefeito municipal. Seu mandato foi no quadriênio 1960/63 Já o havia sido quando muito moço. Tanto que em sua primeira gestão se construiu a redoma protetora da cabana de Euclides (1928). Era pessoa muito afável, bom advogado, assíduo freqüentador de cinema. Fernando Ribeiro da Silva, de tradicional família de fazendeiros. Extremamente cortês e naturalmente elegante, foi meu contemporâneo na Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense. Detalhe perturbador: é o único vivo de todo o grupo de fotografados! °°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°° Torno públicas as impressões mais favoráveis sobre duas instituições pelas quais fui convidado a proferir palestras: Na Escola Técnica São José do Rio Pardo, do Centro Paula Souza, em que falei sobre Os Sertões para um interessado grupo de oitenta alunos da primeira série do ensino médio. Diretor moço, professores moços, alunos vencedores de prova seletiva e classificatória. Este é o primeiro ano de funcionamento de classes do ensino médio naquela instituição oficial de ensino. No segundo ano, continuarão com estas aulas formais e escolherão uma habilitação técnica proporcionada pela Escola. Desse modo, ficarão com uma carga de ao menos oito horas diárias de aulas – o que será ótimo. Não dá para acreditar no êxito de nenhum sistema de ensino que pouco exija dos alunos, nem mesmo o esforço inicial de ingresso. Daí o êxito das escolas técnicas do Estado de São Paulo: alunos interessados, professores motivados, instalações e material didático excelentes. Só pode dar certo. Na Loja Maçônica União Universal II, em que a propósito do Dia das Mães, pude traçar os diferentes perfis de mulheres de diversas gerações. Parece ter agradado ao seleto público presente a maneira de ver como as mulheres em geral, e as mães em particular, se transformaram nos pilares de sustentação da vida familiar, muitas vezes até com a falta de colaboração dos maridos. O venerável Waldemar Feltran Júnior e seus companheiros foram insuperáveis nas atenções e gentilezas com que me distinguiram.
17/05/2008
|