Bem-vindos retornos

 
Daqui do meu quintal

 

Isso de colocar o retratinho da gente lá no alto da página tem ajudado muito.

Não que a cidade seja grande, a ponto de ninguém conhecer ninguém.  É que com a passagem do tempo nós, meio fora de circulação física,  não temos facilidade de criar novos relacionamentos. Ao contrário, tendemos apenas a perder conhecidos, amigos chegados, colegas, parentes.

Quem, depois de dobrar o cabo da Boa Esperança, não sente inevitável surpresa  ao ver uma foto de trinta ou quarenta anos atrás? É infalível: quanta gente de sua faixa de idade já morreu!

 

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Não faz dois meses, o Trinca do Democrata e da Cidade Livre mandou-me uma foto de 1978, para que a identificação de nove pessoas que nela estavam, além de mim. Não tive nenhuma dificuldade em reconhecê-las, mas notei com certo pesar o detalhe: só eu estou vivo. Era a inauguração da ponte ali no comecinho da Rua Marechal Deodoro, construída em terreno pertencente a meu sogro, Domingos Parisi. Para fixar a passagem e abrir nova rua rumo ao bairro que surgia, foi preciso abater um bambual fechadíssimo e umas tantas árvores frutíferas, mangueiras, laranjeiras  e, infelizmente,  um jambeiro de fazer dó, tal o seu porte e o perfume dos frutos. Ninguém entendeu aquele gesto conformista de meu sogro, antes cioso da beleza de sua espontaneamente arrasada Rocinha.

 

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Mas retorno ao eixo meio perdido desta minha prosa: isso de colocar o retratinho da gente lá no alto da página tem ajudado muito.

Estava eu às voltas com a compra de frutas, verduras, pó de café e sei lá que mais num supermercado, quando um senhor me olhou fixamente, empunhando um exemplar do Democrata e me interrogou meio na dúvida:

- O senhor é esse aqui do retrato?

E era.

Então ele me disse que tinha gostado do meu artigo da semana anterior, aquele em que, louvando-me nas exageradas informações do Batista Folharini, eu recontei o caso do marmorista careca que furtara um dinheirinho da igreja em construção.

- Mostrei sua história pro meu filho e ele riu gostoso...

Fiquei com vontade de lhe dizer que de vez em quando a gente acerta com o gosto de alguém, mas que de modo geral as pessoas estão perdendo a paciência de ler coisas mais ou menos compridas. Prova disso é a grande venda do Diário de S. Paulo, que só dá notícias curtinhas, publica muitas fotografias  e nem pensa em editoriais, matérias de colaboração, análise profunda do que quer que seja.  E tudo pelo emblemático preço de UM REAL!

 

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Também mais recentemente, na Praça XV  fui parado por uma senhora que fez referência a um artigo em que trato de como o êxito de bons alunos está muito na dependência da qualificação dos seus professores.

- Eu penso exatamente como o senhor, disse ela – que me reconheceu pela foto do jornal. Na escola e também em casa nada vai bem sem a presença de uma palavrinha mágica: disciplina.

 

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Na mesma praça, segunda-feira agora,  eu me aproximava daquele privilegiado grupo de felizes aposentados do extinto Banespa, responsáveis por uns setenta por cento do PIB local.  Diversos deles temeram pela minha integridade física ao me aproximar de uma estranha depressão no piso, que me garantem estar com um ano de existência. Coisa inesperada, um verdadeiro mata-burros não só para velhos. Prestando bem atenção às coisas, o piso da praça, apesar de recém- reformado, apresenta emendas malfeitas, acabamento sem esmero algum, além de  infalíveis sinais da ação de vândalos. Bancos riscados e emporcalhados, bebedouro quebrado.  Eta Brasilzão!

Duas ou três pessoas daquele consistente grupo fizeram referência a recentes artigos meus. Um deles gostou do hápax, aquele gol de ouro do imperador Adriano.

 

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O amigo do peito Everton de Paula me antecipa seu texto para 3 de dezembro na seção “Nossas letras”,  do jornal O Comércio da Franca. O euclidiano-musicista-cronista, meio azedo,

destila suas queixas contra o que ele considera  pobreza da vida artística de sua bela cidade de uns trezentos mil habitantes. Que fazer? Dificilmente surge dinheiro público ou particular para manter com dignidade aquelas iniciativas que realmente contribuem para a elevação das pessoas. O problema nem é brasileiro, é mundial. Os shows bregas e as festas de peões vão bem, obrigado.

O mesmo Everton me telefona na terça, mui feliz  por ter sido promovido a avô. Feliz vida ao Vítor.

 

 
 

DAQUI DO MEU QUINTAL

Mandei pela internet a fotografia que ilustra esta página a um bom número de pessoas, para elas participarem do que me pareceu  uma boa e inédita paisagem. Inédita porque  elevei meu posto de observação, subindo três ou quatro degraus de uma escadinha portátil. Tudo se modificou, dando a impressão de que a Matriz de São José era muito próxima de minha casa e que no meio do caminho havia apenas uma boa área arborizada, sem ruas nem praças. Efeito do zoom, sem dúvida.

 

Algumas impressões de internautas:

·        A igreja parece-me um tanto deslocada! (Pe. Roque)

·        Mas esse seu quintal é mesmo mágico! Além das jabuticabas, ninhos de passarinhos e outras maravilhas é ainda estúdio fotográfico! (Maria)

·         Parece que você mora do ladinho da Matriz! Dá pra ver as horas no relógio. (Sônia)

·         Parece que tem mais verde do que no meu tempo de criança... (Paula)

·         As torres ficaram muito bem no contraste com as nuvens e o espaço. (Nélson)

·         Que privilégio! (Pe. Lu)

·         Deus te ajude! Belíssima foto. (Willian)

·         Gostaria muito de saber fotografar... (Moly)

·         Visão privilegiada. (Eduardo)

·         Bela foto. (Cristina, e  Carlos)

·         Saudades da pequena São José! (José Flávio)

·         Bonitissíssima. (Fernando)

·         Nem todos enxergam com o coração. Obrigada por isso. (Luísa)

·         15 h de uma bela tarde! (Maitê)

·        As igrejas são as identidades das cidades. Invejável ter essa visão de seu quintal. (Beth)

·        Contemplei sua foto  na biblioteca pública de uma cidade inglesa  à beira do Mar do Norte chamada Clacton-on-Sea, hoje fria e feia – céu e mar idem, com cinzentos pesados. Eu, há pouco num ônibus, pensava que a nossa Sainzé jamais foi Itabira. As fotografias – na parede e alhures – atestam repetidamente, pela alegria que trazem. (Antônio Fábio)

 

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PLACAS BILÍNGUES

 

Já fizeram brincadeira semelhante quando o Rio de Janeiro foi a sede dos Jogos Pan-Americanos. Agora, com a aproximação da Copa de 14 e da Olimpíada de 16, o assunto ganha força. Para esclarecer os turistas estrangeiros, placas indicativas de localidades cariocas passariam a ter versão em inglês. A coisa ficaria  assim:

 

Morro do Alemão > German Mountain

Botafogo > Set  Fire

Encantado > Nice to Meet You

Santíssimo  > Very Very Holy

Irajá > Will Go Now

Andaraí  > To walk there

Benfica  > Nice Stay

Olaria > Hello Smile

Ilha do Fundão > Very Deep Island

Pechincha > It’s Very Cheap!

Jacarepaguá > Alligator to the Water

Abolição > Set Black People Free

 

Imaginação criadora e mente brincalhona, já se vê.

 

Em São Paulo, missão tradutória semelhante  seria impossível. Como inventar correspondentes pretensamente ingleses para Sapopemba, Tucuruvi, Pacaembu,Ibirapuera, Mooca, Tietê, Anhembi, todos termos de origem tupi?  Para Tatuapé até que não  é difícil.

 

 

 

 

03/12/2011
emelauria@uol.com.br)

 

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