Uma foto que faz pensar
O jornal Cidade Livre do Rio Pardo, que circulou a semana passada, publicou a foto aqui reproduzida e sobre a qual farei considerações de caráter meramente pessoal. Trata-se de documento com valor histórico, seja pelas pessoas envolvidas, seja pela coletividade que representavam, seja ainda pelas comparações que se podem fazer. De início, digo que aí estão os treze vereadores de São José do Rio Pardo, em 1955, reunidos no local onde funcionava a Câmara Municipal – na grande sala situada à direita de quem hoje entra no Museu Rio-Pardense, na antiga sede da Prefeitura. Ali era também a Biblioteca Municipal, cujas estantes envidraçadas e de madeira negra podem ser vistas no fundo. Lá estão, provavelmente mais bem trajados do que numa sessão ordinária, os cidadãos escolhidos como representantes do povo por causa de seus méritos individuais, com pouquíssima influência de facções religiosas, de meios de comunicação, de clubes esportivos, de entidades profissionais e assemelhados. Essa característica de valorização pessoal, que por muito tempo marcou o perfil das câmaras legislativas municipais, parece ter desaparecido por inteiro em dias atuais, em que vereadores se consideram a serviço dos grupos organizados que os elegeram, como se não tivessem compromisso maior com o total do eleitorado, com as cidades, enfim. Com alguns dos fotografados, tive boas relações de amizade; com outros, apenas contatos ocasionais; com outros, ainda, jamais troquei duas palavras. Só um deles está vivo – Djalma Darin, com seus oitenta e muitos anos bem vividos. É casado com Nívea, filha de Galileu Rondinelli, sócio da Farmácia Nossa Senhora Aparecida, então situada onde é hoje uma casa lotérica, na Treze de Maio. Muito querido o brincalhão Galileu e seu jeito peculiar de aplicar injeções mesmo nas crianças mais rebeldes. Sua família morava na casa onde hoje o Dr. Ernani Vasconcellos tem consultório médico. Nos dez anos em que fui vereador (1972-1982) tive como operoso colega Badhio Sarkis Abichabcki, talvez o rio-pardense que mais tempo permaneceu na Câmara, graças à sua maneira simples e honesta de fazer política, de bem representar os seus fiéis eleitores. Tive grande estima por três pessoas de temperamentos e atividades bem diferenciadas, mas ligadas ao euclidianismo: o Dr. Agrippino Ribeiro da Silva, Ruy Andreolli e Waldemar Poggio. Agrippino, presidente cativo da Comissão de Festejos Euclidianos, era o companheiro dedicado do Dr. Oswaldo Galotti nas Semanas Euclidianas anteriores à criação da Casa Euclidiana (1946). Exerceu funções díspares, como a de bem-sucedido diretor do Ginásio do Estado ou a de estimado gerente do Banco Moreira Sales. Orador de vastos recursos, tornou-se por décadas figura indispensável nas solenidades de 15 de agosto. Ruy Andreoll, sócio da Casa Alaska, era hábil comerciante, que tratava com especial desvelo os recém-casados, facilitando-lhes a aquisição de eletrodomésticos. Dele foi que comprei o primeiro refrigerador, o primeiro ventilador, o primeiro fogão a gás... Waldemar Poggio tinha tipografia na Rua Marechal Floriano, bem no centro da cidade. Caprichoso nos impressos, compreensivo nos prazos de pagamento, querido entre euclidianos e rotarianos. Nunca fui correligionário de Antônio Pereira Dias que, no entanto, sempre me tratou com perfeita gentileza. Foi prefeito em dois mandatos e, como também o fizeram depois Lupércio Torres e Celso Amato, exercia plenamente suas funções, madrugando para acompanhar o andamento de obras, mantinha-se a par de todos os assuntos municipais. Um prefeito dos mais dedicados. Eduardo Vicente Nasser tinha espírito empreendedor e muito fez pela cidade, com seu posto Shell, com sua concessionária Chevrolet, com a Refrigeração Nasser, com a Viação Nasser. Um pequeno império que, infelizmente para a cidade, acabou ruindo. Depois de sua passagem pela Câmara Municipal, elegeu-se deputado estadual com expressiva votação, mas não chegou a cumprir sequer o primeiro mandato, porque morreu em plena maturidade. Levou como assessor parlamentar Rubens Ortiz, funcionário de carreira da Secretaria do Governo de São Paulo, que aqui residiu por vários anos como diretor efetivo da Casa Euclidiana. Rubens me convidou para assumir a direção da Casa em seu lugar. Foi para mim uma experiência preocupante, mas compensadora, isso quando eu tinha menos de trinta anos. Figura polêmica a de Paschoal Artese, provavelmente o mais velho do grupo de fotografados. Manteve por muitos anos o jornal Resenha, irregular na sua publicação, mas intransigente na defesa dos interesses do povo, como apregoava em todas as edições, sempre abertas por duas frases latinas: Vitam impendere vero e Labor omnia vincit, ou seja, “Dedicar a vida à verdade” e “O trabalho tudo vence”. Minhas palavras finais sejam de simpatia ao amabilíssimo Antônio Amadeu Casagrande, um pequeno comerciante que tinha seu estabelecimento no Largo do Mercado, a Praça Barão do Rio Branco. Seu Tunim Casagrande, casado com a famosa professora Aninhas Carneiro e pai da Myriam, lindíssima colega de escola. Os três hoje descansam ali pertinho da capela de São Miguel.
06/02/2016 |