Daqui & dali
O BRASIL DA PERIFERIA De repente vem à consideração dos brasileiros e do mundo todo a existência de um país dentro do Brasil – um outro Brasil formado pelas classes C, D e E , que bem poderia ser chamado de República Federativa da Periferia. São 155 milhões de pessoas com um crescente poder aquisitivo, alimentado pela melhoria dos ganhos e pelas facilidades do crédito. No ano passado, essa população gastou com produtos e serviços em geral mais de um trilhão e duzentos bilhões de reais. Só os jovens da classe C consumiram, em 2013, quase 130 bilhões de reais com aparelhos dentários, roupas de marca, cremes e loções de beleza, óculos escuros, pulseiras, correntes, tatuagens. Se as pessoas dessas três classes formassem um país, ele seria o oitavo em população e o décimo sexto em consumo. São deles 38% das contas bancárias, 33% dos cartões de crédito, 46% das viagens de avião, 40% dos computadores, 42% dos smartphones, 45% dos televisores de plasma, LED ou LCD, 54% do total dos tablets . E daí? – pode perguntar o leitor meio desligado dessas coisas. Daí que eles mandam no País, dão às coisas o rumo que entenderem, desde a ordenação de inocentes ( ou não) rolezinhos até a eleição do vereador, do prefeito, do deputado, do senador, do(a) presidente. Como fazer essa impressionante massa humana contribuir para o bem comum, para a elevação dos conceitos de cidadania e de espírito público? Através da educação – é a resposta universal. Só a educação salvará o Brasil, como já salvou outros países, resgatados por meio da disciplina, da escolha de objetivos claros, da ação de lideranças comprometidas para valer com um verdadeiro esforço de salvação nacional. Difícil? Difícil, sem dúvida; mas possível. Que o digam a Alemanha e o Japão derrotados na guerra de 1939-1945, as Coreias arrasadas, os Vietnãs incendiados, a China em seu atraso milenar, os emirados árabes, o Chile. Sem um projeto nacional de educação de base, pouco há que se fazer. E nem tudo se pode esperar dos governos: assim como os esforçados integrantes da República da Periferia têm conseguido vitórias pessoais no campo da economia e das finanças, é fundamental que levem a sério a melhoria da educação de seus filhos e netos. Sem isso, a vitória será incompleta e frustrante, sujeita a chuvas e trovoadas.
ANTÍTESE DO SEDUTOR Não deixa de ser surpreendente a tortuosa biografia sentimental de François Hollande, presidente da França. Sem charme, não tem altura, é meio balofo e, no entanto, mandou um dia destes para o hospital a bela mulher que fazia as vezes de primeira-dama. É que, depois de vinte e oito anos e quatro filhos com a legítima esposa, Ségolène Royal, François a dispensa e a substitui por Valérie Trierweiler, com quem passou a morar na casa presidencial, como se casados fossem. Até aí tudo bem, porque em qualquer latitude esses passos arriscados, antes tão condenados, hoje são recebidos com naturalidade sob o forte argumento de que cada um tem direito à busca de sua ventura pessoal. Pois não é que uma dessas revistas de bisbilhotices descobre que o irrequieto François vive há bem mais de ano um outro caso de amor com Julie Gayet, atriz das muito bem apanhadas? Valérie Trierweiler subiu nas tamancas e mereceu até ser chamada de Rottweiler, por semelhança de nome com o dos ferozes cachorros alemães. Subiu nas tamancas e perdeu a alegria de viver, a ponto de precisar ser internada numa clínica para se recuperar de seus chiliques e melancolias. Julie Gayet, o vértice do novo triângulo isósceles, não deu nem um pio e aguardou o desfecho dos acontecimentos, ocorrido no final semana: François e Valérie, em comunicado público, avisaram a quem interessar pudesse que romperam os laços da convivência pessoal mantidos durante anos. Uma vez Valérie fora de suas atribuições de primeira-dama, como procederá agora o trêfego François Hollande: continuará visitando de moto e com guarda pessoal a fascinante Julie Gayet ou a levará para acampar na casa presidencial? Sabe-se lá, esses franceses são imprevisíveis.
O ESTADO REAL DE NOSSAS CIDADES Enfrentando a maior crise da história brasileira, nossas grandes cidades vivem dias de miséria e caos. O arquiteto e pesquisador Antônio Risério assim define três das maiores delas: Salvador – um vilarejo com elefantíase. Rio de Janeiro envolvido com a Olimpíada de 2016 - o paraíso do autoengano. São Paulo aos 460 anos – ela diz muito de nossa força de nossa miséria. * Gostaria de saber a opinião desse Risério a respeito de Brasília, a cidade que foi planejada para não ter congestionamentos e para chegar ao máximo de um milhão de habitantes. Hoje tem uns três milhões, um mundo de cidades-satélites, muita miséria e centenas de semáforos, jamais previstos por Niemeyer, orgulhoso de suas passagens em desnível.
UM SUJEITINHO BEM PIOR DO QUE A ENCOMENDA Justin Bieber, o cantorzinho canadense de sucesso mundial imerecido, virou uma figurinha detestável em todos os lugares por onde tem passado. Foi preso recentemente em Miami Beach, na Flórida, por ter promovido um racha automobilístico com máquinas de altíssimo preço, em ruas de grande movimento. Suas fotografias de identificação policial mostram um tipinho bêbado e/ou drogado e, apesar ou por causa disso, ainda sorrindo. Há uma petição com milhares de assinaturas pleiteando tão-somente sua expulsão dos Estados Unidos. José Simão o apelidou de “danoninho rebelde”.
O BELAS ARTES/CAIXA Boa notícia a reabertura do Cine Belas Artes, na esquina da Consolação com a Paulista, depois de três anos de fechamento. Quem gosta de bom cinema, de filmes que vão muito além do sucesso determinado por razões comerciais, fica satisfeito com o retorno, só possível com o patrocínio da Caixa, que exigiu a inclusão de seu nome na denominação das recuperadas salas. Ninguém mais feliz, porém, do que o pipoqueiro da esquina famosa, que deu expediente ali durante trinta e dois anos e agora retorna todo confiante na fidelidade da clientela. * Não me lembro de nenhum pipoqueiro na porta do nosso Cine Pavilhão XV de Novembro, de saudosa memória. Quem atendia os frequentadores da velha casa com teto de zinco era o Mingo Baldo e sua sorveteria logo ali ao lado, com picolés de coco, creme e, principalmente, groselha.
MEXENDO EM VESPEIRO Não se tem notícia, ainda, do que deu o exame recente do exumado corpo do ex-presidente Jango Goulart, que alguns dizem ter sido assassinado por envenenamento. Em compensação, um advogado muito solerte já está de olho no resultado do DNA do finado e vai propor contra a família dele uma ação de reconhecimento de paternidade, porque há um cliente que se julga a cara do cujo e quer entrar no bolo da herança.
EFEITOS DO CALORÃO DE JANEIRO Parece que ninguém tem lembrança de um janeiro tão seco quanto este de 2014. O nível das represas baixíssimo e o consumo de energia elétrica, altíssimo. Grandes perdas na lavoura, com rápido reflexo no preço das coisas. De modo geral, a temperatura de diversas partes do País subiu uns três graus acima da média histórica. No dia 23 de janeiro, houve o recorde nacional de uso da energia: oitenta e três mil megawatts, seis vezes a capacidade máxima de geração da hidrelétrica de Itaipu.
AGRADECIMENTO Meu obrigado às pessoas que se têm manifestado a propósito do escrevo ou falo, seja neste jornal, seja no saojoseonline.com.br, seja ainda no facebook e no youtube.
01/02/2014
|