Notícias e não notícias

 
O quinteto.

 

SINAL DOS TEMPOS

Um estrangeiro incauto que veja a presidente brasileira ladeada por quatro ex-presidentes ao pé do avião que os conduziria à África do Sul para o carnavalesco espetáculo do funeral de Mandela,  há de pensar maravilhas da democracia brasileira. Sarney, Lula, Fernando Henrique e Collor  felizes da vida por terem sido lembrados para o passeio com tudo pago, nem pensaram duas vezes antes de aceitar o convite de  madame.

Sarney está acabadão, mas com o bigode resistente e os óculos de cego disfarçando rugas. Elegante no blazer de botões dourados, camisa e gravata impecáveis. Já deve ter esquecido que em longínquos tempos  quis dominar a inflação na marra, criando um exército de vigilantes, os fiscais do Sarney, que tentaram  impedir os supermercados de remarcar preços. Sarney quis revogar a lei da oferta e da procura, como outros já quiseram acabar com a lei da gravidade.

 Lula, muito à vontade, em mangas de camisa como num comício em São Bernardo e os cabelos um tanto  revoltos para encobrir a careca progressiva. Tem o olhar sereno de quem sabe que manda em quem pensa que manda. Esse vai longe.

 Fernando Henrique, com a naturalidade do erudito  que já nasceu de óculos, paletó e gravata. De tudo tira uma lição de História ou de Sociologia, mas ainda acredita piamente que o Brasil continua sendo um país periférico.  Anda preocupadíssimo porque  só faltam dois títulos de doutor honoris causa para Lula o alcançar nessas honrarias acadêmicas. Quem diria.

 Mas feliz, mesmo, está o Collor, jovial,  sorriso largo, mecha de cabelos displicentemente esquecida sobre a testa e com um pensamento vitorioso: “Puxa vida! Eu não precisava ter sido cassado. O que eu e meus bravos capangas de Alagoas  conseguimos fazer no Governo, perto do que aprontaram depois, hoje seria matéria para julgamento num tribunal de pequenas causas! Mas, enfim, aqui estou eu, senador da República, liberado  da Rosane, aquela chatona, e  reabilitado em vida, bem diferente do pobre Jango Goulart, que teve de ser desenterrado, examinado osso por osso e só então reenterrado em São Borja com  honras fúnebres de presidente!”

*

Não deve ser fácil a tarefa de vestir, pentear, maquiar e controlar o peso de Dilma Rousseff: eta mulher deselegante. Seu discurso na terça-feira, em Johannesburgo, na  homenagem ao Mandela  foi a vitória da mesmice.

Dificilmente outro país terá mandado delegação mais eclética às exéquias do grande lutador pela igualdade racial.

 

BRUCUTUS MODERNOS

Correm mundo  as deprimentes cenas do quebra-pau na Arena Joinville, entre fanáticos do Atlético Paranaense e do Vasco da Gama. Coisas de brucutus das cavernas, capazes de ainda bater com barra de ferro num sujeito caído no chão, desacordado.

Não adianta punir  só os clubes. É preciso pôr na cadeia  esses delinquentes e bani-los permanentemente  dos estádios. Depois do cumprimento das penas, eles que fiquem em casa assistindo às grosseiras lutas de MMA,  que fazem as delícias de infelizes espectadores em fins de noite e que servem de parâmetro a péssimos comportamentos individuais.

Imagine a polícia ter ficado só do lado de fora do estádio e ter deixado aos cuidados  de particulares a segurança dos torcedores! Completa falta de sintonia entre Ministério Público e Polícia Militar de Santa Catarina. Um põe a culpa no outro.

Pessoas de estômagos mais sensíveis podem até desistir de vir ao Brasil para a Copa de 2014. Essas coisas repercutem.

 

O FOGUETINHO DEU CHABU

Não se vexe se você não sabe o que é dar chabu. Muito antigamente  havia um anúncio dos Fogos Caramuru que garantia: eles eram os únicos que não davam chabu,  não falhavam, não pifavam.

Mas os foguetes, fossem Caramuru ou não, custavam ninharia, eram comprados  às dúzias, aos centos.

O foguetinho que agora deu chabu era de fabricação chinesa e encarregado de botar em órbita espacial um satélite  brasileiro destinado a acompanhar o desmatamento na Amazônia, o movimento de contrabandistas, coisas do gênero –  indispensáveis  na vigilância de nossas vastidões territoriais e na extensão de nossas fronteiras terrestres, de vinte mil quilômetros.

Pois o satélite brasileiro, construído aqui mesmo com tecnologia de ponta,  custou  uns trezentos milhões de reais, que literalmente foram para o espaço.

 

A MUSA DA FIFA

Quem já  viu  a bela  Fernanda Lima  em seu programa ultraliberal  no final de certas noites na Globo, garante que ela é muito corajosa, que fala abertamente de tudo, que ensina coisas de fazer corar um frade de pedra. Eu sempre durmo mais cedo.

No sorteio dos grupos da Copa do Mundo, na Costa do Sauípe, na presença do descolado marido,  a bela-fera abafou. Tanto, que a TV estatal do Irã cortou parte da transmissão do sorteio por causa do vestido da Fernandinha, que muito mais mostrava do que escondia. E com essas coisas não se brinca na terra dos aiatolás. Alguns iranianos, menos xiitas, usaram as redes sociais para  mostrar modernidade e dar satisfações ao mundo. Um deles escreveu: “Em meu nome e do povo iraniano, gostaria de pedir desculpas  a você, Fernanda, à sua família, ao belo povo do Brasil e às mulheres de espírito livre de todo o mundo, por um  comportamento tão ruim.”

Pura conversa de internet, já se vê. Ele não fala em nome de povo nenhum.  A TV iraniana preferiu ficar bem com os aiatolás, em cumprimento a este sábio  preceito: Manda quem pode; obedece quem tem juízo.

O fato é que Fernanda Lima e seu vestido fizeram muito sucesso. Tanto, que ela já foi contratada para a entrega da Bola de Ouro ao melhor jogador do mundo, dia 13 de janeiro, em Zurique, na Suíça.

O  favorito à conquista é o galante  português Cristiano Ronaldo, que espera  ver  bem de perto o generoso decote da musa.

 

LUTANDO CONTRA O NAUFRÁGIO

Com vestes bem populistas, camisas para fora das calças, Aécio Neves e Eduardo Campos  foram flagrados saindo de almoço  no restaurante Gero em Ipanema.

Explicitando:

Aécio Neves, ex-governador de Minas e agora senador, é virtual candidato à presidência pelo PSDB.

Eduardo Campos, neto de Miguel Arraes e atual governador de Pernambuco, acha que vai ser candidato à presidência pelo PSB (socialista), se a aliada Marina Silva deixar.

O restaurante Gero (do grupo Fasano) é dos mais caros do Rio de Janeiro, ou seja, do mundo.

Perguntas que não querem calar:

1.  Quem terá pago a conta?

2.  Quem apoiará quem no segundo turno?

3.   Haverá mesmo segundo turno?

Pelo andar da carruagem, Dilma vence fácil qualquer adversário, ainda no primeiro turno.

Bolsa-família, bolsa-escola, bolsa-prisão, bolsa-gás, programa minha casa, minha vida –aí estão alguns dos fortíssimos aliados da dupla Dilma-Lula. O outro aliado, poderosíssimo, é a caneta, que  nomeia, demite. E libera verbas.

 

DOZE MIL POR DIA

A frota nacional de veículos motorizados cresce na assustadora média de doze mil por dia e já bateu na casa dos oitenta milhões. O número de mortes e ferimentos no trânsito vem aumentando em proporções alarmantes. Os congestionamentos em muitas cidades e rodovias  levam milhares de pessoas a graus extremos de estresse  por perda de tempo.

Detalhe, segundo a opinião de especialista no assunto: os motoristas brasileiros não aprendem a dirigir em condições adversas, cada vez mais frequentes. A grande maioria deles só sabe fazer o carro andar e classificar o  Brasil  como um dos campeões mundiais de mortos e feridos  no trânsito.

Situação particularmente complicada a dos motoqueiros: só na cidade de São Paulo morrem dois deles por dia. No Nordeste, eles não morrem tanto, mas se arrebentam aos milhares, por falta de habilitação e de capacetes. Muitos deles apearam do jegue,  montaram na moto e desembestaram por este mundão.

 

14/12/2013
emelauria@uol.com.br

 

Voltar