Por causa de uma foto

  

 

Um dia destes, mandei a meus amigos internautas uma fotografia  de estante da minha biblioteca e lhe dei o agressivo título de Natureza mortíssima, exatamente para despertar neles as mais diversificadas reações, tendo em vista que tanto se questiona o futuro do livro. As respostas não se fizeram esperar e, conforme previsão, foram  variadas e sinceras.

Antes que você leia as opiniões tão díspares deles, preste atenção à própria foto e saiba que os livros com encadernação abóbora que aparecem parcialmente na primeira estante do alto são dos ganhadores do Prêmio Nobel de Literatura, de 1901 a 1966, num total de cinquenta e três volumes, nenhum deles de autor brasileiro.

Logo abaixo, entre outros, estão um precioso Dicionário latino vernáculo, o Dicionário de verbos e regimes, de Francisco Fernandes,  Os lusíadas, edição monumental, em dois altos volumes, ao lado do Dicionário Caldas Aulete, edição brasileira em cinco volumes; o Dicionário internacional de biografias, em quatro volumes; a História da literatura brasileira, de Sílvio Romero, em quatro maltratados volumes (um sumiu); a Bíblia, na edição da Catholic Press, e The Oxford international dictionary illustrated.

Na outra prateleira, o raro Grandes poetas românticos do Brasil, o Dicionário das palavras interligadas, o meu mais pesado livro, com mais de dois quilos, tratando de analogias e ideias  afins, loucura de um tal Kurt Pessek. Em seguida, mais quatro livros atuais e bem caros. Todos cinco foram presentes de um só filho. Ao lado deles, quatro elegantes volumes em couro da História da arte, de Sheldon Cheney, comprados por Marina quando ainda solteira, nos anos cinquenta. Ah, também está nesta prateleira um cabalístico Dicionário dos símbolos.

Na última prateleira, predominância de Os titãs, coleção de origem espanhola em dez volumes, nos quais fiz a mais longa e rendosa revisão de minha vida. Quem a passou para o português continuou a pensar em espanhol. Tive muito trabalho com isso. Não posso deixar de externar minha admiração pelo notável Tratado de ortografia, de Rebelo Gonçalves, que aparece meio espremido. Quanto mais o consulto, mais me convenço das infelizes soluções dadas à escrita de tantos termos pela ortografia em vigor.

O mais velho dos livros da foto é a Literatura de Romero, que adquiri a preço alto para meus ganhos,  em 1951. Os mais novos, os tais presentes de meu filho-xará.

Vamos a algumas das  opiniões:

 

A  inconformada

Nãaaaaaaaaaaao! Socooooorro!

Outro dia recebi um e-mail de um amigo que está lançando um livro pela Amazon. Só virtual. Não comprei. Me recuso a ler um livro na tela ou no iPhone, iPad, tablet e outros que tais.

Serei fiel ao livro até o fim ( dele ou meu...)

 

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A  romântica

Ainda assim, está bem viva dentro de mim.

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Na Europa não é como aqui

Entristecedor.  Nestas plagas (Inglaterra) as coisas não chegaram a esse ponto e há até muita gente moça que lê e escreve.

 

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 A esteta

Como é bom ver a foto de uma biblioteca!

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O admirador incondicional

A foto é bonita e o conteúdo, com certeza, mais bonito ainda!

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A professora recém-aposentada

Natureza morta, porém já deu vida a muitos.

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Outro bibliófilo

Gostei dos títulos. Para mim estão vivos!

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O neto gozador

Por anos, queria experimentar esse Caldas ao Leite.

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Outras utilidades

Que  idade têm esses livros ?

Eu identifiquei a coleção "Titãs" !!!!!!!! Tenho também! Devo tê-la comprado em 1958 ou 59 !!!   Um dos volumes faz parte da decoração da minha sala de visitas, junto com dois volumes de Debret e um vasinho de flores sobre os três... Pobres livros velhos...

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Missão cumprida

Viveram bem!!!

 

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Esperançoso e batalhador

 Não diria morta,  mas em repouso, à espera dos humanos esforços.

 

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A leitora de boa casta

Só enquanto fechados, depois de abertos: surpresas, descobertas, tristezas, sabedoria, enfim, mais vivos do que nunca!

 

O  conformista

Lamento ter q concordar.

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A parenta do fotógrafo

Rs...rs...rs...  muito boa ideia!!!!

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Outra parenta

rsrsrs...boa!

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O leitor fiel

Gostei dos títulos! Para mim estão vivos.

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A renovadora modernista

Eu não diria mortíssima, mas que está bem velha,  isso lá é mesmo.

Pelos títulos que consegui  ler, acho que não vale a pena ficar juntando tanta poeira.

Será que não seria melhor deixar o lugar destes para outros melhores?

 

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O  bibliófilo  incorrigível

Veja, em anexo, a capa do novo livro, no qual tive a honra de contar com o seu prefácio.  Não vou enviar pelo correio. Irei pessoalmente a São José para entregar em mãos.

 

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E você, leitor do jornal, o que pensa disso tudo?

 

 

15/12/2012
emelauria@uol.com.br

 

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