Mais um jornal!

Foi com este título, a um tempo esperançoso e crítico, que escrevi o editorial de estréia deste nosso DEMOCRATA, hoje comemorando a circulação de seu milésimo número.

Data: 10 de setembro de 1988. Preço por exemplar: 70 cruzados. Endereço: Avenida 9 de Julho, 80 (onde até hoje estão os serviços gráficos). Impressão nas oficinas de A Cidade, de São João da Boa Vista.

Número de páginas: 8. Na primeira delas, apenas o clichê do brasão em preto e branco do município de São José do Rio Pardo e meu artigo, nem tão comprido, mas folgadamente espacejado, tornando mais convidativa sua leitura. Expunha os propósitos do novo órgão, destinado fundamentalmente a dar apoio a Richard Celso Amato, candidato a prefeito e franco favorito na eleição que se efetuaria um mês depois. Seria o segundo mandato de Celso, de 1989 a 1992. Duas páginas quase completas foram destinadas a relembrar os benefícios de um pronto-socorro, o PPA, criado em 1971, no primeiro mandato de Celso.

O sistema de composição do jornal representava grande avanço em relação à linotipia: era datilografado numa IBM moderníssima, com imaginosa possibilidade de uso da margarida, ou seja, cinco ou seis diferentes fontes que, convenientemente manejadas,  davam um ar de variedade e de limpeza gráfica  à página.

O advento da era do computador modificou de forma radical o processo de composição de textos. Já vai longe o tempo em que se escrevia o artigo,  levava-se a matéria ao jornal, esperava-se a sua  digitação na linotipo, fazia-se a correção, aguardava-se a nova digitação das linhas com erro, esperava-se a colocação da matéria na página, tirava-se mais uma prova, etc., etc. Hoje é o que se vê, na maioria dos casos: o autor digita, o autor envia por e-mail  e a matéria sai igualzinha à que ele escreveu. Se houver erro, não há como pôr a culpa em alguém do jornal. O autor  é o senhor do destino de seu texto.

O nome do jornal não saíra exatamente como eu havia proposto.  Valendo-me de exemplos de “O Liberal”, de “O Imparcial”, de “A Luta”, sugeri que ele se chamasse O DEMOCRATA, mas por razões que até  hoje ignoro, foi registrado sem o artigo. Na verdade, as pessoas falam dO DEMOCRATA,  outras colaboram nO DEMOCRATA, umas reclamam aO DEMOCRATA, sempre com o artigo antecedendo o forte adjetivo, que assim ganhou a condição de substantivo.

Lê-se num instante o jornal inteiro em sua apresentação inaugural, ainda sem muita matéria, ainda sem uma publicidade substancial.

Destaco nomes de estabelecimentos que já não existem: Puppy Confecções, Padaria Pousada do Sol,  Tok Especial,  JOCA – Serviços de Terraplenagem...

A Óptica Especializada não mudou de nome. Seu dono é que, para acertar a obtenção da cidadania italiana, precisou deixar de ser Affonso Orlando para virar Affonso Orlandi...

A Sotintas, como ainda muitos a chamam hoje, virou Del Ninno Tintas.

Em nada mudaram a agência de turismo Roquetur, do Prof. Roque Cônsolo, e o escritório de engenharia de Mário A. Gusmão.

Ah, todos os telefones da cidade tinham o mesmo prefixo: 61...

 Na terceira página encontro informes oficiais que hoje dariam chiliques no Lula  e nos seus ministros da área econômica:

·        inflação de agosto de 1988: 20,66%

·        rendimento da caderneta de poupança: 21,16%

·        piso nacional de salário: 18.960 cruzados

Isso quer dizer que com o valor do salário mínimo alguém podia comprar  270 exemplares do DEMOCRATA. Hoje com a salário a 415 reais e o DEMOCRATA a 2 reais, a compra seria de  207 exemplares, mas com a inflação naquelas alturas de 1988, essa capacidade de compra já cairia no mês seguinte para  165 exemplares, e no próximo mês, a 132...

Esses dados econômicos, calamitosos em si, na verdade foram ultrapassados e levaram o País à beira do caos, evitado pela adoção do Plano Real. Daí o justo receio dos atuais governantes quanto à volta de um surto inflacionário,  de efeitos desastrosos na economia nacional e nas contas de cada cidadão brasileiro.

Garante-me o Luís Trinca Filho, redator do jornal, que entre 1988 e 1992 (quando exerci meu segundo mandato de diretor da Faculdade de Filosofia) minha colaboração ficou  restrita a números e a situações especiais. De 1993 em diante, há mais de 15 anos, portanto, passei a colaborador permanente,  e ganhando o privilégio de ter lugar fixo no suplemento “Cultura”.

Escolhi a última página, no alto do lado esquerdo. Pessoas se acostumam tanto com certos atos repetitivos, que por causa da  extensão ou maior ênfase de alguns assuntos, alguns artigos são  publicados na primeira página do suplemento. Pois não é que de vez em quando recebo mensagens de leitores constantes, reclamando que não escrevi nada na semana? Escrevi e publiquei na primeira página, mas nem todos prestam atenção a isto.

Aliás, em matéria de atenção, andamos muito mal: nesta semana remeti a dez pessoas uma bela foto da cidade, que meu filho xará clicou  lá do morro do Cristo, usando tripé e máquina de muitos recursos. Coloquei o nome dele por extenso, para ninguém o confundir comigo. Recebi já seis respostas. Apenas uma pessoa percebeu que não era eu o autor da foto!

O DEMOCRATA se tornou para mim uma obrigação semanal que cumpro gostosamente e sem atropelos. O comum é que meu texto seja enviado quarta-feira de manhã, o que, se me deixa logo desobrigado, também vez por outra me leva a escrever outro, às pressas, se na semana ainda ocorre algo  que precise virar assunto prioritário.

Tendo como principal fonte de abastecimento o que escrevi para O DEMOCRATA, já publiquei  alguns livros: Nós, os nossos, alguns intrusos (1997), Tratador de palavras (2003), Vidro de aumento (2006).

Está pronto para ser impresso mais um deles, também com muito material originalmente exposto neste jornal. Graças ao empenho do amigo euclidiano Prof. Everton de Paula , da Universidade de Franca, sairá o Tempo ao tempo, com quase 300 páginas,  que foi formatado e revisado pelo competentíssimo pessoal da Editora UNIFRAN e será rodado na gráfica daquela cidade que apresentar a melhor proposta de preço por exemplar. Eu arcarei com as despesas de impressão.  Everton e sua equipe também inventaram uma bela capa, escreveram coisas amáveis nas orelhas. Everton elaborou um prefácio que só poderia ter partido de amigo do peito. Estão programados dois lançamentos: um, a 2 de setembro, num auditório da Universidade, para público específico de alunos, professores e acadêmicos.  Outro, aqui em São José do Rio Pardo, no decorrer de outubro, passado o calor   da disputa eleitoral. Ainda não sei onde, mas com certeza não faltará espaço adequado.

Terei muito prazer em fornecer mais informes sobre o livro. Especialmente como reservar exemplares...

Como se vê, não me faltam razões para ter na colaboração que empresto prazerosamente ao DEMOCRATA mil motivos de estudos e de realização pessoal.        Acima de tudo, está-se fazendo um bom jornal, com forte sentido comunitário, com elevado senso crítico e com democrático espírito de tolerância quanto à diversidade de opiniões de seus colaboradores. Tudo de acordo com os propósitos iniciais.

 

12/07/2008
(emelauria@uol.com.br)

 

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