Empreendedorismo e amor à terrinha
LIÇÃO DE EMPREENDEDORISMO Talvez você ainda não tenha tomado conhecimento desta palavra, de muita evidência nos dias que correm, em especial no movimentado mundo dos negócios: empreendedorismo. A bem dizer, ela sequer existe oficialmente em nosso idioma, pois os dicionários comuns e o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, 5.ª edição, lançado este ano pela Academia Brasileira de Letras, não a consignam. No entanto, é vocábulo dotado de toda a modernidade, porque trata de uma forma nova de ver os problemas e tentar resolvê-los. Em linguagem quase chula, corresponderia ao S.O.S., ou seja, sevire ocê sozinho... Há uns três ou quatro anos, chegou a haver no curso de Letras da UNIP – Universidade Paulista – uma disciplina semestral com essa denominação. Tendo estranhado o título e seu possível conteúdo, fui conversar com o Prof. Darlan, muito competente, por sinal, que a ministrava. E ele me explicou: - Tentamos passar a nossos alunos a idéia de que não é por se licenciarem em Letras, com habilitação em Português e Inglês, que eles necessariamente tenham de limitar seus horizontes profissionais a aulas dessas duas línguas e respectivas literaturas. Ao contrário do que acontecia em outros tempos, a pessoa se formava em Direito e só pensava em exercer uma profissão da área jurídica; ou se diplomava em Engenharia e só se imaginava lidando com números, plantas, projetos, edificações. Hoje não, com as mudanças profundas que ocorrem, podem faltar oportunidades num setor e sobrar em outro. O profissional moderno, tendo bem desenvolvido o espírito do empreendedorismo, estará sempre atento a essas mudanças e não perderá oportunidades de tornar versátil o seu campo de trabalho. O mais prático dos exemplos de empreendedorismo foi dado, há já muitos anos, pelo engenheiro posto no olho na rua que ficou muito bem de vida produzindo refrescos à base de frutas. Era o engenheiro que virou suco... - Ah, bom. Não sei por que razão, a disciplina Empreendedorismo não prosperou no curso de Letras da UNIP, mas eu gostei da ideia nela embutida. Gostei mais ainda quando, um dia destes, apareceu aqui no portão de casa um rapazinho de seus treze anos que, ao me ver, tomou da palavra e me fez um discurso vazado nas mais estritas normas do tal empreendedorismo. Ainda estou vendo seu rosto simpático, sua pinta de vendedor no melhor estilo do Sílvio Santos, seu poder de persuasão: - Veja o senhor como são as coisas: sou o filho mais velho de um casal que tem outros dois. Minha mãe sempre trabalhou em casa, tomando conta de tudo. Meu pai, formado em contabilidade, jamais teve dificuldades em conseguir bom emprego com salário decente. Sem dificuldade até agora, porque há poucos meses foi dispensado do serviço sob a alegação de que a firma onde trabalhava entrava em contenção de despesas e substituía dez funcionários antigos por um computador e uns softwares dos mais modernos. Já viu: com mais de quarenta anos, conseguir nova colocação não é nada fácil A situação lá em casa foi apertando dia por dia, a ponto de hoje nós estarmos ameaçados de ficar sem energia elétrica. Já imaginou uma família ficar sem luz e sem força? Eu quis interrompê-lo, mas ele não fazia pausa na sua exposição de motivos: - Minha mãe começou a fabricar bombons de chocolate recheado e eu me ofereci para vendê-los de porta em porta, em todo o final de semana. E é o que lhe peço agora, que me compre alguns bombons, feitos no mais puro capricho! - E quanto custa cada bombom? - Para as outras pessoas, eu cobro dois reais a peça. Para o senhor, posso oferecer por um e noventa e nove... Não deixei de achar graça na superoferta do desembaraçado vendedor e lhe fiz a pergunta de provocação: - Se eu lhe comprar quatro, quanto pagarei? Sua resposta foi imediata: - O senhor sabe que são oito reais... - E o descontinho? Não vai fazê-lo? - Para o senhor ele nada significa, mas para mim ele pesará... Aí comprei dois, paguei os quatro reais, comi um, recheado com coco (muito bom, resistir quem há de?) ali mesmo, enquanto pensava comigo mesmo que esse empreendedorismo era só um nome novo para soluções em que os brasileiros são mestres quando a necessidade lhes bate à porta. Enfim, um sinônimo mais científico para o nosso quebra-galho.
VISÕES DA CIDADE E DE TEXTOS CLÁSSICOS No Museu Rio-Pardense, visito com prazer a exposição de fotos de Paulo Tavares Simas, o médico que tem olhos amorosos para as coisas simples do cotidiano e as capta com notável sensibilidade. Vale a pena ver e rever. *** Recebo, aprecio e divulgo SÃO JOSÉ DO RIO PARDO 2 – NOVA VERSÃO, o PPS em que o Prof. Valdir Ferreira, ao som da Toccata, com a orquestra de Paul Mauriat, apresenta cinquenta e uma fotos de diversas autorias mostrando a cidade e suas belezas. Repassei o conteúdo a diversos rio-pardenses emigrados e a resposta não se fez esperar: ficaram encantados com o que viram e se desmancharam em palavras da mais pura saudade da terrinha. De tudo isso dei notícia ao Valdir. Fico feliz de ver ali algumas fotografias minhas (a do jacarandá-mimoso da Área de Lazer é das favoritas) e uma de meu filho xará – aquela da cidade iluminada em amanhecer de inverno. *** O mesmo Valdir Ferreira, brilhante e discretíssimo professor de língua e de literatura, mostra-se cada vez mais versado nos segredos da computação gráfica. Esta semana, mandou-me ainda dois primorosos estudos utilizados por ele nas aulas do pré-vestibular do Colégio Lumen. O material iconográfico que ele coligiu sobre Camões e Os Lusíadas, sobre Gil Vicente e o Auto da Barca, valoriza sobremaneira os textos apresentados e dá aos alunos uma correta visão sobre esses dois dos mais importantes nomes da literatura portuguesa. *** Não é de hoje que Marcelo Trecenella, o prezado amigo do Centro Cultural Ítalo-Brasileiro e colunista da Gazeta do Rio Pardo, vem cobrando de mim a organização de um álbum fotográfico sobre como eu vejo esta nossa São José do Rio Pardo. Quem sabe, com mais alguns empurrõezinhos dele, eu me disponho a organizar uma coletânea de tiragem restrita e colocá-la à venda para uns poucos abonados?
16/05/2009
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