Nós, entomófagos


Morro acima

 

Você aí, que se lembra até do Cine Pavilhão XV de Novembro, que viu nele coisas do arco da velha,  filmes documentários de arrepiar os cabelos,  deve ter no fundo da memória algumas nauseantes cenas de faquires que, deitados em camas de pregos, comiam baratas, grilos, gafanhotos, para só falarmos de insetos. Sim, porque houve os que engolissem  camundongos vivos,  segurando-os pelos rabinhos, tragassem peixes se debatendo – coisas do gênero.

Pois leio agora que progressista empresário de Betim, cidade industrial de Minas Gerais, está propondo ao governo federal legalizar a venda de insetos como fonte de proteínas para os humanos. É, Luiz Otávio Pôssas Guimarães, dono da Nutrinsecta, garante que a criação de bichinhos é mais produtiva que a de bovinos e gera muito menos impacto ambiental. Sim, porque talvez você ainda não tenha atentado para a realidade, mas os gases exalados dos excrementos de rebanhos bovinos, bubalinos, ovinos, equinos e  elefantinos espalhados pelo mundo poluem muito mais do que o parque industrial brasileiro todinho.

Luiz Otávio requereu o registro de estabelecimento produtor de insetos  para o consumo humano. O pedido deu entrada em abril, no Ministério da Agricultura, cujos técnicos agora estudam a entomofagia (prática de comer insetos) e ainda não têm data para responder ao requerente.

Alegando tratar-se de tema controverso, esses mesmos técnicos pediram  ao interessado o fornecimento de indicações bibliográficas sobre o assunto, que sem dúvida será de geral interesse.

O próprio ministro da Agricultura, Wagner Rossi, reconhece que com a notável biodiversidade brasileira, inevitavelmente o assunto ocupará amplos espaços entre os estudiosos.

Preconceitos à parte, porque há preconceitos contra quase tudo, a entomofagia já é prática normal  na África (23 países), na Ásia  (29 países) e na própria América  (23 países). Pelo jeito, a FAO, órgão da ONU  ligado à agricultura e à alimentação, já deve saber quais insetos são de preferência consumidos aqui no Brasil. Não se tratará certamente de consumo à vista de todos, mas às escondidas, pela mais pura necessidade, enquanto os programas assistenciais do governo federal não atendem com a eficiência apregoada pela propaganda oficial.

De qualquer maneira, talvez não seja para o nosso tempo o amplo uso alimentar de minhocas, taturanas, içás, larvas, borboletas, tanajuras e outros acepipes ( insetos ou não) de grata aceitação em outros países.

Se você não viver muito, não terá o prazer de solicitar em restaurante estrelado uma saúva ao molho pardo, um grilo à dorê,  um mandarová à moda da casa, mas nada impedirá de eu, você, todos nós entrarmos, até enganados, no consumo de doses balanceadas de farinha de insetos variados, de alto valor proteico. Afinal de contas, se a maioria de nós já encara com naturalidade um peixinho cru, quando leva nome japonês, por que não engolir sem náuseas umas perninhas de barata preparadas no capricho?

Isso sem se falar no que comemos e bebemos sem saber como é a sua criação, o seu preparo. Um frango, por exemplo, quanto terá ingerido de hormônios em sua curta vida de meses para chegar logo ao ponto de abate? E os enlatados? E os embutidos? E os refrigerantes?

O problema não é de hoje, bastando lembrar a frase de Otto Von Bismarck, chanceler alemão  do século XIX:  “Jamais queira saber como são feitas as leis e as salsichas!”

 

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Ah, você já percebeu que o entomófago, lá de cima, significa comedor de insetos.

 

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NEYMAR, O NOME DA VEZ

Não adianta  querer evitar: a revista semanal, o jornal diário, o noticiário de TV, o programa radiofônico, a mídia nacional e internacional - todos tratam do mesmo assunto, Neymar, “finalmente um craque da linhagem de Pelé”.

Deixando-se de lado o despeito que nós, corinthianos, são-paulinos, palmeirenses, com justa razão temos do Santos e seus craques atuais, ainda nos caberá  torcer por eles quando envergarem a camisa do Brasil, nesta Copa América que se aproxima, assim como já precisamos, há poucos dias, sofrer  naquele jogo tenso  contra o Peñarol de uns uruguaios raçudos e meio pernetas, na disputa final da Libertadores.

Se ao menos Neymar   perdesse um pouco aquela cara de moleque mal-educado  e aquele corte de cabelo que remete sem querer à malandragem, à cafajestada... O emissário do Real Madrid já mandou o recado: com aquele topete ridículo de moicano, não haverá nem começo de conversa, quanto mais acordo para futura contratação.

 

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O MÉDICO ESFORÇADO

Digno mesmo de registro o fôlego diuturno do prefeito de Apiaí, que além da jornada que se supõe estafante à frente dos destinos do município do Sul paulista, ainda encontra disposição para atender  a três  hospitais de Praia Grande, Eldorado Paulista e Iporanga.

São, nos três plantões, cinquenta e quatro horas semanais.

Supondo-se que como executivo municipal  ele não  inspecione obras, não se reúna com auxiliares, não se relacione com a Câmara, não atenda ao público, não viaje, não tenha compromissos de representação, assim mesmo aquelas cinquenta e quatro horas médicas já serão de matar.

Tanto que ele mesmo reconhece o seu incomum esforço  e diz estar se afastando dessas funções de médico, mas há um dado complicador: ele afirma ter aberto mão do salário de prefeito! De que viverá?

Como diria o solerte Tutty Vasques, essas coisas a oposição não vê!

 

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INVASÕES CIBERNÉTICAS

Rubens Barbosa, editor da revista “Interesse Nacional”, escreve preocupado artigo sobre a ação dos hackers nos sites de órgãos públicos, tais como a Presidência da República, a Prefeitura de São Paulo, o Ministério do Esporte, o IBGE.

Que querem esses invasores? Supõe-se que roubar informações estratégicas sobre o programa nuclear brasileiro, sobre as usinas de geração de energia, sobre as redes de distribuição.

O articulista considera essas incursões um perigo em face da vulnerabilidade do Brasil a essa nova forma de guerra. Se medidas não forem efetivadas, o País estará à mercê de inimigos clandestinos, capazes de semear o caos e  de complicar a vida de todos nós.

O  ministro da Ciência e Tecnologia, Aloízio Mercadante, está com a solução na ponta da língua: contratar outros hackers (“jovens criativos”, no dizer dele) para ajudarem o governo a criar uma estrutura de defesa mais articulada, mais eficiente.

Ah, bom. Um tipo de fogo de encontro. Faz sentido, não é mesmo?

 

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CUESTA  ABAJO

Poucas vezes se deu tanto espaço nos programas da TV brasileira ao futebol argentino quanto na semana que passou. Tudo por causa do dramático descenso de um popular time, o River Plate, segundo um amigo que viveu em Buenos Aires, um tipo de Palmeiras de lá.

Clube com cento e dez anos de existência, seu nome é bem uma prova da influência exagerada dos ingleses em tantos segmentos  dos hábitos argentinos.

Em que língua está escrito River Plate? Em espanhol certamente que não. Seria Río de la Plata.  Muito menos em inglês. Seria Silver River, porque plate quer dizer, entre outros sentidos, placa, chapa, mas nunca prata.

Não é, porém,  desse tipo de questão que se tratou na televisão brasileira: explorou-se à exaustão o drama de uma torcida fanática que viu seu time, que precisava vencer com dois gols de diferença, sair em vantagem, ceder o empate, perder um pênalti  e cair para a segunda divisão. O que ocorreu no estádio, em seus arredores e depois na cidade inteira não condisse com a imagem civilizada de uma grande capital nem com a autoestima do argentino, na verdade um tipo italiano que fala espanhol e pensa que é inglês...

Pelas lamentações e sinais de revolta das duas torcidas, lembrou-se muito da queda do Corinthians para a segundona,  há pouco tempo. Como se lembrou, também, do River Plate tirando o Corinthians de duas disputas da Libertadores.

Achar motivo de júbilo corinthiano na queda do River seria vingança tardia e por mão alheia. De pouco valor, portanto.

 Houve, no final de semana, outros motivos muito mais verdadeiros para as alegrias da  grande torcida alvinegra.

Nota final: Cuesta abajo,  velho e famoso tango, pode ser traduzido  por morro abaixo.

 

02/07/2011
emelauria@uol.com.br)

 

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