De olho no futuro

  
Papiro

 

Possivelmente você jamais consultou cartomantes, misteriosas mulheres que tudo sabem a respeito da vida alheia e muito pouco  de suas próprias.

De vez em quando, com caras e roupas de ciganas, elas aparecem pelas ruas da cidade, cada vez mais  ignoradas pelos passantes, sempre apressados e mais ligados aos problemas reais do presente do que às incertezas do futuro.

*

Em outros tempos  aqui na Praça Prudente de Morais, morando numa precária casa hoje demolida, havia uma mulherona de cabelos compridos e lambuzados de óleo, que se chamava algo parecido com Baíj, falava engrolado,  parava quem passasse em sua calçada e se propunha a ler a sorte de cada uma. Era uma cartomante, de quem diziam outras coisas pouco recomendáveis, que faziam dela uma figura estranha e evitável.

*

O fato é que hoje nada se fala de cartomantes, em outros tempos ligadas à momentosa arte de  adivinhar coisas do amor, do coração. Alguém, com idade avançada, se lembrará do estrondoso sucesso da música Manolita, que trata da triste sina de um toureiro apaixonado que encontrou a morte na arena, provando que as cartas não mentem jamais. Tocou na ZYD-6 até furar o disco. Menos ainda se fala de quiromantes, podomantes, rabdomantes, necromantes. (Se você nada sabe a respeito dessas atividades ligadas ao conhecimento do futuro através das mãos, dos pés, das varinhas mágicas, das vísceras de animais, fique sossegado, que nada disso lhe fará falta no  que lhe haverá de caber de sina em tempos vindouros.)

*

O que está em alta nos  dias que correm são tarólogos, numerólogos e astrólogos.  Tanto, que Sônia Racy, a jornalista que navega bem na economia, na política, nas artes, na vida social e cultural, talvez temerosa de arriscar seus palpites pessoais neste comecinho de 2014, reuniu cada um deles na página 2 do “Caderno 2” do Estadão de 1.° de janeiro. Um  mexe com aquelas cartas grandes e cheias de figuras que preveem venturas e desventuras ; outra, com os números que  tudo decidem e tudo consertam; outro com  os astros, que dependendo de suas posições no empíreo, determinariam os destinos humanos e evitariam os desastres.

*

As mesmas questões foram propostas para os três e cada um chegou a conclusões muito pessoais e um tanto reticenciosas.

*

Pergunta:  Em 2014, as manifestações ganharão as ruas outra vez?

 

Resposta do tarólogo: Serão ainda mais fortes, atingindo um número maior de pessoas. Teremos o mesmo volume do impeachment do Collor.

Resposta da numeróloga: Em maio (vibração de mudanças e excessos), com a proximidade da Copa, haverá manifestações populares, com os jovens ainda mais violentos, prejudicando a imagem do Brasil diante do mundo.

 

Resposta do astrólogo: Sim, uma crescente conscientização popular sobre os abusos e a corrupção dos governantes impulsionará algumas manifestações durante o ano.

*

Pergunta: Mais políticos serão presos?

O tarólogo: Mais falcatruas serão descobertas e alguns políticos pagarão o pato desta vez. Muita m... virá à tona em 2014.

 

A numeróloga:  Haverá  mais julgamentos para processos já em andamento.

 

O astrólogo: Sim, se a sociedade participar mais ativamente dos eventos políticos.

*

Pergunta: Haverá mais escândalos políticos este ano?

 

O tarólogo: Estamos vivendo uma era de limpeza, muitas coisas em 2014 serão descobertas, coisas verdadeiramente “escandalosas”.

 

A numeróloga: Em março (3), com uma pessoa de cargo elevado na administração pública; outro entre maio (5) e junho (6), relacionado ao mundo político e financeiro.

 

O astrólogo: Com certeza. Muitos  escândalos políticos virão à tona, principalmente porque estamos em um ano eleitoral.

*

Pergunta: O que acontecerá  com o julgamento do mensalão mineiro?

 

O tarólogo: A coisa será difícil, vão tentar enrolar; mas como teremos esse processo de limpeza, a questão será resolvida com justiça.

 

A numeróloga: Entre os meses de março (3) e agosto (8), o julgamento se desenvolverá de forma burocrática, com muitos recursos e sem decisões. Somente em 2015 haverá as devidas condenações.

 

O astrólogo: Não devemos ter esperanças de resultados efetivos. O arcaico Código Penal inviabilizará um resultado honesto e com justiça.

*

Pergunta: Dilma será reeleita?

 

O tarólogo: De jeito nenhum, a situação tomará uma dimensão tão grande de frustração, que o povo começará a acordar.

 

A numeróloga: Ela passará por um período delicado  com relação à saúde, assim como com pessoas do seu entorno. Em junho (6) viajará pelo Brasil e isso será favorável para que seja reeleita.

 

O astrólogo: Sim, vários aspectos astrológicos indicam a reeleição.

Pergunta: Em São Paulo, quem leva: Alckmin  ou Alexandre Padilha?

 

O tarólogo: Alckmin.

 

A numeróloga: Alckmin tem todas as possibilidades. Possivelmente veremos o nome de Padilha envolvido em alguma situação delicada.

 

O astrólogo: Alexandre Padilha terá, astrologicamente, forte projeção, podendo ganhar as eleições. Alckmin encontrará sua base política fragilizada por divisões internas e enfrentará difamações que dificultarão sua reeleição.

*

Pergunta:: O Brasil ganhará a Copa?

 

O tarólogo: O brasileiro costuma cantar vitória antes da hora (é pretensioso), e a pretensão é a maior inimiga da vitória.

 

A numeróloga:  Haverá uma queda de confiança na equipe, que levará o Brasil a perder a Copa.

 

O astrólogo: O Brasil terá grande atuação, mas não vencerá.

*

Proposta: Uma mensagem para 2014.

 

O tarólogo: A dica é: se você quer mudar, mude em 2014. O Universo reconhece quem tem desejos de mudanças. Que 2014 seja ( e já é) um ano de colheitas para aqueles que desejam amor e alegria.

 

A numeróloga: A palavra-chave do ano 7 é a busca da Sabedoria. Neste ano não há lugar para frivolidade, mas para reflexão. Busque a renovação na espiritualidade, para que a chama da fé se mantenha acesa.

 

O astrólogo: As sociedades são constituídas por indivíduos, portanto, a única maneira de se ter um mundo melhor é olharmos para nós mesmos e buscarmos compartilhar o que temos de mais precioso: amor, compaixão e gratidão.

*

Resumo da ópera:

 Nem uma revelação de espantar ou que não indique certo posicionamento pessoal. Nada que não possa surgir numa boa roda de amigos beliscando e  bebericando, numa happy hour.

 A grande e perigosa exceção está no pessimismo dos três quanto ao destino do Brasil na Copa de 2014.

No mínimo, no mínimo, os três arranjaram um inimigo comum bastante perigoso: o Felipão.

 

04/01/2014
emelauria@uol.com.br

 

Voltar