Caminhando contra o vento

 
Área de Lazer
- Márcio Lauria -

Mesmo estando longe de ostentar o fôlego e a persistência de meu primo Hermenegildo Bertocco, ainda capaz, aos oitenta anos,  de ir a pé até São Sebastião da  Grama, sinto necessidade e prazer de caminhar.

Escolho um desses três roteiros, para não cair na monotonia:

1- Ir subindo em bom ritmo até a Escola Euclides da Cunha ou até o Hospital São Vicente e depois descer pela Treze de Maio, passar pelo Centro Cultural Baptista Folharini  e voltar ao ponto de origem.

2- Ir ao Estádio Municipal Palmyro Petrocelli e lá andar em torno do campo de futebol, “como burro de olaria”, pelo tempo que suportar.

3- Fazer todo o trajeto na Área de Lazer, atrás do Ginásio de Esportes Adhemar Machado de Almeida.

Cada um deles tem vantagens e desvantagens: quando se sobe com boas passadas a Rua Francisquinho Dias, quase se pede a Deus que apareça um amigo ou conhecido que nos pare para um dedinho de prosa. Tenho a impressão de que a cada dia o aclive fica mais brabo e a distância ganha uns tantos metros...

Na pista do antigo aeroporto, a grande vantagem é o trajeto perfeitamente plano, mas se  a hora da caminhada coincidir com sol forte, o esforço despendido é demasiado.

Na Área de Lazer há muitas partes sombreadas e o terreno tem subidas e descidas acentuadas.

Se for seguir a orientação dos especialistas, só andarei no antigo aeroporto, bem ao cair da tarde, evitando os horários de mais calor. Na verdade, tenho preferido a Área de Lazer, pela variedade da paisagem, pela presença agradável do rio.

Quando caminho a pé pelo centro da cidade, sinto como entre nós o respeito pelo pedestre simplesmente não existe. Calçadas esburacadas, tapumes irregulares é o que não falta.  Aí de quem confiar na proteção que as faixas de segurança precisam representar! Motoristas e, principalmente, motociclistas, têm a clara idéia de que as ruas foram feitas para eles e que os pedestres, esses estorvos humanos,  que se lixem! Avançam sobre quem está atravessando a rua, fazem cara feia à demora de algumas pessoas, xingam, ameaçam atropelar... É urgente coibir os abusos dessa mentalidade nazista que a cada dia mais prospera. Fiscalizar sempre,  advertir, depois multar, se necessário suspender a habilitação. O motorista troglodita só entende esta linguagem da repressão e ataque ao bolso.

Todos que caminham no antigo aeroporto e na Área de Lazer reclamam da falta de infraestrutura adequada nos  locais. No antigo aeroporto, além da boa pista, não há mais nada para o frequentador –  nem bebedouro, nem instalações sanitárias. E olhe que a clientela de lá é grande, variada na idade e constante no comparecimento. Desde as seis da manhã e até noite fechada, sempre há alguém caminhando, especialmente mulheres, que consideram o local muito seguro.

Cidades de menos recursos do que a nossa mantêm locais de prática da caminhada em melhores condições. Além do bebedouro e de instalações sanitárias decentes, algumas têm chuveiros e aparelhamento simples para as pessoas se alongarem antes ou depois do exercício. A presença ostensiva de vigilantes no Estádio Municipal  evitaria as costumeiras depredações, que vêm acabando com o alambrado e com os muros circundantes. Nem se deveria, também, permitir a instalação de circos e de shows que enchem aquilo tudo de buracos, estragam guias cimentadas, emporcalham a pista. A iluminação também  anda precaríssima, vítima da sanha de moleques e de vândalos.

Na Área de Lazer, privilegiado recanto urbano que merece ser tratado com especial esmero, cuida-se bem da limpeza  de tudo aquilo, mas é lamentável o estado geral dos caminhos,  das árvores, dos barrancos,  da ilhota que fica ao lado. Belas árvores nativas bem próximas da margem correm o risco de cair, tal é a falta de apoio de suas raízes, muitas delas  inteiramente expostas. Com as chuvas mais pesadas dos últimos anos, ao menos dez delas foram abatidas, sem reposição.

Pescadores que gostam do lugar, por causa dos remansos, não desfrutam do mínimo conforto: a erosão toma conta da margem do rio e há muita sujeira boiando por ali. O belo conjunto  constituído pelo Recanto Euclidiano e pela Área de Lazer propriamente dita tem alto potencial turístico, mas o eventual visitante enfrenta sérias dificuldades até para tomar água ou usar decente instalação sanitária. Aliás, os banheiros situados nas proximidades do novo prédio destinado à dança e a exercícios marciais estão inexplicavelmente desativados há mais de ano. Outros banheiros, nas proximidades de um barzinho, são precaríssimos e ficam abertos dependendo da boa vontade de quem explora a venda de bebidas e salgados no local. O mesmo parece acontecer com as quadras cobertas para o jogo de bochas. Já vi, num dia feriado, gente de fora querendo usá-las e não tendo a quem pedir que as abrisse.

Ora, dirão, nada disso é prioridade; o município não teria como atender a esse tipo de reclamação. Dá para discordar desse argumento porque se se procura determinado local e se encontra nele um mínimo de conforto e de atendimento, não só  há retorno a ele como também a recomendação a outros potenciais frequentadores, com isso se estabelecendo o hábito de uso.

Durante certo tempo, há alguns anos, alguém quis forçar a adoção de um slogan  bem pretensioso: São José do Rio Pardo – cidade turismo... Estamos longe de merecer essa denominação, porque  a implantação da mentalidade turística é trabalho educativo constante e de longo prazo. Precisa ainda contar com o efetivo apoio da comunidade, a principal beneficiária  da presença significativa de visitantes.

Esta observação vale não apenas com relação ao estado de desaparelhamento do Estádio Municipal e da Área de Lazer, mas de modo geral para todos os pontos de interesse para o visitante. Quem vai ao morro do Cristo, ao Recanto Euclidiano, à ilha São Pedro não dispõe de nenhum informe a respeito desses belos locais, embora exista bom material a respeito. Na gestão de Ana Lúcia Dias Sernaglia à frente da Secretaria do Turismo e da Casa de Cultura Euclides da Cunha, foram elaborados folders que informam sucintamente o visitante da importância dos pontos de interesse turístico da cidade. Seria normal, além de distribuí-los a quem os solicitasse, que esses mesmos folders estivessem afixados em lugares de fácil acesso público. Por exemplo, o texto Euclides da Cunha em São José do Rio Pardo deveria estar ostensivamente exposto na Casa de Cultura, no Museu Rio-Pardense, na Biblioteca Municipal e de forma muito legível nos vidros da redoma que protege a cabana histórica de Euclides.

 

17/01/2009
(emelauria@uol.com.br)

 

Voltar