A Câmara e eu

 
Noite em que recebeu a homenagem máxima da cultura rio-pardense:
Medalha de mérito cultural “Germinal Artese”
Câmara Municipal - 17/03/2005
 

Iniciei tardiamente minhas atividades políticas, candidatando-me em 1972  a vereador à Câmara de São José do Rio Pardo. Tinha já 40 anos de idade.

Fiz campanha modestíssima, baseada em contatos pessoais e no envio de um bom número de aerogramas personalizados,  manuscritos por mim.

O resultado foi muito favorável e me elegi com expressiva votação. Exerci dois mandatos consecutivos,  entre 1 de fevereiro de 1973 e  31 de janeiro de 1982, com o primeiro mandato prorrogado por mais dois anos, juntamente com os prefeitos e vereadores de todos os municípios brasileiros .

Candidatei-me de novo nas eleições de 1981, mas tive baixa votação, que atribuo, principalmente, ao chamado voto vinculado, ditatorial invenção que obrigava os eleitores a votar nos candidatos de um mesmo partido, tanto nas eleições majoritárias quanto nas proporcionais. Isso garantiu fácil vitória a governistas no Norte e Nordeste e também a eleição de oposicionistas no Sudeste. Em São Paulo, Franco Montoro, candidato pelo MDB ao governo estadual, assegurou a vitória de muitos deputados, prefeitos e vereadores de sua legenda.

Tenho gratas recordações de minha passagem pela Câmara: de início, as sessões eram realizadas no prédio da Prefeitura, enquanto não ficava pronto o edifício próprio, na Praça dos Três Poderes, inaugurado logo depois.

Trabalhava-se intensamente, ninguém faltava às sessões ou se furtava de assumir atitudes corajosas.

Não me lembro de ter feito nenhum inimigo entre os colegas vereadores, apesar de alguns deles terem posições bem distintas das minhas. Dois deles chegaram a propor a venda da antiga Câmara, para em seu terreno edificar um hotel. A reação do plenário foi imediatamente contra um ato que viria  confirmar a  argumentação dos proponentes, segundo a qual "nada de  importante havia ocorrido naquele local”,  ou seja, a cidade não tinha história... Eu conseguia ver nas manifestações e nos votos de cada um deles seus modos particulares de trabalhar pelo bem coletivo.

Como exemplos de vereadores bem preparados e atuantes, lembro-me de Roberto Del Guerra, Waldir Zanatta  e José Spina Filho. Dois bons amigos, cuja amizade mantive por anos a fio, foram Alcino Pizani e Lourenço Berthi, que prestaram excelente serviço à cidade por ocasião da terrível enchente de 19 de janeiro de 1977. Meu vizinho e colega de grupo escolar Sérgio Gumercindo Della Torre dava sempre sua contribuição originalíssima aos debates. Lembro-me do dia em que, não sei se a sério ou de brincadeira, comentou com a então secretária da Câmara, Lúcia Salgado Potenza:

- Eu não entendo o que o  Márcio quer com o velho prédio da Câmara: uma hora ele quer tombar; daí a pouco ele quer preservar...

Durante grande parte de meus mandatos, os vereadores nada ganhavam – o que considero importantíssimo na melhor definição dos representantes populares de pequenas comunidades.

Dentre projetos por mim apresentados que se tornaram leis, lembro-me  com especial carinho do que reuniu as comemorações do aniversário da cidade em torno do dia  19 de março, embora a data oficial de fundação de São José do Rio Pardo seja 4 de abril de 1865; do que instituiu o Dia do Rio-Pardense Ausente; do que preservou o velho prédio da Prefeitura e Câmara; do que declarou área de preservação ambiental a Mata do Carneirinho ou Mata do Paixão.

Exerci com satisfação e empenho a presidência da Câmara num biênio, entre 1977 e 1979. Neste honroso exercício, procurei respeitar e fazer respeitar o regimento interno, no decorrer das sessões, além de sempre ressaltar, em todas as oportunidades, a autonomia e a autoridade moral do Legislativo.

Sempre achei que o Legislativo municipal precisa ter representantes de todo o espectro populacional, opondo-me, por isso, à elitista concepção de que todos os vereadores devem  ter alta escolaridade. Longe disso: tive provas definitivas de que também os menos letrados exerceram seus mandatos com dignidade e acerto, graças à grande experiência pessoal que tinham e à alta moralidade com que desempenharam suas funções públicas. A todos os meus antigos colegas de vereança, vivos ou mortos, a minha palavra de simpatia e admiração.

Tenho voltado à Câmara Municipal em diversas oportunidades, ora para receber honrosas homenagens, como o raro título de Cidadão Emérito de São José do Rio Pardo, ora para falar em nome da comunidade, como ocorreu em 2015, quando, a 4 de abril, fui o orador oficial nas comemorações do Sesquicentenário de fundação da cidade. Devo o convite à atenção do amigo e colega de magistério Antônio  Fernando Torres, então funcionário da Câmara, depois de ter exercido a vereança e a presidência da Casa.

Terá sido muito honroso para mim se, em data incerta e não sabida, eu vier a ser velado no recinto da Câmara e ainda ter afixada em minha sepultura uma placa indicativa de ter exercido, em longínqua data, a presidência de nossa Edilidade. São pretensões apoiadas em leis vigentes.

 

07/01/2017
emelauria@uol.com.br

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