Leitura de domingo

  

CORRETOR TEIMOSO

Apesar de todo o esforço para evitar que no texto da semana passada saíssem alguns acentos agora abolidos, umas palavras foram posteriormente “corrigidas” pelo computador. O certo teria sido eu desativar o corretor ortográfico, mas não o fiz. O leitor atento que me perdoe e elimine o indevido na lista de palavras dadas.

 

LONGEVIDADE EM ALTA

Se você ainda pensa que o Brasil é um país de jovens, está enganadíssimo. Seja por boa alimentação, seja por mais cuidados, o número de velhos aumenta de maneira a causar preocupações não só à Previdência Social, mas também às famílias. Não está nos planos de ninguém, no auge da força do trabalho, pensar em tomar conta de pais, mães, avôs e avós  que parecem ter-se esquecido de morrer, de desocupar o beco, tal qual se dizia  na dura metáfora de outros tempos. Para começo de conversa, a maioria das pessoas jovens ou apenas maduras não tem duas coisas essenciais ao bem-estar de velhinhos mais ou menos decrépitos: tempo e lugar. Onde foi parar o tempo de se conversar com os aposentados, doentes ou não? De cuidar deles? De dar atenção a suas queixas e resmungos por tudo e por nada? Que casa  dispõe de espaço para abrigar com certa privacidade pessoas  cheias de achaques, de manias, de maus hábitos, de teimosias? O jeito seria morrer na hora certa (e qual seria ela?) ou se internar numa casa de repouso – o mais comum eufemismo para asilo. O problema é mundial

Cléber Gervásio, meu colega de ginásio em recuados tempos e há cerca de vinte anos a serviço dos idosos de todas as classes sociais, mostra-me  os chalés individuais já existentes ou em construção no Asilo Padre Euclides Carneiro. Todos alugados, inclusive os que ficarão prontos daqui a meses.

 

PERGUNTA PERIGOSA E ALTAMENTE ESPALHÁVEL

Hugo Chávez, que mudou até o nome oficial de seu país, a Venezuela, reflete em voz alta sobre suas intenções políticas:

“Lula, presidente do Brasil, tem setenta por cento de aprovação popular e tem de ir embora, ao fim de seu mandato. Por quê?”

Nem é bom pensar.

Prefiro o xará do presidente venezuelano, o mexicano Chaves com s, aquele que faz as coisas sem querer, querendo.

  

CAMPEÃO POR ANTECIPAÇÃO

Não havia são-paulino que  não tivesse a mais clara certeza: o São Paulo Futebol Clube  conquistaria contra o Fluminense uma boa vitória que lhe daria  o título de tricampeão brasileiro. E justamente no dia do aniversário do técnico Murici, já rebatizado de Muritri.

Só não esperavam um Fluminense  tão aguerrido, que não abriu a contagem a dois minutos de jogo por total falta de sorte de seu artilheiro Washington, sempre um perigo..

Como corinthiano, nada  tenho a favor ou contra o time do Morumbi, muito pelo contrário, mas conheço frases como só o peru morre de véspera, não se pode contar com o ovo lá dentro da galinha, lembrem-se da Copa de 50, no Maracanã! – etc., etc.

O Goiás, adversário do  São Paulo amanhã, não é  flor que se cheire. Viram o que o time aprontou com o Flamengo?

  

FARÁ MELHOR NEGÓCIO

Não há dúvida: Hillary Clinton, como Secretária de Estado, terá muito mais condições de  angariar prestígio pessoal com muito menos responsabilidade do que Obama como presidente.

Ganhará bem, viajará pelo mundo todo, dará palpite em tudo e ainda se livrará do mala do marido ex-presidente.

Negocião ter sido derrotada na convenção do Partido Democrata.

 

MACHADO EM ALTA

Muito se escreveu e muito se discutiu neste findante 2008 sobre Machado de Assis, dada a passagem do centenário de sua morte.

Facetas de sua  personalidade e de sua arte literária foram justamente consideradas:

1. Ao contrário do que diziam contemporâneos detratores, Machado se preocupou com todos os problemas do Brasil de seu tempo. Participou, por exemplo, da reunião de fundação do primeiro clube de abolicionistas do Rio de Janeiro. Escreveu sobre Antônio Conselheiro e seus fanáticos de Canudos. Não se manifestou mais claramente a respeito de problemas candentes em razão de sua posição de alto funcionário da administração pública nacional. Chegou a diretor-geral do Ministério de Viação.

2. Mostrava nítidas preocupações políticas, tendo defendido com clareza a forma de governo que lhe parecia ideal para o País: a monarquia constitucional de feição renovadora, muito próxima do regime adotado na Inglaterra. Por isso, recebeu com frieza e apreensão a República proclamada assim como que por acaso.

3. Muito mais do que nos seus romances e contos, suas opiniões sobre a política estão expressas com ironia e elegância  na atividade jornalística, notadamente aquela da crônica parlamentar, em que retrata, como testemunha presencial, a vida do Senado e dos senadores.

 

RESPONSABILIDADES RIO-PARDENSES EM 2009

Muito importante será a  participação de nossa cidade no decorrer de 2009, ano do centenário da morte de Euclides da Cunha.

Materialmente considerada, providências para a restauração da ponte metálica reconstruída por  Euclides e inaugurada a 18 de maio de 1902, e a plena utilização da Casa de Cultura Euclides da Cunha como centro de pesquisas, museu e biblioteca serão grandes provas da consideração de nossa comunidade pelo grande engenheiro-escritor.

Sob o ponto de vista cultural, a Semana Euclidiana de 2009 precisará ter particular brilho, para isso se tornando indispensável assegurar-se, desde logo, a presença de nomes significativos do euclidianismo nacional e internacional.

Tem cabimento a instituição de um concurso,  com atraente premiação e de âmbito nacional, sobre um tema abrangente, como Euclides da Cunha e São José do Rio Pardo. Para isso, suas bases deveriam ser lançadas o mais tardar em fevereiro, para atrair bom número de candidatos e para que a proclamação dos resultados de  seu julgamento se dê na Semana Euclidiana de 2009.

Já se fez com sucesso algo assim em 2002, comemorando-se o centenário de Os Sertões. O vencedor foi um professor universitário do Rio de Janeiro.

Nesse sentido,  graças ao empenho de Anabelle Loivos  (Universidade Federal do Rio de Janeiro), cantagalense de nascimento e coração, e de seu marido Luiz Fernando Sangenis (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), a cidade de Cantagalo sediará o Seminário Internacional “100 Anos sem Euclides”, entre 25 e 27 de setembro de 2009. Já se vê que os organizadores tiveram em mente não concorrer com nenhuma atividade que São José quisesse organizar para agosto.

Aceitei  participar como palestrante na mesa-redonda “Euclides e outros sertões: interlocuções na literatura brasileira”, tendo a 26 de agosto de 2008 (!)  assinado o termo de anuência ao evento que se dará em Cantagalo.

Em nossa cidade, que eu saiba, nada ainda se estabeleceu de programação comemorativa do centenário. Tudo ainda estará em tempo se a nova administração municipal, tendo escolhido quem vá dirigir a Casa de Cultura, se propuser a queimar etapas e a solicitar o empenho de quantos possam colaborar no sentido do êxito de uma realização  que esteja à altura do que se espera de São José do Rio Pardo em matéria de euclidianismo.

Indispensável  a congregação de todas as forças vivas da cidade  e a convocação de universidades, imprensa, televisão, academias  de São Paulo e do Brasil para se dar ao centenário da morte de Euclides o brilho e a projeção que condigam com a importância do grande escritor na literatura e na cultura do País.

 

06/12/2008
(emelauria@uol.com.br)

 

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