Quarta-feira sem cinzas

 

VISITANTES MUITO ESTIMADOS

Durante a semana, tive o prazer de receber Paulo Paranhos e sua esposa Lourdes.

Ambos cariocas, ambos altos funcionários do Judiciário fluminense, logo que aposentados passaram de armas e bagagens para Caxambu, a bela estância hidromineral  do sul de Minas Gerais.

Foi de Paulo, então presidente da Academia de Letras local, que recebi o convite para dar uma palestra  sobre Euclides da Cunha. Isso há quase dois anos, quando eu mal me refazia do golpe de uma grande perda pessoal.

Daí nasceu uma boa  amizade, cultivada pela internet. Agora o casal veio a São José, cada um com seu interesse específico: Paulo, como escritor e pesquisador histórico, querendo acompanhar os muitos passos de Euclides em nossa terra; Lourdes, orquidófila e juíza de exposições florais, embrenhando-se pelo orquidário de José Oswaldo Noronha Grassi.

 Paulo e eu, não orquidófilos, mas também não orquidófobos, deixamos Lourdes e José Oswaldo trocando impressões e conhecimentos específicos, enquanto colocávamos nossos assuntos em dia. Apreciamos, ainda, a bela cachaçaria e seus produtos reunidos na marca hoje  conhecida no Brasil todo: Morada do Vento.

No domingo, conheci  Caio (filho do casal) e Ana Catarina, ambos ligados à Universidade Federal de São Carlos. Mostraram-se excelentes ouvintes e amáveis pessoas.

 Nosso próximo encontro poderá ser em Caxambu, na reinauguração do museu local, desde que não me cataloguem no seu patrimônio...

 

 

QUEM DECIDIU FOI ELA

Fico sabendo que num programa televisivo feminino de forte apelo popular, Dilma Rousseff explicou as razões de ter preferido a forma presidenta, apesar de tantas vozes que se opunham ao uso dessa menos comum flexão de gênero.

Instado por algumas pessoas, dei, em novembro de 2010, meu parecer sobre a questão, em termos que foram confirmados  pela entrevista presidencial. Transcrevo o tópico publicado nesta coluna, a 6 de novembro de 2010:

De repente, gravíssima e transcendental questão - como é que Dilma deverá ser chamada: presidente ou presidenta do Brasil?  Há controvérsias.

Consultando meus alfarrábios, diria que o gramaticalmente esperável é presidente. Trata-se de termo de trajetória conhecidíssima: vem do particípio presente de um verbo latino, que assumiu no português a função adjetiva e posteriormente  a de substantivo.

De presidir, presidente: de gerir, gerente; de amar, amante; de ler, lente; de depor, depoente.

Como substantivos,  são tidos como comuns de dois gêneros, ou seja, têm a mesma forma para o masculino e para o feminino, só variando o artigo que os precede.   Exemplos seculares  contrariam esse princípio.  É o caso de infante, que tem, na acepção de filha de rei de Portugal ou Espanha, sem ser herdeira da coroa, o feminino infanta.

Assim, razões de ordem psicossocial podem levar a nova mandatária a preferir a forma presidenta, o que lhe firmaria a situação de mulher, e que mulher:  a primeira brasileira, que chega aonde chegou, com mais de cinquenta  e cinco milhões de votos, ou seja, vencedora de toda a sorte de preconceitos ainda muito arraigados na alma brasileira. Nem entremos por essa seara, porque tomaria todo o espaço disponível.

O que vai valer, mesmo, é que no Diário Oficial da União, de 1 de janeiro de 2011, estará escrito assim: “Dilma Rouseff, president?  da República Federativa do Brasil, no uso de suas atribuições...”  A forma então usada – presidente ou presidenta –   é a que prevalecerá, no âmbito governamental. E isso dependerá exclusivamente da vontade da nova titular. Tenho comigo que ela optará por presidenta.

 

CARNAVAL?  QUE CARNAVAL?

Com a chuvarada toda que caiu de quarta-feira em diante,  praticamente não se tomou conhecimento de  nenhum indício da folia na cidade.

Em compensação, pôde-se  ver e ouvir coisas muito interessantes sobre carnavais passados, com a execução de s sucessos definitivos e com entrevistas de pessoas que fizeram a alegria de muita geração de foliões.

A TV Cultura reproduziu longa entrevista de 1973 com João de Barro, o Braguinha, autor e intérprete de algumas das marchinhas que ficaram na memória coletiva: As pastorinhas, O pirata da perna de pau, Chiquita Bacana.

Carlos Alberto Ferreira Braga, o Braguinha ou o João de Barro, teve vida longa, de 1907 a 2006, morrendo a quatro meses de completar o centenário.

Tomou joão-de-barro  como pseudônimo em homenagem ao pássaro-arquiteto, quando ele mesmo estudava arquitetura e quando ser compositor de música popular era atividade socialmente malvista.

Viveu a maior consagração que um compositor popular poderia merecer quando, na Copa do Mundo de 1950, o Maracanã, lotado com umas cem mil pessoas, cantou a plenos pulmões sua marchinha Touradas de Madri.  Parece que foi nesse jogo que pela primeira vez uma torcida de futebol gritou olé, enquanto os brasileiros punham os espanhóis na roda. Olé é o grito  com que a plateia das arenas estimula os toureiros em sua sangrenta luta contra um animal bravio. Caiu bem no futebol. O Brasil meteu seis a zero na Espanha. Pena que dias depois o  Uruguai, com um dramático gol do ponteiro Ghiggia,  fez 2x1 contra o Brasil e ganhou a copa, num desafio de Davi a Golias. Foi o maior desastre esportivo de que se tem notícia. Agora é ver se, em 2014, no mesmo Maracanã um tanto encolhido em sua lotação, a Seleção brasileira se redime de tão grande falha.

Interessante observação de João de Barro sobre os diferentes andamentos das músicas carnavalescas: no verdadeiro carnaval carioca o predomínio sempre foi da marcha-rancho (lentíssima) e da marchinha (menos lenta).  Nada, porém, que lembre o ritmo alucinante dos desfiles de escolas de samba, sempre às voltas com a exiguidade do tempo disponível a cada apresentação.

 

GERAL DESNORTEAMENTO

A notícia é fresca: o Polo Norte magnético está se movendo agora mais depressa do que nunca, ameaçando influir tanto nos meios de transportes quanto nas rotas tradicionais da migração de animais.

Cientistas dizem que o norte magnético, por dois séculos situado nas vastidões geladas do norte do Canadá, desloca-se à velocidade de sessenta quilômetros por ano, rumo ao norte da Rússia. Esse ritmo leva os estudiosos a especular que o campo magnético da Terra se estaria dobrando, o que faria as bússolas,  daqui a uns tempos, apontarem para o sul!

A sorte é o GPS ( em português “Sistema de Posicionamento Global”), que se baseia em satélites e não no pólo magnético.

Quando li tudo isso, comecei a ficar apreensivo, até prestar atenção ao tempo envolvido nessas mudanças: a última reversão magnética ocorreu há setecentos e oitenta MIL anos, após um período de estabilidade de cinco MILHÕES  de anos.

Enfim, notícias desse tipo só vêm a furo quando há pouca coisa de que se falar –  o que me lembra o caso do  sujeito que, meio sonolento, ouvia uma tediosa explicação no planetário. A certa altura o expositor disse que a estrela tal, da constelação qual, estava em rota de colisão com a Terra e que o encontro fatal se daria dali a dois bilhões de anos. O dorminhoco teve um sobressalto e perguntou: “Quanto tempo?” “Dois bilhões de anos.” “Ah, ainda bem, estou aliviado. Pensei que fossem só dois milhões!”

Moral da história: a Terra nada é no Universo;  nada somos na Terra. Ou como definiu Camões: homem – pequenino bicho da terra.

 

EXPLICAÇÃO DO BASTISTINHA FOLHARINI

Na novela Mandala, citada no artigo da semana passada, Laio era Perri Sales, à época marido de Vera Fischer. No final da novela, perdeu-a justamente para Édipo, interpretado pelo garotão Felipe Camargo, que se envolveu com drogas para acompanhar a poderosa Jocasta. A vida repete o mito.

 

12/03/2011
emelauria@uol.com.br)

 

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