Modernos & modernices
Meu primeiro neto, Fernando Lauria Darcie, já entrou na casa dos trinta e tem muita experiência de vida. Basta dizer que entre suas muitas viagens, bateu para o Canadá, onde não só estudou, mas trabalhou firme, não rejeitando serviços que no Brasil seriam tidos como incompatíveis com seu nível de conhecimento – afinal é publicitário pela ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing. Não rejeitou sequer trabalho braçal para acompanhar de perto a Olimpíada de Inverno de Toronto (2008). Atualmente mora em Lençóis Paulista, está empresário junto com o pai e escreve suas bem-traçadas linhas para um jornal local. Transcrevo hoje recente artigo seu, oportuno e atual, que ajuda pais e avós a procurarem entender coisas que lhes parecem falta de atenção e de consideração por parte da moçada em flor, que não larga o celular para nada, nada mesmo.
Geração Whatsapp “Ser moderno é encontrar-se num ambiente que promete aventura, poder, alegria, crescimento, transformação de si e do mundo – e, ao mesmo tempo, que ameaça destruir tudo o que temos, tudo o que sabemos, tudo o que somos. Os ambientes e as experiências modernas cruzam todas as fronteiras da geografia e da etnicidade, da classe e da nacionalidade, da religião e da ideologia; nesse sentido, pode-se dizer que a modernidade une toda a humanidade. Mas trata-se de uma unidade paradoxal, uma unidade da desunidade; ela nos arroja num redemoinho de perpétua desintegração e renovação, de luta e contradição, de ambiguidade e angústia. Ser moderno é ser parte de um universo em que, como disse Marx, ‘tudo o que é sólido desmancha no ar’.” ( Marshall Berman, citado por David Harvey.) Há um “gap”, um abismo de padrões e comportamentos cada vez maior entre as pessoas nascidas antes e depois do início da década de 1980. A chamada geração Y, pessoas que hoje estão no auge da energia da vida (com idade entre 18 e 35 anos), é vista pelos mais velhos como gente que não quer nada com nada. Os “Y” se empolgam e logo se desempolgam de tudo. São voláteis nos relacionamentos, odeiam rotinas, querem viajar, experimentar, conhecer tudo aquilo que seus pais – por conta de carreiras, famílias, padrões éticos, morais e religiosos e seguidas crises econômicas – não tiveram oportunidade de conseguir. Para os mais antigos, portanto, muitas atitudes das pessoas da geração Y incomodam. A volatilidade de vontades, por exemplo, que faz com que muitos tenham mais empregos no período de um ou dois anos do que seus pais tiveram durante a vida toda, costuma ser interpretada como descompromisso ou irresponsabilidade. As idas e vindas em relacionamentos mais velozes do que os de artistas da Globo são encaradas como promiscuidade, sem-vergonhice. Mas talvez o fenômeno que hoje mais afete essas relações intergeracionais seja a popularização dos smartphones e seus aplicativos de trocas de mensagens. WhatsApp: bate-papo do Facebook, Twitter e Skype – para não citar as ultrapassadas mensagens SMS, e-mails e o finado MSN – são acessados por qualquer pessoa em praticamente todos os lugares (isso quando as conexões de internet não falham). Inclusive durante diálogos, almoços, encontros entre amigos e familiares, celebrações religiosas e, dizem por aí, até durante o sexo! É um fenômeno extremamente novo – há cerca de cinco anos, essa tecnologia não existia no Brasil – mas que já revolucionou a maneira de uma geração viver. Hoje, na geração Y, são mais raras as pessoas que vivem sem verificar o celular a cada cinco minutos do que gente cujo celular virou uma parte do corpo, uma extensão das mãos, boca, ouvidos, olhos e cérebro. Contudo, para a parte da sociedade acostumada com “olhos nos olhos”, isso é interpretado como falta de educação. Ter acesso a qualquer pessoa e suas novidades, a fotos e filmes se tornou algo corriqueiro para a geração Y. É como se o “rolê” acontecesse constante e ilimitadamente, a reunião de amigos fosse permanente. Portanto, contra isso não há o que se fazer, e a tendência é “piorar”: o Google Glass (óculos com acesso à internet), por exemplo, vem aí, e certamente daqui a um tempo outros hábitos serão criados ou recriados. Aos amigos analógicos, leitores de jornal de papel: por favor, não interpretem mal se seu filho, neto ou sobrinho conversar com você e olhar pro celular ao mesmo tempo. Talvez, sim, exagere um pouco ao não lhe olhar nos olhos. Mas não é maldade, ele te ama muito e a essa altura já deve ter dito isso nas redes sociais (“conversando com meu vovozinho queridooo<3”). É apenas mais um daqueles eternos conflitos entre gerações, sem os quais o mundo seria para sempre igual e repetitivo. (Até aqui, Fernando. Entenderam? Ou só piorou a situação?)
Ideias arrojadas sobre eleitores e eleições Ser eleitor é obrigatório; votar seria facultativo. Não poderia haver nenhuma multa ou restrição de qualquer ordem a quem não votasse. No dia de completar dezesseis anos, o brasileiro deveria receber em seu endereço uma senha que só poderia usar em dia de votação. Uma vez utilizada a senha, ela ficaria bloqueada até a próxima eleição. O meio de votação seria eletrônico, para isso valendo computador pessoal, celular, smartphone e todas as inovações no setor. A rede informatizada do sistema bancário ficaria à disposição dos eleitores nos dias de eleições. Os votos seriam computados nas capitais e divulgados os resultados em seguida ao término da votação. O eleitor votaria de onde estivesse, do modo que lhe fosse mais fácil, entre as muitas opções oferecidas. O eleitor que transferisse seu domicílio eleitoral receberia nova senha, com anulação da anterior. Candidatos a vereador não precisariam inscrever-se em partidos. Seriam eleitos se ficassem entre os mais votados, dependendo do número de cadeiras da Câmara Municipal a que concorressem. Para se candidatar a vereador, seria preciso ter domicílio no município e instrução mínima de ensino fundamental completo ( nove anos de escolaridade). O número de vereadores variaria entre cinco e quarenta, de acordo com a população de cada município. O mandato do vereador em município de menos de cinquenta mil eleitores seria gratuito e considerado de relevante serviço público. Nos demais municípios, o vereador receberia ajuda de custo proporcional à arrecadação do município – nada, porém, que lembrasse um salário profissional. Candidatos a prefeito seriam inscritos em partidos políticos. Seu grau de instrução mínima seria de ensino médio completo. Prefeitos ganhariam subsídios, não podendo, contudo, ultrapassar a metade dos subsídios de deputados estaduais. Os mandatos municipais seriam de cinco anos, vedada a reeleição de prefeitos para o quinquênio seguinte. Ninguém se candidataria a deputado estadual se não tivesse sido ou vereador ou prefeito. Grau mínimo de instrução: ensino médio completo. Seriam eleitos deputados os candidatos mais votados dentre todos dos diversos partidos, abolido expressamente o voto de legenda. Todas estas ideias acima expostas surgiram de pessoas comuns e muito esclarecidas. São democráticas, viáveis e econômicas. Sabe quando elas serão postas em prática? Nunca, porque não interessam aos políticos profissionais, aos carreiristas, aos sócios do erário.
02/11/2013
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