Balanço pessoal de uma época
Com a festiva reunião do dia 3 de dezembro na Casa de Cultura Euclides da Cunha, fechou-se para mim uma áurea época de atividades euclidianas. Entre 2009 e 2012, ocorreu desde o centenário da morte de Euclides até o encerramento das comemorações do centenário do euclidianismo rio-pardense. De tudo participei com o maior empenho, embora muitas vezes meu desejo fosse o recolhimento e o silêncio, em face do mais inesperado acontecimento de minha vida — a viuvez. Sempre convidado e nunca forcejando aparecer, couberam-me, neste tempo que analiso, tarefas honrosas e difíceis. Em julho de 2009, proferi palestra sobre Euclides na Academia de Letras de Caxambu (MG), a convite de seu presidente, o historiador Paulo Paranhos. Em agosto do mesmo ano, tive o prazer de ser o palestrante na instalação da Academia de Letras de Lorena (SP), cujo presidente fora meu professor de Sociologia na Escola Normal — Nelson Pesciotta, na força de sua permanente juventude. Também Euclides foi o tema. Em seguida, fui a Cantagalo (RJ) participar do Simpósio "100 anos sem Euclides". A convite de Marleine Paula Marcondes e Ferreira de Toledo, paraninfei turma de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing, de São Paulo, e fui entrevistado sobre o sentido da obra euclidiana. Relembro com especial reconhecimento minha escolha como representante da cidade nas comemorações do centenário da morte de Euclides, promovidas no Rio de Janeiro pela Academia Brasileira de Letras. Não é comum alguém ir a uma cidade estranha para falar e levar consigo o seu próprio público. Foi o que aconteceu em outubro de 2009, quando pude ver, no auditório da ABL, o prefeito João Luís Cunha, o abade Paulo Celso Demartini, a diretora da Casa, Lúcia Vitto, membros do Conselho Euclidiano e muitas outras pessoas amigas que não mediram esforços nem cansaço numa viagem de mais de mil quilômetros, com ida e volta no mesmo dia. Na gestão de Lúcia Vitto à frente da Casa, pôde-se levar avante projetos que mostram, concretamente, o empenho em deixar marcas da passagem por uma instituição cultural. Assim, por inspiração de Lúcia, foram editados quatro números anuais da revista Cultura euclidiana. Participei ativamente da sua montagem, que passou a ser o seguro roteiro das atividades do Ciclo de Estudos, nas áreas II e III. A repercussão da Cultura foi de tal ordem, que logo se esgotaram os dois mil exemplares do primeiro volume. Dos demais, há poucos disponíveis. É sempre prazeroso rever as quatro edições da Cultura, relembrar o espírito que norteou o seu aparecimento e rememorar a qualidade da matéria neles contida, graças à qualificação pessoal de seu colaboradores, todos professores do Ciclo. Consigno os nomes dos que colaboraram no número inicial, de 2009: Rodolpho José Del Guerra, Célia Mariana Fernandes da Silva, Cármen Cecília Trovatto Maschietto, Paulo Herculano, Marco Aurélio Gumieri Valério, Lando Lofrano, Rachel Aparecida Bueno, Maria Aparecida Granado, Nicola Souza Costa, Rosângela Aparecida Gomes, Stênio Steter, Alexandre Azevedo, Maria Olívia Garcia Ribeiro de Arruda e Pedro Lima Vasconcellos. Estrearam no número de 2010: Marleine Paula Marcondes e Ferreira de Toledo, Guilherme Felice Garcia, Fadel David Antonio Filho, Marcos De Martini, Leandro Leal de Freitas, Renaldo Mazaro Jr., Jorge Luiz Boldrin e José Leonardo do Nascimento. Deram sua contribuição na revista n.° 3, de 2011: Annabelle Loivos Considera Conde Sangenis, Léa Costa Santana Dias, Rodrigo Fontanari. Felipe Pereira Rissato foi a novidade do n° 4. Justo dizer que Cármen, Maria Olívia, Rachel, Rosângela e Maria Aparecida Granado são colaboradoras dos quatro números. Há outros de três ou dois números. Esses os batalhadores euclidianos, firmes na luta e sabedores de que sem o idealismo e competência deles, nada se teria conseguido de duradouro. Tocou-me profundamente o gesto do pintor baiano Otoniel Fernandes Neto de me escolher como responsável por uma "Introdução" a seu belo livro bilíngue (português e inglês) Os sertões — impressões e pinturas (2012), notável obra pictórica inspirada em trechos do grande livro de Euclides da Cunha. Como reconhecimento de Otoniel, recebi trinta exemplares do precioso trabalho, muitos deles depois ofertados a pessoas que me pareceram merecedoras. Depois de haver proferido a palestra de abertura da Semana Euclidiana de 2011, jamais me ocorreria a pretensão de eu ser convidado para conferencista oficial da Semana de 2012, quando menos porque já havia proferido as de 1983 e 2005. Não há na longa lista dos que ocuparam a privilegiada tribuna nenhuma repetição de nomes, além do meu. No entanto, escolhido, aceitei desvanecido a terceira indicação. Nunca me esquecerei do prazer intelectual e afetivo de ter podido, a 14 de agosto de 2012, falar sobre Euclides e o centenário euclidianismo rio-pardense para um público amigo e sinceramente interessado. Nestes quatro anos fui o julgador da Maratona Euclidiana. Em 2012, avaliei também os trabalhos da Área III, universitária. Na reunião de 3 de dezembro, comemorativa dos cento e dez anos de Os sertões, deu-se o ato final da época que agora analiso: o lançamento do volume inicial de uma ambiciosa Enciclopédia euclidiana, também iniciativa de coragem de Lúcia Vitto. Tocou-me a tarefa de selecionar os textos que a comporiam, todos retirados ao rico acervo que a Casa Euclidiana acumulou durante décadas. Foi como explico na "Nota introdutória": o volume que agora se publica traz uma seleta de estudos com a explícita finalidade de dar maior visibilidade a autores bem antigos, alguns dos primórdios do movimento euclidiano rio-pardense. Trabalho de fôlego o realizado por Antônio Fernando Torres, responsável pela parte editorial da obra. Se eu tive de garimpar material para duzentas e poucas páginas entre milhares disponíveis, Fernando colocou ordem formal nos textos escolhidos, atualizando-lhes o aspecto ortográfico. Uma tarefa de paciência e capacidade. Emblemática a capa da Enciclopédia: sob o fundo crestado do solo nordestino, Euclides da Cunha, o lampião da nossa ponte, a própria ponte e um detalhe de sua ferragem, no estado lamentável em que até agora se encontra, malgrado a promessa de vultosa verba estadual, em março deste ano. Não é a primeira vez que se pensa em organizar uma enciclopédia euclidiana. Em 1982, Adelino Brandão publicou em Jundiaí o primeiro e único volume de uma Enciclopédia de estudos euclidianos, que teve como colaboradores Abguar Bastos, Aldo Cipolato, Amélia Franzolin Trevisan, Célio Pinheiro, Dálvaro da Silva, Émerson Ribeiro Oliveira, Élvio Santiago, Everton de Paula, Francisco Marins, Geraldo Tomanik, Hersílio Ângelo, Honório de Sylos, Ivo Vanucchi, José Calasans Brandão da Silva, Márcio José Lauria, Moisés Gicovate e Oswaldo Galotti. Hoje essa Enciclopédia é raridade bibliográfica. Para encerrar este relato, ponho em relevo os nomes dos autores com textos publicados no volume I de nossa Enciclopédia: Adelino Brandão, Amélia Franzolin Trevisan, Cármen Cecília Trovatto Maschietto, Célia Mariana F. F. da Silva, Célio Pinheiro, Dálvaro da Silva, Daniel Piza, Dante Pianta, Edmo R. Lutterbach, Everton de Paula, Fadel David Antonio Filho, Francisco Marins, Geraldo Majella Furlani, Hersílio Ângelo, Honório de Sylos, Ivo Vannuchi, Joel Bicalho Tostes, José de Magalhães Navarro, José Aleixo Irmão, José Calasans, José Honório de Sylos, Lando Lofrano, Manoel Roberto F. da Silva, Márcio José Lauria, Marcos De Martini, Maria Aparecida Granado, Maria Olívia G.R. Arruda, Marleine P.M.F. Toledo, Moisés Gicovate, Nicola S. Costa, Olímpio de Souza Andrade, Oswaldo Galotti, Paulo Dantas, Paulo Herculano, Rachel A. Bueno Silva, Roberto Ventura, Rodolpho J. Del Guerra, Rosângela A. Gomes Pereira, Valdir Ferreira, Walnice Nogueira Galvão. De minha parte, a sensação do dever cumprido em favor de nossa cidade e da boa causa que é o euclidianismo.
08/12/2012
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