Do artigo e da viagem


Resumo: cabana, paineira e ponte

 

Achei que meu artigo da semana passada, “Os tempos são outros”- um tijolaço daqueles, fosse ter poucos leitores atentos de verdade. Pois a reação foi de pura surpresa para mim. Diversos telefonemas (Maitê, Mariana, Adalberto, Carlinhos, Lucas...), muitos papos na rua ( Gastãozinho, Maria Helena Xavier, José Antônio Fernandes, Danilo Ferreira, um anônimo de camisa xadrez, logo sábado de manhã; Vera...) e um número considerável  de e-mails. Antes isso.

Transcrevo trechos  da correspondência eletrônica recebida já no sábado passado, dando a cada um deles o título que me pareceu mais adequado.

 

MÃE FELIZ DA VIDA

Admiro esses jovens corajosos, que confiantes em si mesmos, determinados em buscar realização pessoal e profissional, não hesitam em experimentar, inovar e arriscar.

 

RESUMO

Você falou tudo mesmo dos novos tempos.

 

O GRANDE PERIGO

Certamente, para os tecnicistas o fim da vida reservará muita reflexão crítica diante do inexorável expirar da existência humana. Se jovem hoje,  não posso imaginar que caminho eu seguiria.

 

MÃE ESPERANÇOSA

Os jovens hoje são mesmo mais audaciosos e arrojados. E como o mundo aí oferece a eles mil oportunidades, se esforçados, vencerão.

 

MÉDICA DIVULGADORA

Estou compartilhando seu texto com amigos e colaboradores.

 

UM DOS ENVOLVIDOS

Esses seus netos sem foco são mesmo de lascar.

 

ADVOGADO ATENTO

Percepção perfeita sobre os novos tempos. Tenho muita preocupação, já que minha filha caçula tem onze anos (os mais velhos estão formados e exercendo as profissões que escolheram). A pequena vive neste tempo de grandes e velocíssimas transformações.

 

MÃE CALEJADA

Os tempos são realmente outros e, como dizem por aí, “só muda o endereço”, pois as experiências de todas as  famílias, com algumas variáveis, são as mesmas. Acho admirável essa coragem e ousadia dos jovens de hoje. São muito mais livres. O problema é que os tempos não são outros para nossas cabeças formadas por um superego ultrarrígido. Sofremos o dobro. O que vai ser? Não nos damos conta que somos perfeitamente dispensáveis e as oportunidades do mundo infinitamente maiores.

 

MÉDICA ENQUADRADA NA MODERNIDADE

Acho que tenho um pouco desta geração multitask. Vivo em diferentes lugares usando diferentes línguas. Quando olho para essa fotografia de São José, da perspectiva do rio Pardo em sua crônica, penso que meu pai, médico cinquenta anos, viveu uma vida vertical que seu mundo permitiu. Hoje é patinar (skate) no horizontal com caos e senso de ventura. É outro mundo.

 

ADVOGADO UM TANTO PESSIMISTA

É isso mesmo! Hoje todo jovem sabe de tudo. Neste tudo, viaja para aqui e ali. Mas nunca sabe o que fazer com tanta liberdade! E minha geração, de quarenta e poucos anos, fica perdida no meio deste tiroteio.  Salve-se quem puder!

 

MÃE ARTISTA E REALISTA

Linda esta foto de São José! (*) Como o senhor colocou no título, os tempos são outros... e temos que nos adaptar sempre...

(*) Sua autora é Maria Luisa Zulli, ótima paisagista.

 

LEITORA IDEAL

Artigo interessante, atual, ousado, real, verdadeiro... e  ainda encantador . Fiquei feliz por ler...

 

MENSAGEM DO VELHO MESTRE

Parabéns pela sua família, que está sabendo aproveitar as modernidades. Nós somos, seguramente, muito comodistas, mas ainda assim felizes. Confiamos demais na natureza que a moçada ajuda a destruir...

 

 

A  VIAGEM  DE  25  DE  MAIO

Impensável não atender ao convite de Octávio Verri Filho, um aposentado promotor de Justiça que se impôs a dura tarefa de fazer o mapeamento da atividade literária nas cidades de São Paulo e de Minas Gerais situadas  num raio de cem quilômetros de Ribeirão Preto.

E  assim Eduardo Roxo Nobre, Rodolpho Del Guerra e eu fomos prazerosamente participar  da sessão solene  da Academia de Letras e Artes daquela grande cidade, como representantes de nossa São José do Rio Pardo num encontro regional  cuja importância nos era impossível bem avaliar.

No auditório da Associação Comercial  estavam perto de duzentas pessoas, entre autores de livros e familiares, além  de  representantes de outros escritores já falecidos. Rodolpho  havia sido homenageado em 2004, mas Eduardo e eu recebemos diplomas e placas alusivas  a nossos trabalhos:  Eduardo por causa de seus estudos sobre história e genealogia, eu pelos meus textos que fazem referência à memória da cidade.

Tivemos  também a grata surpresa de ver entre os homenageados Geraldo Majella Furlani, meu colega de magistério desde 1958 e ainda ativo participante de nosso movimento euclidiano. Majella, grande expressão da cultura casa-branquense, profundo conhecedor de geomorfologia. Majella e suas inesquecíveis exposições de slides  sobre a flora da região de Canudos, tendo por base o próprio texto de “ A terra”, de Os sertões.

 Quem me reconheceu e me fez muita festa foi Roque Diaulas  de Camargo, maratonista de tempos muito recuados, e hoje autor de obras sobre sua cidade natal – Santa Cruz das Palmeiras.

Octávio Verri Filho na mesma sessão inaugurava  a Plataforma Verri, site especializado na internet, em que ele resume e comenta centenas de autores  e obras das tais cidades paulistas e mineiras.

São José aparece bem nessa plataforma, com trinta e três obras. O autor mais citado  e estudado é Rodolpho, mas existem também trabalhos de Amélia Trevisan e Cármen Trovatto, além dos de Eduardo e os meus.

Verri comenta e resume o conteúdo de cada uma das obras! Vale a pena conhecer essa plataforma, que se acessa pelo Google.

É como ele mesmo nos confessou, na recepção dada depois da cerimônia:

- Minha mulher já não suporta me ver lendo e depois comentando tanto livro!

 

Só não dá para escrever  sobre tudo o que Eduardo, Rodolpho e eu conversamos na ida e na volta. O fato é que a viagem nos pareceu curtíssima.

 

02/06/2012
emelauria@uol.com.br)

 

Voltar