Berliques e berloques
EDUCAÇÃO CÍVICA Depois do excelente noticiário radiofônico matutino, entra o programa de grande audiência entre os jovens. O animador, com aquela voz de permanente chacota, lança a pergunta pra lá de séria: -- Hoje, 7 de setembro, o que é que se comemora? E o seu amarra-cachorro responde com a mais inteligente de suas vozes: -- Hoje todo mundo comemora um feriado! -- Mas feriado de quê? -- Feriado... Dia de ir para a praia, para a montanha, para a casa da avó. Só sei que em São Paulo tem a Rua Sete de Setembro... Em Goiânia também... Nada mais foi dito porque nada mais foi perguntado.
PONTUALIDADE (I) Pode haver coisa mais irritante do que esperar quarenta e cinco minutos por alguém, em lugar errado? (Millôr Fernandes)
DEMOCRACIA Alguns políticos estão lançando a perigosa idéia de extinção do Senado. Mesmo se sabendo que em muitos países vigora o sistema unicameral, a provocação é perigosa. Perigosa porque se se for levar a sério o que o povo brasileiro pensa no momento, não sobra nenhuma casa do Legislativo, um poder no mais franco desprestígio por culpa de seus próprios membros. Pela cabeça de três entre quatro brasileiros, um plebiscito aprovaria o fechamento do Congresso, a maioridade penal aos dezesseis, quinze ou quatorze anos, assim como a prisão perpétua e a pena de morte. A hora, portanto, é de se ter muito juízo e não ficar apoiando qualquer palpite infeliz que surja por aí. Democracia é apenas o menos ruim dos sistemas políticos.
DEFINIÇÕES O inventor do pôquer foi São Tomé, aquele apóstolo descrente que pagava para ver. Pornografia é tudo aquilo que excita os moralistas. Popularidade, que coisa mais vulgar!
AMADAS ESCOLAS Os dirigentes do ensino, os professores e os alunos de hoje nem podem imaginar como as escolas de outros tempos eram amadas. Basta alguém escrever umas tantas linhas sobre elas para que cheguem dezenas de mensagens de apoio e reforço. Na verdade, das escolas do passado o que as pessoas mais amam é a lembrança de cada meninice, de cada adolescência, de cada mocidade sem dramas existenciais, sem medo do futuro.
LAPICINUM ODACREM Carlinhos Fernandes me confessa de Piracicaba que durante algum tempo de sua remota infância, ao passar pela calçada do casarão do Artese, ficava encabulado com essas palavras misteriosas que lia no alto do Mercado Municipal, algumas letras invertidas: LAPICINUM ODACREM. Até que um dia pôde decifrar o que estava escrito, caminhando pela calçada do outro lado da praça.
EXPOSIÇÃO AO PERIGO Uns cavaletes e umas fitas de isolamento expõem diariamente centenas de pessoas a perigo iminente em frente ao casarão meio demolido da Treze de Maio com a Dr. João Gabriel Ribeiro. Estão sendo obrigadas a disputar espaço com os veículos quase no meio da rua. Em matéria de desrespeito ao pedestre, esta nossa cidade é campeã. Coisa mais difícil encontrar calçadas em ordem, tapumes na medida certa, bicicletas andando na rua e não usurpando lugares nos passeios. Nenhum local me parece, porém, mais perigoso tanto para pedestres quanto para motoristas e ciclistas do que o cruzamento defronte ao curso de Educação Física da Feuc. A Avenida Perimetral é larga demais. Merece um semáforo com urgência.
O CALHEIROS SEM CULPA Você pode não acreditar, mas existiu. Chamava-se Augusto Calheiros e era um cantor paraibano de certa popularidade. A ZYD-6, Rádio Difusora São José do Rio Pardo, nos meados do século passado tocou até gastar uma Ave-Maria cantada por sua voz meio arrastada e rascante. A letra começava assim:
Cai a tarde tristonha e serena Nesta hora de lenta agonia Quando o sino saudoso murmura Badaladas da Ave-Maria.
Alguém se lembra do resto? Um Calheiros sem filha oculta, sem comborça jornalista, sem precisar depender da bondade problemática de amigos e do perdão constrangido da mulher, sem viver fantasias erótico-pecuárias.
PONTUALIDADE (II) A pontualidade é uma longa solidão. (Millôr Fernandes)
CONVERSANDO COM A ESTÁTUA Recebo preciosa coleção de fotos com estátuas de pessoas ligadas à vida artística do Rio de Janeiro: Noel Rosa, João de Barro, Ari Barroso, Carlos Drummond de Andrade.
A de Drummond reproduz o poeta sozinho, em tamanho natural, sentado num banco da praia de Copacabana... de costas para o mar bravio. O nosso bom Joel Bicalho Tostes, como carioca da gema, não se conforma com essa postura mineiramente desrespeitosa. Imagine não se deixar atrair pelas ondas daquele mar! Aí me chega a foto de alguém conversando animadamente com o imóvel Drummond de bronze. O sujeito parece bêbado e não dar conta de que seu interlocutor não está nem ali. Fernando Torres lança a pergunta: Em que o verdadeiro Drummond pensaria se alguém se intrometesse nas suas elucubrações ao pé do mar? Arrisco um palpite: estaria elaborando seu texto de “Apelo aos meus dessemelhantes em favor da paz”.
UMA PALAVRA SENTIDA
Por Manoel Roberto Fernandes da Silva, modelar em tantos sentidos e em tantos campos. Estudioso permanente, professor dedicado, euclidiano consciente. Homem da fé, homem da família, educador em tempo integral.
15/09/2007 |