A hora que passa

 

O grande desastre aéreo

O que comove e espanta na tragédia que se abateu sobre a Chapecoense e sobre as pessoas do trágico voo foi a instantaneidade com que o mundo todo tomou conhecimento do acidente, ocorrido em local inóspito de país subdesenvolvido.

Esteve-se muito próximo daquele ideal comunicativo de McLuhan, em que a notícia do fato é concomitante ao próprio fato. O planeta Terra participou, consternado, de tristes lances em que todos lutavam  em favor da salvação de algum sobrevivente ou na consolação de familiares, colegas, amigos e também na solidariedade de tantos anônimos  de repente participantes de uma enorme cadeia  que incluiu todas as raças, todas as crenças e todos os quadrantes de nosso pobre mundinho.

Para mim, foi impossível não me lembrar da chamada tragédia de Superga, em que, no distante 1949, um avião que trazia da Espanha a vitoriosa delegação do Torino italiano se acidentou e matou todos os trinta e um passageiros, incluídos os jogadores que formavam a base da seleção nacional.

Como no caso atual da Chapecoense, famílias foram destroçadas, uma cidade (Turim) ficou profundamente abalada e a própria história do futebol modificada.

São muitas as provas que o  recém-vitimado vem recebendo de apoio, de consolações: a suspensão do futebol nesta semana toda; o rival da Chapecoense, o Nacional da colombiana Meddellín, já propôs que a equipe catarinense seja declarada campeã do Sul-Americano; o Palmeiras quer envergar no seu último jogo do campeonato nacional a camisa verde da Chapecoense; alguém sugeriu que o time tão duramente atingido pela fatalidade fique isento do risco de rebaixamento nos próximos três anos, para se refazer das perdas humanas e materiais.

Tudo isso é muito bom, mas dificilmente haverá resultados positivos imediatos.

 

Fidel, opiniões para todos os gostos

Provavelmente ninguém representará tão bem  a possibilidade de suscitar julgamentos tão desiguais num dado período histórico  do que a figura controversa que Fidel Castro pôde assumir no final do século passado e no começo deste.

Lembro a quase unanimidade favorável que o líder cubano  angariou quando se dispôs a derrubar um governo corrupto, como sem dúvida o era o de Fulgencio Batista, e a implantar na ilha do Caribe um sistema governamental voltado para os mais pobres e mais fracos. O modelo cubano, misto da força persuasiva de Fidel e do idealismo do argentino Ernesto Che Guevara, conquistou adeptos em todo o mundo e se tornou precioso símbolo de atendimento das mais caras aspirações das imensas legiões de fracos e oprimidos. Especialmente nos campos da educação e da saúde pública.

A adesão aberta do castrismo  ao comunismo ateísta, sua perigosa aliança com a União Soviética e a pouca distância entre Cuba e a Flórida (não mais de 140 quilômetros) motivaram atitudes drásticas por parte do Estados Unidos, temerosos com a incômoda presença de projéteis balísticos russos ali no seu quintal.

Não raro, revolucionários quando chegam ao poder viram tiranos.

De qualquer modo, não há como não reconhecer a importância de Fidel na exacerbação de um sentimento antiamericano  e na abertura de nossos olhos para o problema de não fazer do Brasil mero caudatário dos interesses norte-americanos. Quando menos, Fidel encorajou a América Latina a erguer a sua voz e a ver o mundo por ângulos mais independentes.

 

Um político de  valor

Fiquei vivamente impressionado com a entrevista concedida pelo ex-governador  Tarso Genro ao cronista político Mário Sérgio Conti, num desses canais de televisão paga.

Eu sabia que Tarso era figura exponencial de uma ala do PT que se manteve fiel aos propósitos da fundação partidária, fruto da original aliança do que o País tinha de melhor na Universidade, na Igreja e na atividade sindical. Infelizmente o PT, nos  anos de exercício  do poder  presidencial, mostrou-se pouco empenhado em bem governar, preocupado que estava em perpetuar sua influência em tantos setores da vida nacional. Deu no que deu.

Apreciei a lógica e o poder de persuasão do ilustre político gaúcho, muito preocupado com o geral do Brasil, sem dúvida atravessando um terrível momento de incertezas e de falta de perspectivas a curto e médio prazos.

Um valor como o de Tarso Genro não pode ficar à margem : ele tem muito a dar em favor de um país que precisa encontrar seus verdadeiros rumos através de lúcidas lideranças.

 

Novas enxadadas, velhas minhocas

Puxa vida, como no Brasil de hoje pequenos problemas que nem deveriam ser motivo de cogitações, de repente se transformam em causadores de novas crises, derrubam ministros, mostram as fraquezas presidenciais e comprovam como a corrupção tomou conta de tantos aspectos da vida nacional!

Isso sem se falar no pânico generalizado que afeta os políticos de todas as tendências e de todos os matizes, preocupadíssimos com o que delações premiadas podem trazer a público e escancarar as mazelas que tanta gente conseguiu esconder durante tanto tempo.

E ainda estranham quando os resultados eleitorais mostram, acima de tudo, como o Brasil está decepcionado com seus dirigentes.

 

26/11/2016
emelauria@uol.com.br

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